Ao pensarmos em “cidades inteligentes”, logo vem à mente a imagem de um cenário futurístico. Porém, o termo pode abranger além da tecnologia e incluir dentro de seus padrões um espaço que seja, além de inteligente, inclusivo, acessível e sustentável. Com essa proposta, a Planet Smart City tem criado esses modelos habitacionais em várias partes do mundo. Com sede em Londres, a empresa tem escritórios na Itália, Brasil, Reino Unido e Índia. No Brasil, os projetos estão no Ceará, no Rio Grande do Norte e em São Paulo.
Conforme explica a CEO da companhia, Susanna Marchionni, as cidades inteligentes surgiram a partir do momento que foi percebido que moradias no formato eram direcionadas a um público muito alto, e que os valores também eram grandes. Por outro lado, foi percebida a quantidade de famílias que viviam em moradias inadequadas. Sendo assim, a empresa decidiu inovar no conceito de moradias sociais e oferecer algo que fosse acessível a vários públicos e não segmentar apenas a uma classe social.
“O projeto se divide de acordo com as casas, para um público de renda menor ou maior. Portanto, são as casas mais simples, a partir de 50 até 85 metros quadrados, e preços a partir de R$ 130 mil. Já para o público mais rico, casas a partir de R$ 165 mil. Ou seja, sempre com valores bem fora do mercado. Tentamos fazer algo que seja totalmente diferente. A casa mais cara que temos o projeto custa R$ 270 mil”, explica Marchioni.
O planejamento urbano das cidades inteligentes da Planet Smart City conta com um time de mais de 400 pessoas. Dentro dele estão arquitetos, sociólogos, engenheiros e urbanistas. As soluções integradas oferecidas nas cidades inteligentes são câmeras de monitoramento, hortas urbanas, iluminação com LED, biblioteca de ferramentas de manutenção, biblioteca de livros, campo de futebol, aplicativo que permite acompanhar por câmeras tudo que tem acontecido dentro do local, cozinha compartilhada, totem interativo para quem não tem celular, cinema gratuito, wi-fi sem custos nas paradas de ônibus, entre outros. De acordo com a CEO da Planet Smart City, o objetivo é disponibilizar tudo gratuitamente, mas os moradores devem algo em troca.
“Falar de cidade inteligente significa falar de tecnologia pensada como meio, mas não como fim, para mudar a vida das pessoas. A gestão social acompanha os moradores. Os moradores gratuitamente têm benefícios dentro da cidade, mas precisam cuidar da casa, das áreas verdes e institucionais. Eles devem começar a ter o conceito de pertencer a cidade e o lugar onde moram”, comenta a executiva.
Existem ainda painéis para controle da cidade dentro do aplicativo. Neles, é vista toda a programação dos espaços gratuitos. Dentro das casas há sensores para monitorar o consumo de água e energia. Além disso, os projetos sociais disponibilizam dentro do hub de inovação coworking, cursos de empreendedorismo e inglês. O conceito é ter mais espaços compartilhados à disposição das pessoas, para que o custo de vida nas cidades inteligentes da Planet Smart City seja menor, visto que nem tudo é necessário ser comprado. A intenção é criar lugares lúdicos, para os moradores cuidarem daquele bem comum. Existe ainda uma área comercial construída pela companhia. Essa área é alugada para os moradores que querem empreender no local, mas o primeiro ano de aluguel é gratuito para que lojistas cheguem e inovem na cidade.
As cidades inteligentes ainda têm parâmetros com a construção de casas que se enquadram no projeto Minha Casa, Minha Vida, do Governo Federal. Isso vai depender do valor do imóvel. Segundo Susanna Marchionni, o objetivo é possibilitar que públicos de diferentes classes sociais consigam viver no mesmo lugar. A infraestrutura é de classe A, mas essa não é a única categoria alcançada pelo empreendimento.
Como a Planet Smart City passou a faturar milhões
Em 2022, o faturamento da Planet Smart City com as cidades inteligentes foi de R$ 295 milhões, crescimento de 21% em relação a 2021, com um investimento de R$ 122 milhões. Já em 2023, foram investidos R$ 140 milhões, com uma projeção de vendas de R$ 300 milhões no Brasil. Para alcançar esses valores, é preciso agir com sustentabilidade econômica. Uma das estratégias está aliada ao aplicativo da empresa.
“Eu posso vender produtos ou serviços no aplicativo. Portanto, se você é uma moradora e quer vender algo no aplicativo, pode fazer de forma gratuita. Se é uma empresa grande primeiro entra em concorrência com outros players de mercado, porque vou oferecer para os moradores. Depois, me pagam comissão, e com essas comissões que recebo consigo bancar esses projetos”, comenta Susanna Marchionni.
