Enquanto a crise climática centraliza os debates de fóruns mundiais como a COP-28, outro fenômeno preocupante, a perda da biodiversidade no planeta, chama a atenção de cientistas. O desaparecimento de espécies de plantas, animais e microorganismos, pressionados por eventos extremos do clima causados pela ação humana, deve ter impacto direto na rotina da sociedade, afetando a quantidade e a qualidade da comida disponível, por exemplo.
Pesquisas vêm alertando para o papel importante que animais polinizadores, por exemplo, como insetos e morcegos, têm para a colheita de frutas. No Brasil, um levantamento da UFRJ listou mais de 500 animais (todos mamíferos) que prestam serviços ambientais, sendo que cerca de 20% são espécies ameaçadas de extinção.
Na Europa, a preocupação com a qualidade do solo, que depende de pequenos organismos presentes em sua composição para ter eficiência na nutrição de plantações e na purificação da água, entre outras funções, demonstra a fragilidade dos ecossistemas e sua interligação com as espécies, relata o jornal The Guardian.
Os insetos e as plantas sofrem risco maior de extinção no Velho Continente do que animais vertebrados, aponta estudo publicado na última semana. A publicação alerta que dois milhões de espécies estão em risco de extinção no mundo, o dobro das estimativas anteriores da ONU. O aumento da “lista” deve-se em parte a melhores dados sobre as populações de insetos.
Os prejuízos de uma polinização precária das plantas pode ir desde um formato “estranho” para frutas conhecidas, como morangos ou maçãs, e ainda chegar a uma duração menor destes alimentos, que passam a apodrecer mais rapidamente, o que prejudica seriamente a cadeia de comercialização.
“Se você tem menos polinização, terá menos produção. Mas não só menos rendimento ou pesagem, como também a qualidade do produto irá diminuir… Os seus morangos ficarão deformados e não estarão tão cheios de açúcares. Chamamos isso de déficit de polinização”, explica o professor Simon Potts, da Universidade de Reading, em entrevista ao jornal britânico.
A polinização, que ocorre nas flores, gera efeitos nas plantas que incrementam os nutrientes direcionados aos frutos, deixando-os suculentos e saborosos. Considera-se que 75% dos cultivos de alimentos dependem de polinizadores e que 95% da comida consumida no mundo provêm direta ou indiretamente do solo.
Uma revisão de bases de dados científicas de 48 países, publicada no periódico Nature Communications, analisando 48 culturas diferentes, descobriu que os frutos vindos de árvores polinizadas por animais e insetos têm, em média, 23% melhor qualidade do que aqueles que não foram polinizados por animais, melhorando particularmente a forma, o tamanho e aumentando a vida útil de frutas e legumes.
Tomando a produção de maçã do tipo gala no Reino Unido como exemplo, o déficit de polinização representa um prejuízo de R$ 34,2 milhões, aponta o Guardian.
“A biodiversidade deve ser considerada um insumo agrícola legítimo”, afirma Potts. “Os agricultores gerem a água, gerem fertilizantes e pesticidas, gerem as sementes que colocamos no solo, mas muito poucos gerem a biodiversidade como insumo.”
Texto: Marco Britto, para Um Só Planeta