sábado,23 novembro, 2024

O júri do metaverso

Foram 35 horas de tribunal do júri, talvez o maior daquela cidade interiorana. O processo estampava uma disputa entre facções. Os jovens matadores teriam deixado a Capital para matar; e, inclementes, mataram. O estrépito das balas substituiu o verso na “Terra dos Poetas”.

A “liderança” era um jovem empobrecido no enredo da guerra às drogas. Os réus sentiam os efeitos da prisionização, os que não eram ban(d)idos já estavam ambientados à realidade desumanizada. Trancar e deixar lá dentro, dizia um dos acusadores. Para a defesa, havia a necessidade de compreender o encarceramento em um país de racismos e desigualdades estruturais. “Prender e jogar a chave fora” trouxeram consequências impremeditadas: mais crimes, medo difuso etc.


Depois da sentença, bastaram ligeiros ctrl+x e ctrl+v para que os réus retornassem a suas realidades

Os réus pareciam habitar um campo ficcional. Para eles, os atores jurídicos é que talvez fossem os verdadeiros personagens fictícios.

justiça criminal do metaverso não assombrava os ban(d)idos simplesmente porque estavam imersos em uma realidade virtual ignorada. Talvez por isso que, lá pelas tantas, a “liderança” tenha escarrado no plenário. Alguns o reputaram como um bárbaro achincalhando o ritual do júri. Alguém que cospe em um dos templos da civilização merece a mais dura das penas, pensaram eles.

Talvez ele não estivesse no plenário, quem sabe o miserável mandante, há anos encarcerado, não passasse de um amontoado de bytes algoritmicamente posicionado no fórum, apenas um avatar construído em ruas esburacadas.

Depois da sentença, bastaram ligeiros ctrl+x e ctrl+v para que os réus retornassem a suas realidades, enquanto nós consumávamos outra ficção. As nuvens plúmbeas trouxeram uma real tempestade para a realidade ficcional das togas elegantes.

Instalados numa distopia fixada na dúvida que emerge no escarro do barbarizado pelos hipercivilizados, segregados em regras elitistas que reforçam a instransponível desigualdade, ficamos sem resposta para a questão: o que é real ou ficcional no mundo das misérias humanas?

Redação
Redaçãohttp://www.360news.com.br
1º Hub de notícias sobre inovação e tendências da região Centro-Oeste e Norte do Brasil.

LEIA MAIS

Recomendados