Telescópio James Webb revelou a galáxia espiral barrada mais distante já observada até hoje; descoberta pode mudar os modelos teóricos atuais de formação desses conjuntos

Quando o universo tinha apenas alguns bilhões de anos, pouco depois do Big Bang, existia uma galáxia extremamente semelhante à nossa. Astrônomos descobriram essa estrutura longínqua fascinante usando o Telescópio Espacial James Webb, da Nasa.

Liderada por cientistas do Centro de Astrobiologia na Espanha, a descoberta foi publicada em 8 de novembro na revista Nature. A formação parecida com a Via Láctea é a galáxia espiral barrada mais distante já observada até hoje.

Até agora, acreditava-se que galáxias espirais barradas, como a Via Láctea, não podiam ser observadas antes que o universo, estimado em 13,8 bilhões de anos, alcançasse a metade de sua idade atual.

Segundo conta em comunicado o coautor do estudo, o astrônomo Alexander de la Vega da Universidade da Califórnia, em Riverside, nos Estados Unidos, a galáxia, chamada ceers-2112, se formou pouco após o Big Bang.

Ele afirma que encontrar essa estrutura distante “mostra que as galáxias no início do universo poderiam ser tão ordenadas quanto a Via Láctea”. “Isso é surpreendente porque as galáxias eram muito mais caóticas no início do universo, e muito poucas tinham estruturas semelhantes à Via Láctea”, ele diz.

“Barra de chocolate” espacial

A galáxia Ceers-2112 tem uma estrutura em seu centro meio parecida com uma barra de chocolate, segundo descreve la Vega. Esse tipo de barra galáctica é feita de estrelas, e pode ser encontrada em galáxias não espirais – embora isso seja raro.

“Quase todas as barras são encontradas em galáxias espirais”, disse o cientista. “A barra em ceers-2112 sugere que as galáxias amadureceram e se tornaram ordenadas muito mais rapidamente do que pensávamos anteriormente, o que significa que alguns aspectos de nossas teorias sobre formação e evolução de galáxias precisam ser revisados.”

A compreensão anterior dos astrônomos sobre a evolução das galáxias era que levava vários bilhões de anos para que esses conjuntos espaciais se tornassem ordenados o suficiente para terem barras. “A descoberta de ceers-2112 mostra que isso pode acontecer em apenas uma fração desse tempo, em cerca de um bilhão de anos ou menos”, disse de la Vega.

Conforme o astrônomo, acredita-se que as barras galácticas se formem em galáxias espirais com estrelas que giram de maneira ordenada, como na Via Láctea. Sua formação ocorre devido a instabilidades na estrutura espiral ou efeitos gravitacionais de uma galáxia vizinha.

Além de mostrar que as barras podiam se formar quando o universo era muito jovem, a descoberta pode mudar modelos teóricos de formação e evolução de galáxias. Segundo la Vega, as teorias atuais podem precisar ajustar a quantidade de matéria escura que compõe as galáxias no início do cosmos, já que se acredita que essa matéria invisível afeta a taxa na qual as barras se formam.

Entender que estruturas como barras podem ser detectadas quando o universo era muito jovem é importante, de acordo com o astrônomo, porque as galáxias no passado distante eram menores do que são agora, o que torna mais difícil encontrar barras. Além disso, ceers-2112 abre caminho para a descoberta de mais barras no início cósmico.

Como sua contribuição ao estudo, la Vega estimou o desvio para o vermelho e as propriedades de ceers-2112, auxiliando também com a interpretação das medições. “O desvio para o vermelho é uma propriedade observável de uma galáxia que indica quão distante ela está e quão longe no tempo a galáxia é vista, o que é uma consequência da velocidade finita da luz”, ele explica.

O pesquisador admite que no início achava que detectar e estimar as propriedades de barras em galáxias como ceers-2112 seria algo cheio de incertezas. “Mas o poder do Telescópio Espacial James Webb e a experiência de nossa equipe de pesquisa nos ajudaram a impor limites fortes no tamanho e forma da barra”, ele afirma.

Texto:  Redação Galileu