Equivalentes às florestas tropicais, os recifes de corais suportam 30% da vida no oceano

Neste dia 2 de dezembro, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente lançou oficialmente o 2030 Coral Reef Breakthrough, um marco na ação global para salvar o ecossistema mais ameaçado do mundo, que inclui as primeiras metas mundiais para ações em recifes de coral e compromissos financeiros de líderes públicos e privados.

O mundo perdeu 14% dos corais nos recifes desde 2009 e, segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), um aquecimento global de 1,5 ºC significa a perda de 70 a 90%, chegando a 99% se a temperatura alcançar 2ºC. Cobrindo menos de 1% do fundo do oceano, os recifes são fundamentais para 30% da vida marinha. Com as pressões cada vez mais intensas das mudanças climáticas, é preciso acelerar os recursos e as ações para interromper as causas de declínio locais e globais e dimensionar soluções econômicas que permitam a sobrevivência e a recuperação de recifes de coral resilientes em escala global.

O Coral Reef Breakthrough visa a garantir o futuro de pelo menos 125 mil km² de recifes de corais tropicais de águas rasas com investimentos mínimo de US$12 bilhões para apoiar a resiliência de mais de 500 milhões de pessoas em todo o mundo até 2030. Os avanços foram desenvolvidos em colaboração com os Campeões de Alto Nível das Alterações Climáticas das Nações Unidas (HLCC), a Iniciativa Internacional dos Recifes de Coral (ICRI) e o Fundo Global para os Recifes de Coral (GFCR), com o apoio do governo da Suécia e do principado do Mônaco.

“Esses avanços trarão mais granularidade, responsabilização e transparência na realização dos nossos objetivos, além das metas existentes, como as NDCs e os ODSs. É uma virada de jogo, porque os avanços identificam onde é necessária maior coordenação e colocam a ciência na base da ação”, afirmou Susan Gardner, diretora da Divisão de Ecossistemas do PNUMA, na abertura do painel, acrescentando que a diversidade de vozes – grupos indígenas, jovens e comunidades tradicionais, com seu conhecimento ancestral – é fundamental para ajudar a orientar a tomada de decisões.

Letícia Carvalho, oceanógrafa brasileira e chefe da Seção Marinha e de Água Doce do PNUMA, mediadora do painel, anunciou que a Coalizão GFCR já mobilizou um montante inicial de US$200 milhões para as metas do Coral Reef Breakthrough, vindos de doadores e investidores, incluindo Bloomberg Philanthropies, Builders Vision, Minderoo, Fundação, Fundo Verde para o Clima, além dos governos da França, Canadá, Reino Unido e Estados Unidos.

O painel de lançamento contou com a participação de Ana Paula Prates, diretora de Oceanos e Gestão Costeira do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima do Brasil; Steven Victor, ministro da Agricultura, Pesca e Meio Ambiente de Palau; Lynda Tabuya, ministra de Mulheres, Crianças e Proteção Social de Fiji; e Andrew Mitchell, ministro de Estado no Exterior, da Commonwealth e Escritório de Desenvolvimento do Reino Unido.

Susan Gardner, diretora da Divisão de Ecossistemas do PNUMA; Steven Victor, ministro da Agricultura, Pesca e Meio Ambiente de Palau; Lynda Tabuya, ministra de Mulheres, Crianças e Proteção Social de Fiji; Andrew Mitchell, ministro de Estado no Exterior, da Commonwealth e Escritório de Desenvolvimento do Reino Unido; Ana Paula Prates, diretora de Oceanos e Gestão Costeira do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima do Brasil; Letícia Carvalho, oceanógrafa brasileira e chefe da Seção Marinha e de Água Doce do PNUMA — Foto: Letícia Klein
Susan Gardner, diretora da Divisão de Ecossistemas do PNUMA; Steven Victor, ministro da Agricultura, Pesca e Meio Ambiente de Palau; Lynda Tabuya, ministra de Mulheres, Crianças e Proteção Social de Fiji; Andrew Mitchell, ministro de Estado no Exterior, da Commonwealth e Escritório de Desenvolvimento do Reino Unido; Ana Paula Prates, diretora de Oceanos e Gestão Costeira do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima do Brasil; Letícia Carvalho, oceanógrafa brasileira e chefe da Seção Marinha e de Água Doce do PNUMA — Foto: Letícia Klein

