Na semana passada, o Nubank obteve aprovação da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para operar como uma mobile virtual network operator (MVNO) usando a infraestrutura da Claro; o serviço deverá entrar em operação no terceiro trimestre deste ano, segundo análise divulgada pela XP no domingo (19). Procurado, o Nubank se negou a comentar a informação.
A XP destaca que a entrada da empresa no setor de telecomunicações pode ser uma “virada de jogo” e significar um “cisne roxo”, uma referência ao termo “cisne negro”, que designa eventos financeiros imprevisíveis, mas que podem impactar diretamente o mercado.
“A justificativa estratégica para a entrada do Nubank neste mercado, além de ser um mercado endereçável relevante (R$ 100 bilhões no Brasil), está alinhada à estratégia do banco de replicar suas competências em novos mercados, aumentando a monetização de sua enorme base de clientes”, aponta o relatório, assinado por Bernardo Guttmann, head de Tech, Media e Telecom (TMT) e do setor Financeiro da XP; Marco Nardini, analista de Tech, Media e Telecom (TMT); e Matheus Guimarães e Rafael Nobre, ambos analistas do setor Financeiro.
Eles destacaram que o segmento de telefonia móvel possui algumas características semelhantes, com milhões de usuários, alta penetração e grande sinergia com a base de clientes do banco.
“Além disso, um maior engajamento por meio de uma proposta de valor de serviço completo tende a aumentar o ticket médio do cliente e a reduzir o churn. Essa estratégia de plataforma tem como diferencial a comodidade e praticidade para os clientes, que podem acessar diversos serviços em um só lugar”, acrescentaram os analistas.
“Eles visam todo o conjunto de receitas da indústria de telecomunicações mirando a sua parte justa, o que os torna um disruptor formidável”, indicaram Guttmann, Nardini, Guimarães e Nobre.
Para os especialistas, o banco desafiou as normas convencionais neste mercado com um modelo de contratação distinto, não baseado apenas na capacidade da rede, provavelmente envolvendo um acordo de partilha de receitas com o seu parceiro de telecomunicações; estratégia de execução diferenciada com menores custos de aquisição; e forte interação com o cliente e o canal de recarga.
“Como o Nu já atingiu 22% do mercado de recarga, acreditamos que o seu empreendimento MVNO [operadora móvel virtual] não começará do zero. Isto, combinado com uma obsessão pelo baixo custo do serviço, deverá permitir ao banco fazer ofertas atraentes”, salientaram os analistas.
Como resultado, a empresa poderia atingir cerca de 11 milhões de usuários pré-pagos e 7,5 milhões de usuários pós-pagos em três anos, capturando uma participação de mercado elevada de um dígito e gerando um valor presente líquido de US$ 655 milhões.
Mas, se para o Nubank isso pode ser uma enorme oportunidade, para os novos rivais é um risco. “Para TIM e Vivo, o impacto poderá ser significativo, com potencial perda de participação de mercado e redução de ARPU (receita média por usuário) devido à entrada de um player agressivo em preços”, aponta a XP.
Em uma escala de “remoto, possível e provável”, os analistas acreditam que é provável que ocorra algum nível de impacto para as empresas atuais: “Consideramos que a TIM pode ser um pouco mais afetada, devido à sua relevância no segmento pré-pago e à sua maior base de clientes no segmento de controle. A Vivo pode estar mais protegida no segmento pós-pago, devido aos seus pacotes de serviços, o que pode reduzir a propensão dos clientes a migrar”, completaram.