segunda-feira,25 novembro, 2024

Como soluções tecnológicas inovadoras podem nos ajudar a salvar o planeta Terra

“A era do aquecimento global terminou; a era da ebulição global chegou”, declarou António Guterres, secretário-geral da ONU, durante coletiva de imprensa em Nova York, no dia 3 de agosto, depois que os cientistas confirmaram que julho de 2023 havia sido o mês mais quente de que há registro na Terra. “As alterações climáticas estão aqui. São aterradoras. E isto é apenas o começo”, sentenciou. Outubro bateu novo recorde e foi considerado o mês mais quente da história. No Brasil, o mês de novembro trouxe a maior temperatura já experimentada no país, segundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia): 44,8 ºC, em Araçuaí, pequena cidade de Minas Gerais. Novembro também foi o mês em que a média da temperatura global ultrapassou pela primeira vez os 2 ºC acima dos níveis pré-industriais (1850-1900): no dia 17, ela chegou a 2,07 ºC, enquanto a meta ideal estabelecida pelo Acordo de Paris é 1,5 ºC. É verdade que esses recordes são turbinados pelo fenômeno El Niño, mas este, por sua vez, é potencializado pelo aquecimento global.

Um relatório divulgado pela ONU em setembro colocou no papel o que o mundo já adivinhava: nunca estivemos tão distantes de cumprir os compromissos assumidos por 195 países no Acordo de Paris, firmado em 2015 – que pretendia limitar o aumento da temperatura global a 1,5 ºC acima dos níveis pré-industriais. Para atingir as metas que hoje parecem impossíveis, seria necessário reduzir em 43% as emissões de gases de efeito estufa até 2030, e neutralizá-las completamente até 2050. Não conseguiremos chegar lá, marca o relatório, “sem que haja uma transformação radical em todos os setores da economia, o que deve incluir: estimular a energia renovável, eliminar o uso de combustíveis fósseis, cortar o metano e outros gases de efeito estufa, acabar com o desmatamento e melhorar a eficiência energética”. Como estão agora, os planos individuais dos 195 países levam a um assustador aumento de 2,6 ºC na temperatura global, o que conduziria a humanidade a um terreno totalmente desconhecido – e talvez inabitável.

Uma pequena amostra do que pode acontecer foi sentida em 2023, ano em que o mundo atingiu uma temperatura média global de 1,1 ºC acima dos níveis pré-industriais – e foi devastado por ciclones, tsunamis, tempestades tropicais, enchentes, ondas de calor, incêndios florestais e secas extremas. No Brasil, a Amazônia, região-chave para a redução das emissões de carbono e a manutenção do equilíbrio climático global – e para garantir as chuvas que sustentam o agronegócio e alimentam as hidrelétricas –, registrou em outubro a pior seca de que se tem notícia. O rio Negro, um dos principais da Bacia Amazônica, atingiu o nível de 13,2 metros, o mais baixo dos registros históricos desde 1902.

No mundo das climate techs, o senso de urgência se expressou em números. No que foi considerado pela Bloomberg como o melhor trimestre de captação de recursos em quase dois anos, as empresas de tecnologia climática atraíram US$ 16,6 bilhões em investimentos entre julho e setembro de 2023, um aumento de 63% em relação ao trimestre anterior. Os recursos foram para uma ampla gama de startups de descarbonização e de baixo carbono. A mesma tendência de alta se vê no mercado de títulos verdes, instrumento relevante para financiar a transição climática. Segundo a Climate Bonds Initiative, o mercado global de obrigações verdes e ligadas à sustentabilidade (SLB) movimentou US$ 3,46 trilhões durante o primeiro semestre do ano. Em novembro, o Tesouro brasileiro fez a sua primeira emissão de um título verde soberano no mercado internacional – a expectativa é que o Fundo Clima receba dinheiro vinculado à emissão, chegando a um total de R$ 10 bilhões.

Na COP 28 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas), que aconteceu no final de novembro e início de dezembro em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, o governo brasileiro anunciou que lançaria editais para financiar projetos da agenda climática no valor total de R$ 20,85 bilhões. As expectativas globais em relação à conferência eram muitas, especialmente no que se refere à redução da produção de combustíveis fósseis e ao corte de 50% nas emissões de metano até 2030, algo que já havia sido pré-acordado por 150 países antes mesmo do encontro. Até o fechamento desta edição, ao menos um acordo havia sido fechado, definindo que US$ 420 milhões serão encaminhados para um fundo que auxiliará países mais pobres e vulneráveis à crise do clima.

