Um dos maiores desafios das organizações tem sido manter viva nos funcionários a vontade de estar presente e atento

Imagine uma biblioteca interminável, com prateleiras se estendendo até o horizonte. Ali, cada livro representa um pensamento ou ideia que pode ser interessante ler e, nesse caso, todos estão competindo por sua atenção.

Mas, para se deixar ser capturado por um único livro, é preciso se dedicar a folhear páginas e caminhar sem pressa, de estante em estante, sentindo o aroma das páginas e assimilando os diversos gêneros.

O lado bom dessa prática, hoje considerada “vintage”, é que, apesar de terem muitos exemplares hackeando sua atenção, o seu foco ainda permanece em encontrar uma boa história.

PESQUISAS DEMONSTRAM QUE AS PESSOAS CONSEGUEM SE MANTER FOCADAS EM UMA TELA POR MEROS 47 SEGUNDOS, EM MÉDIA.

Fora desse ambiente, no entanto, a realidade é diferente, já que reina a economia da atenção – uma batalha pelo foco das pessoas em um mundo em que há uma sobrecarga de informações e estímulos.

Quando mergulhamos profundamente em uma atividade, como um leitor imerso em um livro fascinante, experimentamos o hiperfoco, onde o mundo ao nosso redor desaparece e estamos completamente absorvidos pela leitura.

No entanto, no cotidiano marcado por redes sociais, infinitas demandas e uma vida inteira para gerenciar, em um piscar de olhos podemos ser arrancados desse estado de imersão por pensamentos ansiosos que levam à procrastinação de atividades que precisam ser realizadas.

Créditos: SDI Productions/ Misha Shutkevych/ iStock,

No conceito de VUCA, termo popularizado no final da década de 1980 pelo exército dos Estados Unidos para descrever o ambiente em constante mudança e imprevisível que as forças militares estavam enfrentando, principalmente após o fim da Guerra Fria, aprende-se que a natureza dos fatos é marcada por volatilidade (volatility), incerteza (uncertainty), complexidade (complexity) e ambiguidade (ambiguity).

Adotado posteriormente em contextos de negócios e gestão, hoje o VUCA diz muito sobre a necessidade de aprender a lidar com essas características nos ambientes onde o foco significa alcance de metas e sucesso.

FOCO É A HABILIDADE DE CONCENTRAR-SE EM UMA DEMANDA QUE, QUANDO BEM FEITA, GERA UM EFEITO CASCATA DE BONS RESULTADOS.

Com a mesma ideia de hackeamento de atenção, o conceito mais recente é o BANI – frágil (brittle), ansioso (anxious), não-linear (nonlinear) e incompreensível (incomprehensible) –, que descreve o quão mais desafiador é para indivíduos e organizações concentrarem sua atenção em tarefas e objetivos específicos.

Introduzido por Rishad Tobaccowala, um estrategista de negócios e autor de “Restoring the Soul of Business: Staying Human in the Age of Data” (Restaurando a alma do negócio: continuando humano na era dos dados, em tradução livre), o termo prova reflexões sobre caminhos para navegar em um mundo digital em constante evolução, mas que nem sempre auxilia pessoas e empresas a alcançar a alta performance por falta de hierarquização de prioridades.

ERA DA INFOXICAÇÃO

De forma previsível, o resultado de toda essa instabilidade está na infoxicação. O neologismo criado pelo autor e sociólogo espanhol Alfons Cornellà há três décadas retrata a sobrecarga de informações a que somos expostos diariamente, tornando difícil, ou mesmo impossível, processar tudo de maneira eficaz.

Nos dias atuais, de acordo com a psicóloga norte-americana Gloria Mark, houve um declínio drástico do tempo médio que uma pessoa consegue manter sua atenção em uma tela. Em 2004, esse período era de aproximadamente dois minutos e meio. No entanto, em anos subsequentes, esse tempo de atenção encolheu para cerca de 75 segundos.

UMA DAS SOLUÇÕES POSSÍVEIS É CRIAR UM AMBIENTE ORGANIZADO, COM POUCAS DISTRAÇÕES VISUAIS E SONORAS E COM POUCO ACESSO A DISPOSITIVOS NÃO RELACIONADOS AO TRABALHO.

