sexta-feira,22 novembro, 2024

O que o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, pensa sobre a Embrapa

Em entrevista à EXAME Agro, Fávaro ressalta a inclusão da Embrapa no PAC após “desestímulo nos últimos anos”

Em 2023, a comemoração dos 50 anos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) acendeu também um questionamento: qual o futuro do órgão ligado ao Ministério da Agricultura e Pecuária? Em entrevista à EXAME Agro, o ministro Carlos Fávaro responde que é preciso modernização após orçamento enxuto e “desestímulo nos últimos anos”.

Ele concorda que a parceria com a iniciativa privada seja importante para pesquisas rapidamente viáveis, mas “sem perder a sua essência pública de pertencimento ao povo brasileiro”. Leia trecho da entrevista abaixo e confira a conversa na edição de dezembro da revista EXAME.

Há algumas décadas, agrônomos tinham como sonho ser pesquisador da Embrapa. Hoje em dia, essa vontade de pertencer não se vê nos campos. Por que isso aconteceu?

É verdade, há uns poucos românticos. Certamente a Embrapa tem um papel brilhante nessa revolução brasileira, cuja grande revolução foi principalmente por meio do uso de calcário, pedra moída, para estabilizar e tirar a acidez dos solos do Cerrado. A iniciativa privada certamente não faria isso. É o poder público que fez isso com muita eficiência. Mas houve um completo desestímulo nos últimos anos, ao ponto da política do ex-ministro Paulo Guedes apontar que quem quisesse a Embrapa que contratasse, pois ela não deveria mais receber dinheiro público.

Qual a sua opinião?

Hoje temos 43 unidades, entre sete e oito mil colaboradores e 2.200 doutores. Aquilo que for viável rapidamente ao mercado, ele vai bancar a Embrapa para pesquisar, porém aquilo que está na essência do pesquisador, estudo a longo prazo, precisa ser estimulado pelo poder público. Se o pesquisador achar uma nova revolução muito barata, muito eficiente, quem vai ganhar são aos brasileiros.

Para isso, é preciso orçamento. Para esse ano, foram R$ 345 milhões para pesquisa e se fala em R$ 520 milhões para o ano que vem.

O presidente Lula tem essa compreensão, tanto é que depois de 10 anos a Embrapa volta a fazer parte do PAC, a ter investimentos em infraestrutura e melhorias das suas condições. A Embrapa voltou a ter dinheiro desde esse ano e vai ter mais o ano que vem, investimentos em pesquisa. Não que ela não possa e não deva fazer parcerias com a iniciativa privada. Pode e deve, mas ela precisa se modernizar sem perder a sua essência pública de pertencimento ao povo brasileiro.

Qual a Embrapa pensada para os próximos 50 anos?

Para que a gente possa discutir isso, o Ministério da Agricultura entregou um diagnóstico ao presidente Lula e à nova diretoria, com mudanças para que ela se torne mais ágil, mais eficiente, e novamente, dar ao pesquisador o estímulo de pesquisar. É inacreditável a Embrapa, que tem um orçamento de 4 bilhões por ano, receber algo em torno de 40 milhões de propriedade intelectual por aquilo que desenvolveu.

Investir em extensão rural também faz parte desse futuro?

Eu ouvi de um diplomata que veio me visitar, ao pedir cooperação da Embrapa para transferir tecnologia, que ciência é igual carinho. Não adianta guardar. Só é bom quando a gente externaliza. Quando a gente externaliza a ciência, ela se reproduz. Nós temos aí um gap de fazer chegar tudo aquilo que a Embrapa tem na prateleira. Ainda tem muitos pequenos produtores que não recebem as tecnologias que já estão disponíveis para eles. Então, o avanço na extensão rural, talvez com o Sistema S e o Senar como grande parceiro na disseminação das tecnologias, é fundamental, além das Ematers [Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural].

Fonte: Exame.

Redação
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