Longe das discussões sobre justiça climática, soluções tecnológicas inovadoras para tentar frear o aumento da temperatura global surgem com uma velocidade cada vez maior. Aqui, porém, é preciso fazer algumas ressalvas. Em primeiro lugar, nem toda inovação tem a capacidade de reduzir as emissões com a intensidade e a eficiência desejada; em alguns casos, as propostas podem até mesmo servir como “desculpa” para que as empresas continuem poluindo – essa é uma das maiores críticas feitas às startups de captura de carbono, por exemplo. Outra dificuldade está ligada à própria “novidade” das soluções: como ainda estão numa fase inicial, muitas delas não podem ser adotadas em escala, passo necessário para que tenham o impacto desejado. Por fim, é sempre importante lembrar que a tecnologia, sozinha, não será capaz de salvar o planeta. Para solucionar a emergência climática, é preciso fazer a transição para uma economia de baixo carbono, o que implica em reduzir ao máximo uso dos combustíveis fósseis e tirar mais proveito das fontes renováveis de energia – algo que ainda pode demorar um pouco.

Nada disso vai evitar, claro, que as grandes empresas, os investidores e os fundadores de startups sigam buscando a última novidade high-tech capaz de fazer a diferença – ou, em outras palavras, os novos “paraquedas coloridos” de Ailton Krenak, que poderão finalmente interromper nossa queda rumo ao caos climático.

Numa série de reportagens especiais de Época NEGÓCIOS, agrupadas na edição impressa de dezembro/janeiro e que serão publicadas no site nos próximos dias, você conhece algumas das soluções mais promissoras dos últimos tempos: biocombustíveis, hidrogênio verde em escala, sensoriamento remoto de emissões, eDNA de ecossistemas, fazendas eólicas e baterias de sódio são apenas algumas das 30 tecnologias que podem trazer inspiração e esperança para os anos que vêm por aí.

OS RECORDES DE TEMPERATURA GLOBAL ACENDEM O ALERTA DA EMERGÊNCIA CLIMÁTICA
Os registros de calor e frio intenso em diferentes partes do globo são uma amostra do que poderá acontecer caso as metas do acordo de paris não sejam cumpridas

Planeta em ebulição
Temperaturas globais medidas pelo modelo meteorológico CFSv2 em 28 de novembro de 2023 (em °C)

Temperaturas globais medidas pelo modelo meteorológico CFSv2 em 28 de novembro de 2023 (em °C) — Foto: Fontes: Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC); Relatório sobre a Lacuna de Emissões 2023 do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma); Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais);”Hydrogen for Net Zero” (2021), Hydrogen Council e McKinsey; “The net-zero transition”(2022)
Temperaturas globais medidas pelo modelo meteorológico CFSv2 em 28 de novembro de 2023 (em °C) — Foto: Fontes: Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC); Relatório sobre a Lacuna de Emissões 2023 do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma); Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais);”Hydrogen for Net Zero” (2021), Hydrogen Council e McKinsey; “The net-zero transition”(2022)

– 2,07 °C acima dos níveis pré-industriais: essa foi a temperatura média global em 17 de novembro, dia em que a Terra superou pela primeira vez os 2 ºC
– No Brasil: O mês de novembro trouxe a maior temperatura já experimentada no país, segundo o Inmet: 44,8 ºC, em Araçuaí, Minas Gerais (MG)
– G20: Nenhum país do grupo reduziu suficientemente suas emissões para atingir a meta de carbono zero em 2050
– 50% é a chance do planeta atingir ou ultrapassar, até 2040, a meta de 1,5 °C acima da era pré-industrial estabelecida pelo Acordo de Paris
– Hidrogênio: É preciso aumentar em dez vezes as produções anuais de hidrogênio verde e biocombustíveis nos próximos 30 anos: assim, poderão contribuir para reduzir as emissões de CO2 em 22%
– Zero emissões: Para que a meta seja alcançada, os volumes da produção de petróleo e gás devem diminuir em 55% e 70%, respectivamente, e a energia movida a carvão deve ser eliminada até 2050
– Combustíveis fósseis: A venda de carros a combustível deve zerar em 2050; enquanto isso, os carros elétricos devem sair dos atuais 5% das vendas totais para 100%, para acabar com as emissões
– US$ 9,2 trilhões por ano deve ser a média de gastos em tecnologia voltada à transição, o que inclui equipamentos e infraestrutura de energias renováveis, baterias e reciclagem, entre 2021 e 2050

ANOMALIAS CLIMÁTICAS SE INTENSIFICARAM EM 2023
Ciclo anual da Temperatura diária do ar na superfície terrestre (em ºC)

Ciclo anual da Temperatura diária do ar na superfície terrestre (em ºC) — Foto: Fonte: NCEP Climate Forecast System IMAGEM: ClimateReanalyzer.org, Climate Change Institute, University of Maine

Por Martina Medina e Amalia Safatle

Redação
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