Com o canal Caseirices, no TikTok, Lara Haddad atraiu o interesse de grandes marcas e já teve postagem com mais de 20 milhões de views
Pelas mãos da designer Lara Haddad nascem todos os dias milhares de peças para um mundo formado por miniaturas. A empreendedora paulistana de 42 anos é dona do perfil Caseirices, presente em diversas redes sociais, no qual compartilha vídeos mostrando como transforma produtos básicos do dia-a-dia em réplicas pequeninas. Os objetos parecem brinquedos infantis, mas acabam encantando majoritariamente o público adulto. Só no TikTok, o conteúdo é acompanhado por 2,5 milhões de seguidores e já recebeu mais de 50 milhões de curtidas.
A identificação dos adultos com as miniaturas faz com que Haddad seja uma colecionadora de vídeos virais. O mais recente, postado neste mês, tem mais de 1 milhão de visualizações e mostra o processo de criação de minipacotinhos de balas Fini. O alcance, porém, é modesto. No seu vídeo mais assistido, publicado em 2021, ela compartilhou com os seguidores a criação de um minidetergente de lavar louças e recebeu 21 milhões de views.
“Eu acho [que isso acontece] porque as miniaturas remetem ao nosso passado de verdade. A gente viveu muito mais isso de fazer miniaturas do que uma criança de hoje. E a miniatura não é só infantil, ela é arteterapia também”, afirma Haddad. “Isso é o nosso sonho do passado.”
Os materiais utilizados para dar forma aos objetos que realizam esses sonhos chamam a atenção pela simplicidade. Além de massas de modelar e tintas, a designer utiliza tampas, fios, potes plásticos, blisters de comprimido, canudos ou qualquer material descartável que possa inspirar novas peças. Como não são feitos para serem comercializados, todos os produtos ficam guardados em um acervo na própria casa da artista. “Um quarto só não dá para guardar tudo. Digamos que [toda] a minha casa é para as miniaturas”, diz.
Minimercado
Há um ano, ela está concentrada em montar um supermercado usando apenas miniaturas. Até agora, 3 mil peças já foram feitas. Além de frutas, verduras, carnes e queijos, ela tem produzido réplicas de refrigerantes, produtos de limpeza e higiene, utensílios domésticos e outras mercadorias geralmente comercializadas nesses espaços. Para manter a semelhança com os originais, ela utiliza recortes de jornais de ofertas para fazer embalagens e rótulos.
A adesão do público aos conteúdos elaborados para a montagem do mercado acabou atraindo também o interesse de grandes marcas, com propostas de parcerias pagas. De acordo com Haddad, empresas como Ambev, Will Bank, Americanas e Ontex já tiveram seus produtos transformados em miniaturas para conteúdos publicitários nas redes sociais e para integrar o mercadinho em construção.
As gravações e criações feitas para as marcas seguem um processo parecido com o adotado em conteúdos não pagos, afirma Haddad. Os vídeos são narrados por ela e editados para serem curtos. Nos bastidores, ela chega a fazer entre 6 e 50 horas de filmagens para gerar 1 minuto do vídeo que segue para a postagem final. A empreendedora não revela o faturamento obtido com seu trabalho, mas conta que hoje a principal fonte de renda são as redes sociais.
Dedicação
A produção para a internet já lhe rendia frutos antes do boom dos aplicativos, quando criou em 2014 o canal Caseirices no YouTube, inicialmente voltado para crianças. Com o advento das outras plataformas digitais, viu seu público mudar e se ampliar, e as possibilidades de viver dedicada apenas ao ambiente virtual crescerem. “Foram dois três anos de trabalho em paralelo até eu ter a segurança de largar o meu trabalho para ficar nas redes sociais.”
Para a carreira, a designer deve manter a produção que cativou os seguidores e não planeja vender as peças, que devem aparecer apenas para apreciação à distância. “Eu nunca comercializei as miniaturas porque, como elas são artesanais, eu não tenho como suprir essa demanda. E eu acho importante que elas sejam assim porque essa é a graça do meu trabalho. Eu sou muito realizada como o que eu faço.”
Texto: Pegn