Demóstenes Ferreira pontua que a queda de árvores é um problema enfrentado há anos, não só em São Paulo, e merece a atenção das políticas públicas
Com a maior frequência de eventos climáticos intensos, como os temporais em São Paulo, aspectos sobre o planejamento das cidades ganharam destaque nas mídias. Uma das questões discutidas é a dos benefícios e cuidados necessários na arborização urbana, uma vez que, paralelamente à sua contribuição para a qualidade do ar, a manutenção das espécies é essencial para evitar acidentes.
Demóstenes Ferreira, professor do Departamento de Ciências Florestais da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, mapeou os efeitos das quedas de árvores em São Paulo e explica que esse fenômeno não é inédito. “Toda a arborização urbana sofre com esse problema de queda de árvores há muitos anos, não só em São Paulo, e onde há uma densidade construída maior é onde cai mais árvores”, analisa.
Queda de árvores
O professor relaciona a qualidade das calçadas da cidade com o alto número de queda de árvores, na medida em que o solo não é devidamente adaptado para manter as raízes, apesar da necessidade das sombras proporcionadas pelas espécies. “As árvores precisam de raízes para se sustentarem e a maior parte das nossas calçadas é muito compactada, o que faz com que as raízes se tornem cada vez mais superficiais para poder respirar”, explica o especialista.
Assim, com a necessidade de macroporos no solo para uma melhor respiração, as plantas passam a enraizar de forma mais fina nos solos compactos da calçada. Sem a sustentação adequada, as árvores tendem a cair pela base, ou seja, na raiz.
Controle da situação
Em um cenário de 652 mil árvores só em calçadas em São Paulo, um maior esforço para uma diretiva de gestão e investimento em sua manutenção é essencial, na visão de Ferreira. “O que fazemos, normalmente, é a mutilação das árvores para livrar o contato da fiação, dessa fiação que é do século retrasado, então é bastante necessária também a atualização de toda essa tecnologia”, comenta.
Outra demanda muito importante, também destacada pelo professor, tem a ver com a elaboração de um inventário com todas as árvores e espécies da cidade, com dados sobre sua geolocalização e condição fisiológica e mecânica. O investimento, portanto, deve ser realizado a partir de tais dados, com o objetivo final de ampliação da sombra na cidade e melhoria drástica de seu microclima.
Planejamento
“O uso de espécies nativas da Mata Atlântica na cidade de São Paulo é muito importante, mas é importante também pensar que algumas espécies não produzem tanta sombra e não têm um porte também tão adequado”, avalia Ferreira. Apesar de uma grande biodiversidade de árvores benéficas para a urbanização, há uma falta de manutenção e investimento nas políticas públicas voltadas para a área.
Em especial, o especialista ressalta a zona leste da cidade, que enfrenta uma condição de muito calor e pouca atenção relativa à arborização urbana. “É uma região extremamente pobre em arborização, conta com alguns parques, mas a arborização viária é quase inexistente e isso precisa ainda ser empreendido”, chama a atenção. Dessa forma, o movimento por infraestrutura também deve perpassar a área verde das cidades, visto que pode ser uma chave muito importante para a melhoria microclimática da história de São Paulo.
Texto: Redação, do Jornal da USP