Estudo mostra que aquecimento global tem muito efeito sobre esses felinos, forçando eles a caçarem tarde da noite e deixando suas presas em potencial para carnívoros maiores
Os guepardos (ou chitas) normalmente caçam durante o dia. Mas quando as temperaturas sobem, ajustam os seus horários para se tornarem mais ativos ao amanhecer e ao anoitecer – o que os coloca em maior risco de conflitos com predadores maiores, como leopardos e leões, descobriu um novo estudo.
As descobertas, publicadas na quarta-feira (8) na revista Proceedings of the Royal Society B, oferecem um possível vislumbre do futuro se as temperaturas globais continuarem a subir devido às mudanças climáticas causadas pelo homem.
O número de guepardos já está diminuindo: estima-se que 6,5 mil adultos permanecem na natureza, e esses grandes felinos estão listados como “vulneráveis” pela União Internacional para a Conservação da Natureza. Mas, em meio ao aquecimento global, a sua situação desses animais pode se tornar “realmente crítica”, disse Bettina Wachter, bióloga do Instituto Leibniz para Investigação de Zoológicos e Vida Selvagem, em entrevista à Associated Press (AP).
“Prevê-se que as temperaturas se tornem muito mais quentes na parte de África onde vivem os guepardos: no Botswana, na Namíbia e na Zâmbia”, apontou ela à publicação.
Guepardos, leões, leopardos e cães selvagens africanos habitam as mesmas regiões, e às vezes comem os mesmos alimentos. Uma forma pela qual essas espécies evoluíram para coexistir pacificamente entre si é caçando em horários diferentes do dia. Leopardos e leões trabalham no turno da noite, enquanto chitas e cães selvagens africanos procuram presas principalmente durante o dia, explica a Smithsonian Magazine.
Mas, periodicamente, os horários dos animais se sobrepõem. E quando isso acontece, os guepardos são geralmente forçados a entregar as suas capturas aos felinos maiores. Leopardos e leões normalmente preferem carne fresca e caçam suas próprias presas. Mas eles também são comilões oportunistas, então, se encontrarem uma chita se alimentando de uma morte recente, não hesitarão em pegá-la para si, de acordo com a AP.
Os cientistas estavam curiosos para saber como as mudanças climáticas poderiam estar afetando essa dinâmica. Por isso, em 2011, anexaram coleiras de localização GPS a um total de 53 predadores, incluindo leopardos, chitas, leões e cães selvagens africanos. Durante oito anos, eles anotaram a localização dos animais e seus horários de atividade. Então, analisaram esses dados em relação às temperaturas máximas diárias.
Nos dias em que as temperaturas dispararam – chegando a cerca de 45ºC –, as chitas mudaram as suas horas de caça para se tornarem mais noturnas, descobriram os investigadores. Esta mudança aumentou a sua sobreposição com outros grandes felinos em quase 16%.
“Achamos que está quente demais para que eles sejam ativos durante o dia e, por isso, tornam-se mais noturnos, da mesma forma que as pessoas fazem em alguns países onde tentam evitar o calor do meio-dia”, afirmou o coautor do estudo Kasim Rafiq, ecologista da vida selvagem da Universidade de Washington, para a ABC News.
O novo estudo não envolveu o registo de encontros reais entre chitas e outros grandes felinos, por isso os investigadores não podem dizer com certeza se esta maior sobreposição está contribuindo para mais conflitos. Eles gostariam de tentar responder a essa pergunta usando acelerômetros – que medem quanto e com que rapidez os animais se movem – e dispositivos de gravação de áudio, conforme a Smithsonian Magazine.
As chitas não são os únicos animais que mudam o seu comportamento devido às mudanças climáticas. Outros estudos descobriram que as fêmeas dos esquilos terrestres do Ártico estão abandonando as suas tocas de hibernação no início da primavera, que os cães selvagens africanos estão dando à luz três semanas mais tarde do que o normal e que os papagaios-do-mar estão mudando as suas dietas em detrimento das suas crias, por exemplo.
Texto: Um só Planeta