Pura sintonia em uma união poderosa que trará benefícios significativos para a humanidade. Os olhos de cientistas e pesquisadores em laboratórios de todo o mundo brilham quando o assunto é prever as transformações que a Inteligência Artificial (IA) fará no universo da biotecnologia. Há racionalismo e sabedoria nos bilhões de dólares que serão investidos nesse matrimônio por empresas e governos, nos próximos anos. A lógica é clara: a IA acelerará, vertiginosamente, a criação de soluções que envolvam a biotecnologia nos mais diferentes segmentos da sociedade.
Há um debate global sobre as válidas preocupações quanto ao impacto dessa tecnologia em temas como: abalos em democracias, produção de fake news, questões éticas e até de possíveis ameaças de controle de arsenais atômicos. As apreensões são justas e complexas e demandam que a IA seja regulada. Por outro lado, sua relação com a biotecnologia está em um outro espectro; uma verdadeira revolução tecnológica do bem, propulsora de esperanças.
O setor de saúde e a indústria farmacêutica têm sido uma das áreas cuja expectativa é elevadíssima. Estudos apontam que a aplicação da IA no desenvolvimento de novas drogas com o apoio da biotecnologia deverá receber investimentos na ordem de US$ 3 bilhões. Suas descobertas já estão quebrando paradigmas no surgimento de vacinas, de medicamentos e tratamentos pioneiros, com leituras tridimensionais de proteínas e células-tronco, capazes de replicar tecidos de diversas partes do corpo, como pulmão e até do cérebro. A biotecnologia aliada a softwares elevará o número de ensaios que será possível fazer in vitro, diminuindo a necessidade de testes em animais.
Cosméticos também sofrerão uma propulsão de soluções significativas, com o surgimento de produtos customizados para problemas bem específicos. Entre as indústrias que crescerão, exponencialmente, estão as ligadas aos biomateriais – polímeros de origem biológica -, os bioplásticos e o setor alimentício – com a chamada ‘carne cultivada’ -, que movimentou no ano passado quase US$ 250 milhões.
Mas um dos segmentos mais importantes no Brasil que se beneficiará desse casamento é o agronegócio. A convergência da biotecnologia e da IA está abrindo novas fronteiras para a inovação, impulsionando o desenvolvimento de produtos que prometem revolucionar a forma como cultivamos, colhemos e utilizamos os recursos agrícolas de modo sustentável.
A biotecnologia, que pode ser definida como uma arte de gerir organismos vivos, genes e proteínas, tem sido um pilar essencial no agronegócio, permitindo a criação de cultivos mais resistentes a pragas e doenças, além de melhorar a qualidade dos alimentos. Por outro lado, a IA, com suas capacidades de processamento de dados e de machine learning, oferece insights valiosos a partir de grandes volumes de informações, criando um ecossistema robusto para a inovação no setor agrícola. Estudos apontam que os investimentos com a chamada “smart agriculture”, com todo o pacote tecnológico, alcance globalmente cerca de US$ 15,3 bilhões em 2025.
No ar, a combinação de sensores agrícolas, drones e IA possibilita a coleta de dados em tempo real sobre condições do solo, clima e plantas. Isso personaliza as estratégias de cultivo, economizando recursos preciosos como água, fertilizantes e defensivos. Hoje, o agricultor já consegue encontrar plataformas que forneçam recomendações precisas, que otimizarão suas operações e aumentem a eficiência. A era de plantar em um local incerto está próxima do fim, e a medida de manejo deixará de ser o hectare, passando para o metro ou até centímetro quadrado.
A biotecnologia também desempenha um papel crucial na criação de cultivos resistentes a condições adversas, como secas e doenças. A IA, por sua vez, acelera o processo de melhoramento genético, analisando vastas quantidades de dados genômicos. Há empresas que utilizam a IA para identificar genes capazes de aumentar a resistência de plantas a doenças, gerando uma produção mais saudável e sustentável.
A detecção precoce de pragas e doenças é fundamental para a preservação das colheitas. Sensores e câmeras alimentados por IA podem monitorar campos agrícolas e identificar sinais de infestação ou doença instantaneamente. Isso permite ação rápida e reduz a necessidade de produtos químicos prejudiciais ao meio ambiente.
A rastreabilidade é cada vez mais importante para os consumidores. A combinação de biotecnologia e IA torna possível rastrear produtos desde o campo até a mesa, garantindo a qualidade e a segurança alimentar. Isso é especialmente crucial em um mundo onde os consumidores estão cada vez mais conscientes sobre a origem e a produção de alimentos.
É fundamental lembrar que o desenvolvimento dessas tecnologias também traz desafios éticos e regulatórios. A segurança dos alimentos, a privacidade dos dados e o uso responsável de organismos geneticamente modificados são preocupações que devem ser abordadas de forma cuidadosa.
A integração entre biotecnologia e IA está moldando o futuro do agronegócio. Essa aliança oferece soluções para desafios prementes, como a necessidade de alimentar uma população global crescente de mais de 8 bilhões, ao mesmo tempo em que respeita os limites ambientais.
À medida que avançamos, é essencial seguir com investimentos em pesquisa, regulamentação e ética, garantindo que a biotecnologia e a IA continuem a ser forças positivas para a agricultura e o agronegócio do futuro. Esse casamento harmônico entre algoritmos e microrganismos já está construindo um caminho promissor para um setor agrícola mais resiliente, sustentável e produtivo.
*Giuliano Pauli