Atualmente, pesquisas demonstram que as pessoas conseguem se manter focadas em uma tela por meros 47 segundos, em média. Essa pesquisa lançou luz sobre o conceito de hiperfoco, tão raro e almejado por humanos que lutam contra a robotização das ações.

Nesse cenário, as empresas e plataformas competem para manter o nosso foco, raptado por notificações constantes, algoritmos de recomendação que nos puxam para dentro de um ciclo de rolagem infinita e conteúdo altamente cativante, mas que nada tem a ver com as planilhas e demais atividades empresariais.

Em uma breve busca no dicionário, descobrimos porquê essa pequena palavra de quatro letras é tão importante não só nos negócios, mas na vida: o foco é a habilidade de concentrar-se em uma demanda que, quando bem feita, motiva e gera um efeito cascata de bons resultados.

No mundo dos sonhos, o hiperfoco é a característica almejada. Você já perdeu a noção do tempo ao devorar 100 páginas de um livro novo, se imaginando presente nos cenários ali descritos e criando sentimentos pelos protagonistas e antagonistas da história? Pois bem, nesse momento você esteve hiperfocado. 

HIPERFOCO PRECISA SER ESTIMULADO

Para conquistar essa disciplina, é necessário um trabalho de estímulo. Uma pesquisa da agência internacional One Poll, encomendada pela Office Freedom, revela que o pico de produtividade dos funcionários de escritórios ocorre das 10h22 às 13h27, com uma queda significativa às 14h06.

Essa variação na produtividade pode ser um obstáculo para muitos, tornando a manutenção da concentração uma tarefa árdua durante toda a jornada de trabalho. Além disso, a pesquisa destaca a importância da interação social e do contato com colegas no desempenho no escritório, com 54% das pessoas preferindo o ambiente de trabalho em comparação com o trabalho em casa.

SE RECONECTAR CONSIGO MESMO PODE SER UM PODEROSO REMÉDIO PARA A DISTRAÇÃO.

Para aqueles que não optam pelo trabalho remoto, alguns apontam desafios no trabalho presencial, como ruídos, temperatura ambiente e interrupções dos colegas, que prejudicam sua capacidade de manter o foco e o tão necessário hiperfoco para alcançar metas e objetivos de trabalho.

Essa situação não prejudica somente o desempenho no mercado de trabalho e a performance em uma sociedade baseada na produtividade, mas também está diretamente ligada a questões cognitivas e comportamentais dos seres humanos em qualquer área. 

Crédito: Atlas Company/ Freepik

Por isso, um dos maiores desafios das organizações tem sido manter reavivada no trabalho a vontade de manter-se presente e atento, como quando se busca um livro novo em meio a um mar de letras.

Sem receita de bolo, uma das soluções possíveis é criar um ambiente organizado, com poucas distrações visuais e sonoras. Isso inclui minimizar o acesso a dispositivos digitais não relacionados ao trabalho.

Para qualquer âmbito da vida, a iniciativa de estabelecer metas específicas e definir prioridades claras para orientar o trabalho pode ajudar a encontrar o sul, porque o norte não tem funcionado.

INFOXICAÇÃO É A SOBRECARGA DE INFORMAÇÕES A QUE SOMOS EXPOSTOS DIARIAMENTE, TORNANDO DIFÍCIL PROCESSAR TUDO DE MANEIRA EFICAZ.

Também sem muito mistério, metodologias de concentração desenvolvidas por estudiosos são capazes de engajar. Uma delas é a técnica Pomodoro, que consiste em dividir o dia em blocos de trabalho, intercalando com pausas estratégicas.

Para além dos conceitos teóricos, se reconectar consigo mesmo pode ser um poderoso remédio para a distração. Nesse ponto, a meditação e uma boa noite de sono longe das telas – que insistem em enviar notificações – podem aprimorar a capacidade de concentração ao longo do tempo e reduzir o desgaste da sensação de urgência a cada “bip”.

Lembre-se, se tudo é urgente, nada é urgente. 

O foco é mais do que apenas um estado mental; é um “despertar” que libera todo o seu potencial e criatividade quando você domina o controle de sua atenção tomando as rédeas do seu tempo e, consequentemente, da sua vida.

Texto: Genesson Honorato