Foram cinco dias de caos no Vale do Silício. Sam Altman voltou ao comando da OpenAI pouco depois de sua repentina demissão. O caso deu início a uma disputa pelo talento do executivo, deixou a empresa em desordem e revelou divisões na diretoria sobre a missão de uma das startups mais valiosas do mundo, estimada em mais de US$ 80 bilhões (R$ 390 bilhões, na cotação atual).
No domingo, Emmett Shear foi nomeado CEO interino, mas, para permanecer no posto, cobrava esclarecimentos sobre a saída repentina de Altman. Já Ilya Sutskever, cofundador e cientista-chefe da OpenAI que também integrava o conselho, mais tarde pediu desculpas por seu papel na demissão e assinou uma carta em que ameaçava deixar a startup caso os conselheiros não renunciassem.
A volta de Altman ao comando da empresa aplacou os ânimos. No entanto, permanecem as dúvidas sobre o futuro da empresa e da própria tecnologia. O novo Conselho interino da OpenAI, que não incluirá o CEO no início, será liderada por Bret Taylor, ex-co-CEO da Salesforce, uma das maiores empresas do mundo. Os outros diretores são Larry Summers, ex-secretário do Tesouro dos EUA, e o atual membro Adam D’Angelo, cofundador e CEO da Quora.
Entenda quem é quem na ‘novela’ da OpenAI
Sam Altman
O CEO da OpenAI, Sam Altman, se tornou uma estrela no universo da tecnologia quando a startup lançou a ferramenta de inteligência artificial ChatGPT. Nascido em Illinois, Chicago, em 1985, ele abandonou a Universidade de Stanford aos 19 anos para abrir sua primeira empresa. No segundo ano da faculdade, ele e o namorado começaram a trabalhar no Loopt, um dos primeiros programas de rastreamento, em que os usuários poderiam compartilhar suas localizações entre si.
A companhia acabou sendo vendida por US$ 43 milhões para a Green Dot em 2012. Dois anos mais tarde, ele foi convidado pelo executivo Paul Graham para assumir a aceleradora Y Combinator. Em 2015, Altman ajudou a fundar a organização sem fins lucrativos OpenAI, onde passou a trabalhar em tempo integral alguns anos mais tarde. Em 2019, sob seu comando, a OpenAI criou uma subsidiária com fins lucrativos. Foi o ponto inicial para que, em 30 de novembro de 2022, fosse lançado o ChatGPT.
Agora, ele defende que a OpenAI foque em criar produtos e atrair clientes. De um lado, o conselho da empresa temia o avanço desenfreado de ferramentas de inteligência artificial. Do outro, investidores de peso, como a Microsoft, exigiam o retorno de Altman, assim como a maioria dos funcionários — mais de 700 entre 770 pessoas ameaçavam deixar seus cargos, caso ele não fosse readmitido.
Satya Nadella
Satya Nardella é CEO da Microsoft, dona de 49% das ações da OpenAI. Logo após a confirmação da demissão de Sam Altman, ele anicou, pelo X (antigo Twitter), que Altman seria contratado para liderar uma nova divisão de IA da companhia.
Após a readmissão de Altman na startup, Nardella voltou a demonstrar apoio a Altman nas redes sociais e elogiou as mudanças na OpenAI. “É um primeiro passo essencial no caminho para uma governança mais estável, bem informada e eficaz”, disse ele, na ocasião.
Greg Brockman e Mira Murati
A recontratação de Altman provocou uma rápida felicitação no X dos principais personagens da saga, incluindo o ex-presidente Greg Brockman – que disse que também está retornando à OpenAI – e a diretora de tecnologia Mira Murati.
Cofundador da OpenAI, Greg Brockman chegou a deixar o cargo de presidente em protesto pela saída de Altman. Ele também seria contratado pela Microsoft para o novo projeto de IA. O papel exato que vai desempenhar na startup não foi divulgado. Criado em Dakota do Norte, Brockman abandonou os estudos no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) para trabalhar na empresa de processamento de pagamentos Stripe. Ele deixou a companhia para fundar a OpenIA com Altman e com Elon Musk, em 2015.
Já Mira Murati chegou a ser nomeada pelo Conselho sucessora interina de Altman na OpenAI, na sexta-feira. No entanto, antes do fim de semana, foi substituída por Emmett Shear, ex-presidente-executivo do site de transmissão ao vivo Twitch. Isso depois de ela assinar uma carta com outros 700 funcionários para pressionar pela readmissão de Altman e pela renúncia dos conselheiros.
