A maior feira de tecnologia do mundo dá sinais do que vai estar nas nossas vidas em breve e, mais do que nunca, essa é uma discussão que não dá pra escapar
Se você nunca ouviu falar da CES de Las Vegas, muito provavelmente você não é dos mais ligados em tecnologia. Pra gente que ama o assunto, a CES é tipo a Disney. E não é exagero dizer isso. É o lugar onde tudo é (quase literalmente) mágica, juntando o que de mais novo o ano que está começando tem pra oferecer em termos de novas tecnologias pra hoje e para as próximas décadas.
Esse é o tipo de evento que precisa ser visto com um olhar lógico: é ali que vão estar os próximos passos da nossa evolução como humanidade. Não, não é exagero dizer isso num momento em que a tal da tecnologia já dominou absolutamente todos os segmentos da sociedade e que só a inteligência artificial deve injetar por ano mais de US$ 4,4 trilhões na economia mundial. Isso é praticamente tudo que a Alemanha produz em um ano inteiro, é mais que o PIB até do Japão.
Ou seja, não existe um único setor produtivo que sobreviva hoje sem tecnologia. Absolutamente todos os países do planeta, em maior ou menor grau, dependem das evoluções tecnológicas pra continuarem sendo competitivos no cenário gringo ou aumentarem essa competitividade. O capitalismo é feito de escala. E não se consegue ganho constante de escala e de eficiência sem tecnologia e, mais recentemente, sem a implantação de soluções com inteligência artificial.
Parece até esquisito analisar tudo isso sob o ponto de vista do nome da feira. CES é a abreviação de “Consumer Electronics Show”, algo como “Show dos Eletrônicos pra Consumidores”. Mas quando foi a última vez que você ouviu alguém falando: “preciso te mostrar o eletrônico que eu comprei lá pra casa?” Não, né?! É por isso que, hoje, faz muito sentido a sigla ser infinitamente mais forte que o nome. Três letras que viraram sinônimo de futuro, mas que chegaram no mercado num distante ano de 1967 em Nova York mostrando, por exemplo, as últimas tendências do que naquele momento eram os super modernos rádios de bolso. Mas logo, década atrás de década, tudo foi evoluindo, se reinventando.
Nos anos 70, a CES mostrou o videocassete caseiro – que levou o cinema pra dentro das casas – e o Atari, que popularizou o mercado de videogames, hoje maior que o do próprio cinema.
Os anos 80 já tinham o computador pessoal e mostraram na CES o brilho do CD, além do primeiro console de videogame da Nintendo para o mercado americano.
Na década de 90, os jogos de videogame viram discos, nasce o PlayStation, o DVD e as primeiras TVs de plasma.
Os anos 2000 trazem a força da fotografia digital, os primeiros cartões de memória, o iPod, iPhone, o Xbox, as TVs de LCD, OLED, conexão HDMI e o Blu-ray.
A partir de 2010, o smartphone e o tablet já começavam a ficar comuns, todo mundo achava que as TVs 3D eram a grande tecnologia da década (bobinhos). No miolo da década, apareceram os smartwatches. A CES de 2018 tinha até strippers robóticas, por mais bizarro que isso possa parecer, eu sei. Os carros e veículos industriais já começavam a aparecer como “sinônimo” de tecnologia.
Em 2020, as discussões sobre carros voadores faziam a gente chegar cada vez mais perto dos Jetsons, mas a pandemia de Covid-19, claro, atrapalhou muito tudo que é evento no mundo.
Dito isso, a CES é necessária porque quem dita esses próximos passos tá ali. Hoje, são mais de inacreditáveis 4 mil expositores disputando a atenção de 130 mil pessoas. Se cada visitante fosse bisbilhotar só um único expositor, isso daria pouco mais de 30 visitantes por estande. Mas como todo mundo quer ver e conhecer o máximo possível de novidades, se organizar direitinho, todo mundo é visto. Mas alguns são bem mais vistos que outros, claro. E a edição de 2024, como sempre, está um absurdo de interessante, e até um pouco assustadora pra algumas pessoas.
A Samsung e a LG tão mostrando TVs com tela transparente que devem começar a ser vendidas já, já. Tudo isso numa mesma casa onde a máquina de café em cápsula pode ser substituída por uma de drinks em cápsula. Sim… bebida alcoólica de bar em cima do rack da sala no apertar de um botão. Se ficar bêbado, tem que ficar longe do equipamento da Universidade de Sydney, que transforma pensamentos em textos. Se beber e for sair de casa, não dirija, vai no banco de carona, quem sabe, conversando com o sistema da Volks, que transformou o ChatGPT em Alexa no multimídia do carro. Quer dizer, dá pra ir conversando com uma inteligência artificial generativa, que vai criando respostas autorais na hora, em vez de só repetir aquilo que foi programado por alguém.
Esses são só alguns exemplos práticos e didáticos, tem muito, muito mais coisa inacreditável acontecendo por lá. Esse texto é muito menos sobre as novidades em si e mais pra que a gente reflita sobre o momento da tecnologia que está fazendo tudo se fundir, tipo no anúncio da Sony lançando um carro com a Honda.
Esses movimentos aparentemente estranhos não são de hoje, tá?! Afinal, não sei se você sabe, mas a Samsung começou lá atrás como uma empresa que vendia peixe seco e vegetais, e hoje é o que é. Pois é, a tecnologia tem dessas coisas. Ela é meio aquele parente que vive dentro da sua casa e participa do seu dia-a-dia. Mesmo que você não goste dele ou não queira papo, ele está sempre à disposição. Às vezes, dá uma mancada, pode até te deixar na mão vez por outra, mas, no fim das contas, ele faz parte da sua vida. Viver em desarmonia, nesse caso, é uma escolha. Mas aí eu te pergunto: Não é melhor tentar ter boa vontade com o novo e ganhar a chance de ter uma vida mais prática e em paz? Até mesmo porque o seu parente, um dia, pode até ir embora… mas a tecnologia, definitivamente, não! Com essa, queira você ou não, o casamento é até que a morte os separe.
Fonte: CNN Brasil