O termo cidades inteligentes, do inglês smart cities, não é novo – já existem, inclusive, diversas cidades no mundo consideradas alinhadas ao conceito e outras que caminham nessa direção. Olhando de forma localizada, notamos que o tema passou a ser discutido de forma mais acentuada na América Latina nos últimos anos, ao passo que tecnologias como o 5G, que ampliam as possibilidades de conexão e acesso à internet, começaram a ser implementadas em alguns países, pavimentando o caminho para o desenvolvimento tecnológico de áreas urbanas da região.

Apesar do interesse crescente no tema, muito ainda se questiona sobre sua relevância. Afinal, por que devemos pensar e cobrar das autoridades que invistam em cidades inteligentes?

Em primeiro lugar, é importante apontar que pensar e planejar uma cidade inteligente, ao contrário do que muitos possam imaginar, não significa uma evolução tecnológica e futurista simplesmente. Muito além da visão caricata, as smart cities são necessárias para o desenvolvimento sustentável do planeta. Para se ter uma ideia, nas últimas décadas, o número de pessoas vivendo em áreas urbanas em todo o mundo aumentou drasticamente, e a projeção é seguir crescendo. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a população mundial deve chegar a 10 bilhões de pessoas em 2050, 68% delas vivendo em cidades. Além disso, outro dado alarmante, da agência da ONU para refugiados, é que, a cada um segundo, uma pessoa é deslocada em razão de desastre ambiental.

Diante desse cenário, pensar em inovações que contribuam para a criação de ambientes prontos para acomodar a população de forma segura e sustentável é um desafio urgente e que deve pautar a agenda dos tomadores de decisão em todo o mundo. Isso é possível, por exemplo, com o uso de inovações como o gêmeo virtual. Em poucas palavras, trata-se de uma tecnologia que pode ser utilizada para criar uma representação virtual de toda uma área urbana, ajudando gestores a acompanhar o desenvolvimento da cidade, tornando-a mais inteligente e com melhor qualidade de vida para seus moradores.

Um exemplo efetivo da aplicação da tecnologia para o desenvolvimento de uma cidade inteligente é Rennes, a segunda área metropolitana que mais cresce na França, com uma população estimada em 450 mil habitantes. Por meio de uma plataforma específica para a criação de um gêmeo virtual, a cidade agora possui seu equivalente virtual (Rennes Virtual), que reúne diferentes fontes de dados em um único referencial, que é constantemente atualizado à medida que novos dados se tornam disponíveis, permitindo entender e prever melhor as necessidades da população.

Com este gêmeo virtual preciso e confiável, os administradores públicos, funcionários, moradores, empresas, parceiros de desenvolvimento, prestadores de serviços, entre outros membros de Rennes, podem simular, experimentar virtualmente e obter uma visão holística da evolução da cidade, além de colaborar em soluções urbanas sustentáveis para o enfrentamento de novos desafios sociais e urbanos.

Já pensou como seria se desde uma obra simples até um melhor fluxo do trânsito pudessem ser planejados com precisão na sua cidade? Isso ajudaria a melhorar a gestão dos recursos, diminuiria os riscos de acidentes ou imprevistos e, acima de tudo, contribuiria para a qualidade de vida da população.

Esse cenário já é uma realidade e está em andamento não só em Rennes, mas em outras regiões ao redor do mundo. Jaipur, na Índia, é outro caso de sucesso na implementação de um gêmeo virtual. Em 2018, mais de 1,8 milhão de turistas visitaram a cidade, que possui mais de 3 milhões de habitantes. E foi justamente visando conectar os administradores públicos em um único espaço digital para planejar, analisar e otimizar serviços e infraestrutura para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos e visitantes que Jaipur implementou a tecnologia, e hoje é considerada uma cidade inteligente.

Esses exemplos nos mostram que o conceito de smart city permite aos governos testar e planejar cenários com maior eficiência, transformando os atuais padrões de infraestrutura urbana complexos e, em grande parte, não planejados em espaços muitos mais conectados e sustentáveis. Importante também destacar que esse tipo de representação e planejamento virtual permite a continuidade de projetos, já que uma cidade com sua representação virtual carrega preciosos dados que servirão de base para que outras administrações possam entender as necessidades da população e prever os desafios futuros.

Diante disso, as cidades inteligentes são a resposta aos desafios urbanos que se impõem, sejam eles imediatos ou de longo prazo. E a tecnologia é uma grande aliada neste processo, ajudando a implementar o conceito de forma eficiente desde a base: planejando. Agora que viramos de ano, nossa torcida é para que os exemplos ao redor do mundo sirvam de inspiração e entrem para a agenda dos tomadores de decisão. Assim, poderemos debater e avançar com o tema na nossa região.

Por Luis Kondo