O espaço tem sido cada vez mais usado para fazer pesquisas relacionadas ao câncer. O que acontece é que a fraca força da gravidade (ou microgravidade) coloca as células sob estresse, fazendo com que envelheçam mais rapidamente. Isso permite que os cientistas analisem a progressão do crescimento dos tumores, e também os efeitos dos tratamentos em prazos mais curtos do que na Terra.
O último experimento do tipo foi realizado por uma equipe da Universidade da Califórnia, dos Estados Unidos, liderada pela hematologista Catriona Jamieson. Os pesquisadores enviaram para a Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês), através de voo realizado pela SpaceX, organoides tumorais em miniatura produzidos a partir de células de pacientes com câncer de mama.
Jamieson explicou à Fortune que, quando o câncer progride sob estresse, isso se deve em parte a um gene de clonagem que ele ativa, conhecido como ADAR1. Em missões anteriores, ela e seus colegas notaram que minitumores enviados para o espaço ativavam o gene antes de triplicarem de tamanho em apenas 10 dias.
Na missão atual, os minitumores enviados foram tratados com dois tipos de medicamentos anticâncer que bloqueiam o ADAR1 de maneiras diferentes. Um deles é o fedratinib, que já foi aprovado pela Food and Drug Administration (FDA) para o tratamento de cânceres do sangue, mas não de massas sólidas.
O outro é um medicamento experimental desenvolvido pelos cientistas da Universidade da Califórnia. Chamado rebecsinib, ele bloqueia a ativação do ADAR1 impedindo-o de gerar proteínas malignas.
Até agora, os pesquisadores descobriram que esse tratamento inibe significativamente o crescimento do câncer e é ainda mais eficaz do que o fedratinib. “Basicamente, está impedindo que o câncer de mama se auto clone”, comentou Jamieson, acrescentando que o rebecsinib pode ser um “interruptor mortal para o câncer”.
A partir destes resultados, a expectativa é que o medicamento seja liberado para ensaios clínicos na Terra até o final do ano. “Quando vemos dados como estes, pensamos que é nossa responsabilidade levá-los à clínica”, observou a hematologista. “Não é apenas uma esperança desenfreada, é uma esperança prática.”
Por Renata Turbiani