Mulheres ainda são minoria na tecnologia. Mas, se depender da empreendedora Iana Chan, 34, esse cenário há de mudar. Após sentir na pele a desigualdade que atinge as mulheres do segmento, a jornalista e programadora decidiu criar a PrograMaria, startup de impacto social que oferece cursos, oficinas, palestras e organiza eventos com o objetivo de profissionalizar e incluir mais mulheres na tecnologia.
Na trajetória de Iana, o interesse pelo tema começou logo cedo. Quando adolescente, aprendeu sozinha a fazer o design web de blogs que ela mesma criava. Apesar disso, a falta de referências femininas na área a fez pensar duas vezes antes de decidir trabalhar com programação. “Pensei: o que eu vou fazer no meio de um monte de homem? Então, acabei indo para o jornalismo”, lembra.
De acordo com o relatório Global Gender Gap, do Fórum Econômico Mundial, para cada cinco pessoas com diploma no setor de tecnologia da informação e comunicação (TIC), somente uma é mulher. Na mesma linha, pesquisa realizada pela plataforma de recrutamento Revelo mostrou que apenas 12% das vagas dedesenvolvedores de softwares são ocupadas por mulheres.
Já formada, Iana seguia carreira na comunicação quando decidiu investir no antigo sonho, o de estudar tecnologia. Em 2014, ela deu o pontapé inicial, como gestora de projetos no setor de TI da empresa em que trabalhava. Mesmo assim, algo ainda parecia fora de lugar — ela era a única mulher naquele ambiente.
“Tive uma sensação de não pertencer àquele espaço”, conta. Foi então que, juntamente com outras quatro amigas, ela decidiu criar um clube onde pudessem trocar informações, aprender mais sobre tecnologia e, o mais importante, se apoiar. Era o início da PrograMaria, que, anos depois, alcançaria a marca de 55 mil pessoas impactadas por seus eventos, além de 11 mil alunas inscritas nos cursos.
Uma ‘rede de apoio’ a mulheres da tecnologia
Segundo a CEO, o principal objetivo da PrograMaria é capacitar e mostrar para as mulheres que elas podem ocupar cargos na área de tecnologia.
Para isso, a startup se concentra em duas frentes: formação, com cursos onlines de programação para iniciantes, e engajamento e conexão com a comunidade.
A partir de palestras e projetos, em sua maioria gratuitos, a PrograMaria conecta mulheres a empresas do ramo. “Ao todo foram mais de 50 eventos, onlines e presenciais, como mentorias coletivas, apresentação de cases, jornadas de conteúdo, entre outros”.
Ministrados por mulheres, os cursos vão muito além do conhecimento técnico na área, segundo Iana. “Falam sobre temas como diversidade e insegurança. Queremos construir uma rede de apoio para as astronautas [apelido carinhoso dado às alunas]”.
‘O olhar de julgamento era nítido’: incluindo pessoas trans
Na seleção das bolsas, mulheres que estão em situação de vulnerabilidade social, trans, travestis e negras têm prioridade. “Não dá para falar em diversidade contando só com mulheres brancas e cisgênero. Queremos promover diversidade e isso impacta todas as nossas decisões, desde as instrutoras chamadas para ministrar os cursos até a seleção das bolsas”, afirma Iana.
Uma das beneficiadas pelas bolsas foi Úrsula Ariel, 35, mulher trans que, apesar do sonho de trabalhar com tecnologia, encontrou um mercado de trabalho cheio de barreiras. “Não conseguia emprego fixo. Sempre que tentava, o olhar de julgamento era nítido nos recrutadores”, conta.
Lara Castelo, Colaboração para Ecoa, em São Paulo (SP)