Os lucros com os aplicativos começam desde a construção do projeto. Marchionni explica que, em Milão, por exemplo, foi conseguido um desconto de 40% para 800 famílias que compraram produtos com a Electrolux. A fabricante de eletrodomésticos pagou uma comissão à Planet Smart City por cada compra. Parte do dinheiro foi direcionado aos projetos sociais, e a outra foi lucro.
Quais os critérios para implementar cidades inteligentes no Brasil?
No Brasil, as cidades inteligentes da Planet Smart City estão nos seguintes estados: São Paulo, Ceará e Rio Grande do Norte. Susanna Marchionni explica que os critérios de seleção dos locais em que serão implantadas as moradias são os mesmos. Como os projetos são grandes, e é necessária escala, os lugares escolhidos devem estar perto de capitais e ter déficit habitacional. As cidades inteligentes ainda são adaptadas de acordo com as necessidades da região, e com as vontades dos moradores.
“Se nós não criarmos o projeto de acordo com o que as pessoas querem, depois, elas podem não usar da forma certa. Portanto, falamos com as pessoas para entender suas verdadeiras necessidades. Esse envolvimento muda a reação e o engajamento. Para nós, é fundamental envolver quem participa do desenvolvimento do projeto”, explica a executiva.
No Brasil, por uma questão de escala, é mais interessante construir esses espaços de moradias desde o início, que aproveitar um local já existente. Isso acontece, por exemplo, pelo tamanho do local demandado e o impacto que pode causar na cidade. Agora, a meta é aumentar os projetos verticais, por serem mais rápidos para se desenvolverem.
“Quando construímos na horizontal, é lenta a infraestrutura e a chegada dos moradores. Na vertical, é mais rápido desde a construção, até a chegada dos habitantes. Isso, para nós, é positivo, porque conseguimos usar o aplicativo, vender produtos e serviços, ganhar dinheiro, oferecer serviços compartilhados, ver a gestão social e trabalhar. Ou seja, a visibilidade e o impacto são mais rápidos no vertical”, pontua.
O conceito das cidades inteligentes abrange tecnologia, sustentabilidade, urbanismo e inclusão social. De acordo com a CEO da companhia, esse conceito é trabalhado em várias partes do mundo, mas os projetos não são tão opostos nos mais diversos países, porque o objetivo final é sempre o mesmo. Ela reforça que, ao customizar a base, como os serviços compartilhados, a infraestrutura de qualidade e a parte social são bem parecidas.
Cidade inteligente recebeu apoio da ONU
A Smart City Laguna, em São Gonçalo do Amarante (CE), foi selecionada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio-Ambiente (PNUMA) para receber subsídios no intuito de realizar projetos de incentivo ao uso sustentável de energia, tanto no uso de tecnologia quanto na educação de consumidores. Este é o único projeto contemplado no Brasil – outros de Marrocos, Índia e Colômbia também serão beneficiados pela ação.
O projeto da PNUMA integra a Iniciativa de Redes de Eletricidade Orientadas à Demanda Digital (3DEN, em inglês), implementada em conjunto com a Agência Internacional de Energia (AIE) lançada em 2021 e apoiada pelo Ministério Italiano do Meio Ambiente e Segurança Energética e pelo Ministério Italiano de Relações Exteriores e Cooperação Internacional. É da pasta italiana a verba que financiará o projeto, orçado em US$ 1 milhão.
A iniciativa desenvolvida pela empresa envolve a instalação de painéis fotovoltaicos, sistemas de armazenamento de energia e recursos de gerenciamento digital de energia em cerca de 150 residências, com prazo de conclusão em dois anos. Uma série de sensores que registram informações de sistemas elétricos alertará os residentes diretamente em seus telefones celulares por meio da interface do Planet App, aplicativo desenvolvido pela Planet Smart City, para que eles adaptem o consumo de energia às suas necessidades. O objetivo é reduzir o desperdício e limitar as despesas.
“A instalação irá começar em dezembro. O interesse da ONU é testar como o público que ganha esse tipo de painel utiliza a verba que não paga de energia. Ou seja, vamos supor 150 reais mais ou menos é um valor de gasto da energia de uma família. Se eu dou a energia de forma gratuita para eles, o que fazem com esse valor que sobra? Eles querem testar e monitorar. Todas as famílias que receberão os painéis e, consequentemente a energia gratuita, irão participar desse programa. No próximo ano, o secretário da ONU vem nos visitar para ver a instalação dos painéis e começar a analisar a reação do público. No final de 2024, teremos os resultados”, finaliza.