Abrindo o painel, Ana Paula citou como o Brasil é conhecido pela biodiversidade do seu ambiente marinho, incluindo a maior área de manguezal contínua no norte do país e o único ecossistema de recifes de corais no Atlântico Sul. “Os corais estão na transição entre a floresta caribenha e a amazônica, sob pressão da exploração de combustíveis fósseis. Devido à liderança do Brasil na intersecção entre mudanças climáticas e oceanos, decidimos criar o departamento de oceanos e gestão costeira no ministério, que tem trabalhado para incluir o oceano de forma permanente e integrada na política nacional de mudanças climáticas”, afirma Ana Paula. O departamento está atualmente elaborando a estratégia nacional de conservação dos recifes de coral e estabelecendo uma rede nacional de monitoramento dos recifes. Enquanto próximo presidente do G20, o país também se uniu à Plataforma Aceleradora de Pesquisa e Desenvolvimento de Corais (Cordap).

Como membro do ICRI, desde 2006, o Brasil contribuiu para a elaboração do 2023 Coral Reef Breakthrough. “Estamos incentivando que o documento seja aprovado na próxima Assembleia geral da ONU, em Nairóbi, no ano que vem. Essa iniciativa de arrecadação de fundos é de forte interesse para nós, porque precisamos muito de recursos para trabalhar no futuro. Já trabalhamos com proteção e conservação há bastante tempo, fazendo o monitoramento desde 2000 com o Reef Check Brasil, por exemplo, mas só recentemente começamos a trabalhar com questões de restauração em alguns projetos.

Em sua fala, o ministro Steven Victor inspirou outros países a seguirem o exemplo de Palau, que protege 30% dos seus recifes de corais com base em legislação nacional criada há mais de 20 anos. “A questão financeira é difícil, há um limite para o que podemos fazer, mas temos ajuda da comunidade internacional, compartilhando fracassos e sucessos. Se falharmos rápido, aprenderemos rápido. Precisamos agir juntos, o tempo não está mais do nosso lado.”

Em Fiji, conforme comentou Linda Tabuia, está a terceira maior barreira de recife contínua do mundo. “Em nosso país, os corais são vistos como os protetores de Fiji, servindo de escudo contra a fúria das tempestades, ancorando a segurança alimentar e sustentando o estilo de vida de uma parte significativa da nossa população. A resiliência dos recifes de coral tornou-se sinônimo da resiliência das pessoas. Apelamos às entidades e instituições privadas doadoras para doarem, o valor é viável. Este é um caminho para não ser trilhado sozinho, pois nossos recifes locais estão globalmente conectados”.

Por fim, Andrew Mitchell, comentou sobre o Blue Planet Fund, programa de 500 milhões de libras do governo britânico que apoia os países em desenvolvimento na proteção do ambiente marinho e redução da pobreza, sendo um dos objetivos o de salvaguardar 30% dos oceanos até 2030. “Estou feliz em anunciar que a Grã-Bretanha está endossando o Coral Reef Breakthrough. Nosso país é o maior doador do fundo global, investindo 33 milhões de libras entre 2021 e 2025. Também nos comprometemos a duplicar nosso financiamento climático internacional para 11,6 bilhões de libras, gastando pelo menos um terço desse valor na natureza e em soluções baseadas na natureza, incluindo manguezais e recifes de corais.” As águas do Reino Unido abrigam 5 mil km² de corais, a 12ª maior área de recifes de coral do mundo.

Esta história foi produzida como parte da Climate Change Media Partnership 2023, uma bolsa de jornalismo organizada pela Earth Journalism Network da Internews e pelo Stanley Center for Peace and Security.

Texto: Leticia Klein, de Dubai, para o Um Só Planeta