Uma ação conjunta de 41 estados dos EUA acusa a Meta de explorar ferramentas que eram prejudiciais à saúde mental e física de jovens

Plataformas da Meta (Instagram e Facebook, por exemplo) projetaram ferramentas que exploram vulnerabilidades conhecidas nos cérebros de usuários jovens. É o que consta em documentos internos da empresa, aos quais o jornal Wall Street Journal teve acesso.

Para quem tem pressa:

  • Documentos internos da Meta, obtidos pelo Wall Street Journal, revelam que a empresa projetou ferramentas explorando vulnerabilidades em cérebros jovens para viciá-los nas redes sociais;
  • Os documentos fazem parte de uma ação coletiva envolvendo 41 estados dos EUA contra a Meta, acusando a empresa de prejudicar a saúde mental e física dos jovens com práticas nocivas em suas plataformas, como Facebook e Instagram;
  • A Meta teria projetado produtos considerando características específicas de adolescentes, incluindo impulsividade, pressão dos colegas e comportamentos arriscados, para desencadear a liberação de dopamina nos cérebros dos usuários mais jovens;
  • Executivos internos da Meta expressaram internamente preocupações com o bem-estar de adolescentes mais jovens, destacando que o Instagram não foi projetado considerando adequadamente as habilidades cognitivas e emocionais dessa faixa etária.
  • A Meta nega a intenção de projetar produtos viciantes e contesta as alegações, destacando medidas tomadas para remover usuários menores de idade e sua postura em relação ao controle parental.

Os documentos faziam parte de uma ação conjunta de 41 estados dos EUA contra a Meta. Os estados acusam a big tech de explorar ferramentas nas redes sociais que eram prejudiciais à saúde mental e física de jovens, além de intencionalmente viciantes.

Plataformas da Meta e os jovens

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(Imagem: Koshiro K/Shutterstock)

Nos documentos, constam detalhes de uma apresentação interna da Meta, de 2020, que mostra que a empresa projeta seus produtos levando em consideração características de adolescentes. Entre essas características, estão serem “predispostos a impulsos, pressão dos colegas e comportamentos arriscados potencialmente prejudiciais”.

“Os adolescentes são insaciáveis quando se trata dos efeitos da dopamina”, mostra a apresentação da Meta, descrevendo o produto existente da empresa como já adequado para fornecer o tipo de estímulos que desencadeiam o potente neurotransmissor. “E toda vez que um de nossos usuários adolescentes encontra algo inesperado, seus cérebros lhes proporcionam uma dose de dopamina”.

As preocupações com o bem-estar eram especialmente direcionadas para adolescentes mais jovens, conforme reconhecido internamente por alguns executivos da Meta envolvidos com questões de bem-estar juvenil.

“Não são ‘reguladores’ ou ‘críticos’ que pensam que o Instagram é prejudicial para os jovens adolescentes – são todos, desde pesquisadores e especialistas acadêmicos até pais”, escreveu Karina Newton, chefe de políticas do Instagram, em um e-mail de maio de 2021 citado pelos procuradores-gerais. “A estrutura do aplicativo não é projetada de forma inerente para uma faixa etária que não possui as mesmas habilidades cognitivas e emocionais que os adolescentes mais velhos”.

Os estados alegam que a gigante da tecnologia, ciente de proteções inadequadas contra usuários menores de 13 anos, tolerou o uso do Facebook e Instagram por pré-adolescentes. Estima-se que até quatro milhões de usuários menores de idade utilizem as plataformas nos EUA, apesar das proibições.

A acusação destaca a hesitação da Meta em reprimir o uso por menores de idade, alegando que a empresa priorizou o crescimento das plataformas sobre o bem-estar dos usuários. Também há alegações de que o CEO Mark Zuckerberg instruiu a equipe a priorizar o aumento do uso em detrimento do bem-estar dos adolescentes.

A Meta enfrenta críticas pela suposta negligência em lidar com usuários menores de idade, com alegações de falta de progresso em sistemas de detecção automatizada. A empresa é acusada de ter um backlog – lista de tarefas, funcionalidades ou melhorias que ainda não foram implementadas – significativo de contas de menores de 13 anos aguardando ação.

Outro lado

A Meta nega que tenha projetado seus produtos para serem viciantes para os adolescentes. “A queixa distorce nosso trabalho usando citações seletivas e documentos escolhidos a dedo”, disse Stephanie Otway, porta-voz da empresa.

Stephanie também disse que o Instagram trabalha para remover usuários menores de idade quando os encontra. Como verificar a idade das pessoas online é um problema complexo da indústria, segundo ela, a empresa apoia a legislação que permitiria aos pais controlar quais aplicativos usuários menores de 16 anos podem baixar.

A porta-voz contestou a alegação dos procuradores-gerais de que a empresa deu prioridade ao seu próprio bem-estar em detrimento de seus usuários.

“Essa conversa – de mais de cinco anos atrás – não tem nada a ver com o bem-estar das pessoas”, disse Otway, chamando a experiência do usuário de “um termo amplo”. A porta-voz acrescentou que a empresa subsequentemente adicionou recursos opcionais, como “modo silencioso”, que incentiva os usuários a considerar fechar o aplicativo ao usá-lo tarde da noite.

Outro litígio

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(Imagem: Below the Sky/Shutterstock)

Em outra frente, uma ação aberta por procuradores-gerais de 33 estados dos EUA acusa a Meta de recolher informações pessoais de crianças. A companhia teria recebido mais de 1,1 milhão de denúncias de perfis de menores de 13 anos no Instagram desde 2019, mas só desativou uma pequena porcentagem deles, segundo o jornal The New York Times.

A Meta é acusada de continuar coletando informações pessoais de crianças, como localizações e endereços de e-mail, sem consentimento parental, violando a Lei de Proteção à Privacidade Online das Crianças. Se as alegações forem comprovadas, a Meta pode enfrentar penalidades civis significativas, possivelmente na casa dos centenas de milhões de dólares.

A queixa também destaca a alegada consciência interna da Meta sobre a presença significativa de usuários menores de 13 anos no Instagram, indicando que essa informação era conhecida dentro da empresa e protegida contra divulgação pública.

A Meta respondeu afirmando que trabalhou durante uma década para criar experiências online seguras para adolescentes, criticando a distorção das alegações pelos estados. A empresa destaca que seus termos de uso proíbem usuários com menos de 13 anos nos EUA e que medidas estão em vigor para remover essas contas quando identificadas.

Texto: Pedro Borges Spadoni