Sucesso do Pix influencia na adoção de meios de pagamentos instantâneos na América Latina
Embora o Pix tenha completado três anos, sua concepção pelo Banco Central remonta a 2018. Criado em 16 de novembro de 2020, o modelo de pagamento instantâneo brasileiro sempre foi tratado pelo órgão regulador como uma política pública, que possibilita a inclusão de cidadãos desbancarizados e agiliza a vida financeira de milhões de pessoas com um serviço que funciona sem parar – 24 horas por dia, 7 dias por semana.
Segundo dados do Banco Central, os brasileiros movimentaram via Pix, em 2023, cerca de R$ 17 trilhões, o que representa um aumento de 57,8% comparado ao ano anterior, quando as movimentações totalizaram R$ 10,89 trilhões. Se tomarmos como referência as transações em 2021, o número triplica. Do início das operações até 31 de outubro de 2023, foram realizadas 66,5 bilhões de transações, o que reforça o sucesso do modelo disruptivo de pagamento instantâneo que tem influenciado outros países da América Latina.
O trinômio conveniência, segurança e eficiência impulsiona a demanda por pagamentos instantâneos em toda a região, levando os governos e as instituições financeiras a considerarem a modernização de seus sistemas de pagamentos. Na Colômbia, por exemplo, o Banco de la República utiliza o Pix como referência e adota, como no Brasil, uma postura de interlocutor do movimento de inovação com uma pauta em constante evolução. Modelos similares também acontecem no México e Peru.
Já em outros países como Equador e Uruguai, os bancos centrais têm um perfil mais regulador, deixando que as instituições financeiras definam entre elas a melhor maneira de se comunicarem para adoção do sistema de pagamento instantâneo, ecossistema que permite aos clientes compartilharem, de maneira segura, seus dados financeiros com terceiros em busca de produtos e serviços mais convenientes e com custos mais baixos em comparação com os métodos de pagamento tradicionais.
Na dianteira desse movimento, o Brasil mostra que um dos fatores de sucesso do Pix foi o compromisso do Banco Central em liderar o projeto e de trabalhar com as instituições financeiras e o setor privado de maneira colaborativa. Ao priorizar a inovação durante a concepção e implementação do sistema, o Pix garantiu interoperabilidade e permitiu que usuários de diferentes bancos realizassem transações entre si de forma simples e rápida, contribuindo para acelerar a adoção e a popularidade do modelo de pagamento instantâneo no país.
O avanço do P2P para o P2B
Se inicialmente o Pix se tornou a forma mais fácil de realizar operações entre pessoas físicas (P2P), ele também vem ganhando espaço como opção de pagamento de contas, tributos, serviços e produtos. Em dezembro de 2020, as transações de pessoas físicas para pessoas jurídicas (P2B) representavam apenas 6% do total de operações do Pix, contra 85% de transações entre pessoas físicas. Segundo o Banco Central, em setembro de 2023, ou seja, quase três anos após o lançamento do sistema de pagamento instantâneo brasileiro, as transações entre pessoas e empresas saltaram para 34% do total, enquanto a fatia P2P caiu para 56%.
Esse movimento mostra que o Pix passou por três ondas no Brasil: a primeira delas era a transferência imediata de dinheiro para amigos e familiares; a segunda, que ocorreu entre 2021 e 2022, contemplava também as operações com pequenos comércios, que passaram a aceitar pagamentos via Pix; a terceira veio com a adoção do sistema por grandes varejistas e concessionárias de serviço público. Hoje, por exemplo, o pagamento de impostos como IPVA e IPTU podem ser realizados via Pix. O método de pagamento proporciona não apenas a agilidade na transação, mas também a possibilidade de conquistar descontos, dependendo do tributo.
A evolução do Pix no Brasil certamente servirá de exemplo para outros países da região. Observa-se, inclusive, uma crescente colaboração e troca de experiências entre os países latino-americanos com o intuito de estabelecer padrões regionais para os pagamentos instantâneos. A ideia é que os protocolos de interoperabilidade facilitem a integração entre os diferentes sistemas de pagamentos instantâneos como forma de promover a inclusão financeira e fomentar o ecossistema financeiro regional. Tudo isso baseado em inovação tecnológica e na criação de um arcabouço regulatório que promova a segurança e a eficiência dessas transações em constante evolução.
De forma geral, o sistema de pagamento instantâneo brasileiro mostra o quanto estamos na vanguarda da inovação financeira, permitindo ao país exportar tecnologia e conhecimento que poderão ser replicados em outros países. A utilização da Inteligência Artificial e de modelos conversacionais dará um impulso ainda maior aos serviços financeiros do futuro, que deverão integrar Pix, Open Finance e Real Digital para garantir mais eficiência e segurança nas transações. Embora esteja na fase inicial – são apenas três anos –, o Pix tem uma capacidade inequívoca de estimular a criatividade e a diversificação dos negócios, emergindo como um catalisador fundamental na redefinição do setor financeiro em toda a América Latina.
Fonte: Época Negócios