Nascida na Albânia, Murati, de 34 anos, entrou na empresa em 2018 depois de se formar na Colby College, na Universidade Dartmouth e trabalhar na Tesla (de Elon Musk).
Ilya Sutskever
Em 2019, Ilya Sutskever, Brockman e Altman fundaram, juntos, a OpenAI, entidade com fins lucrativos ligada à startup. No entanto, de acordo com a CNN, o futuro dele na companhia pode estar em perigo devido à atuação do executivo pela demissão de Altman.
Cientista-chefe, cofundador e membro do conselho da OpenAI, ele assinou a carta dos funcionários que cobrava a reintegração de Altman. No entanto, com a divulgação da mensagem, ele postou um pedido de desculpas no Twitter.
“Lamento profundamente minha participação nas ações do conselho”, disse ele. “Nunca tive a intenção de prejudicar a OpenAI. Adoro tudo o que construímos juntos e farei tudo o que puder para reunificar a empresa”.
Adam D’Angelo e Bret Taylor
Adam D’Angelo integra o conselho da OpenAI desde 2018 e nele vai permanecer mesmo após ter votado pela demissão de Altman. No Ensino Médio, ele desenvolveu um software de sugestão musical com alunos como Mark Zuckerberg. Anos depois, formou-se no Instituto de Tecnologia da Califórnia e foi diretor de tecnologia do Facebook antes de fundar a plataforma de perguntas e respostas Quora.
Já o novo presidente do conselho da OpenAI será Bret Taylor, ex-presidente do conselho do Twitter (que buscou a Justiça e forçou Elon Musk a efetivar a compra da rede social, este ano, após o dono da Tesla voltar atrás na oferta). Formado em Ciência da Computação na Universidade de Stanford, Taylor já atuou como co-CEO da Salesforce e prestou serviços a empresas como Facebook e Google.
Larry Summers
O economista Larry Summers, integrante do novo Conselho da OpenAI, é um economista com passagens pelo governo Obama e Clinton. Chegou a ser secretário do Tesouro. De acordo com a CNN, Summers vai levar à companhia a experiência de liderança em política e conselhos corporativos.
Emmett Shear
Cofundador do serviço de streaming Twitch, Emmett Shear anunciou, na última segunda-feira, que seria CEO interino da OpenAI, no lugar de Mira Murati. Ocupou o cargo apenas por 48 horas. Natural de Seattle e formado pela Universidade de Yale, Shear foi estagiário da Microsoft e tem papel incerto no futuro da startup. Shear e Altman faziam parte do mesmo grupo no Y Combinator, o fundo de startup que investiu nas primeiras empresas de ambos.
Mas, em entrevistas e nas mídias sociais, Shear articulou uma visão sobre os riscos da inteligência artificial que poderia agradar aos membros da diretoria da OpenAI que expulsaram Altman. Ele temia que, nesse momento, um sistema de IA pudesse se tornar tão poderoso que continuasse a se aperfeiçoar sem a necessidade de intervenção humana e tivesse a capacidade de destruir a humanidade.
“Sou a favor de uma desaceleração”, disse ele a outro usuário do X em setembro. “Não podemos aprender como construir uma IA segura sem experimentar, e não podemos experimentar sem progresso, mas provavelmente também não deveríamos avançar na velocidade máxima”
Tasha McCauley e Helen Toner
O conselho de diretores, responsável pela decisão de demitir Altman, também era composto pela empreendedora de tecnologia Tasha McCauley e por Helen Toner, do Centro de Segurança e Tecnologia de Georgetown. Elas não comentaram a demissão. Não se sabe que papel terão na empresa a partir da crise.
Elon Musk
Cofundador e ex-membro do conselho da OpenAI, o homem mais rico do mundo saiu da startup em 2018 — segundo ele, por um conflito de interesses com a Tesla. No entanto, como destaca a CNN, desde a sua partida, Musk passou a expressar preocupações sobre a evolução da IA e a supostas ameaças à sociedade.
“Musk está conectado a muitos personagens do drama OpenAI e brigou publicamente com Altman sobre o futuro da IA”, ressaltou a rede americana. “Que teias emaranhadas tecemos”, escreveu ele no X, logo depois que Altman foi readmitido na OpenAI.