A comunicação não-verbal afeta muito as percepções do potencial de trabalho dos candidatos, mas não ajuda de fato a prever seu desempenho futuro
Apesar dos rápidos avanços na ciência das pesquisas de RH e da expansão do setor de tecnologias de recrutamento, ainda é praticamente impossível conseguir uma vaga de emprego sem passar por uma entrevista tradicional.
No entanto, as entrevistas de emprego convencionais tendem a ser péssimos indicadores de desempenho futuro e não são confiáveis para avaliar o verdadeiro talento de um candidato. Isso se deve ao fato de que os seres humanos são tendenciosos, a ponto de ser impossível resistir ao impacto das primeiras impressões, mesmo quando estamos determinados a ser “imparciais”.
A COMUNICAÇÃO NÃO-VERBAL DESEMPENHA UM PAPEL IMPORTANTE AO INFLUENCIAR A OPINIÃO DOS OUTROS SOBRE NOSSA EMPREGABILIDADE.
Por isso, as percepções subjetivas sobre o potencial das pessoas geralmente são falhas e estão contaminadas por uma série de sinais irrelevantes. São aqueles aspectos que os entrevistadores não conseguem ignorar, mas que deveriam, porque praticamente não têm relação com o desempenho de alguém no futuro no emprego.
Um exemplo muito comum é a comunicação não-verbal, que geralmente afeta muito as avaliações do potencial de trabalho dos candidatos, mas que não ajuda a prever seu desempenho futuro.
Na verdade, leva apenas 30 segundos para que as pessoas façam julgamentos decisivos sobre nós com base em sua impressão inicial, de modo que não existe uma segunda chance de causar uma primeira impressão positiva.
Para entender melhor como isso acontece, imagine que usar um suéter vermelho aumenta suas chances de ser contratado, mas sem que isso aumente a probabilidade de você ser realmente bom no emprego.
Em outras palavras, a comunicação não-verbal – que inclui o rosto, a voz, o corpo, o toque e o ambiente interpessoal – desempenha um papel importante ao influenciar a opinião dos outros sobre nossa empregabilidade, sem que isso seja realmente um fator relevante.
LEVA APENAS 30 SEGUNDOS PARA QUE AS PESSOAS FAÇAM JULGAMENTOS DECISIVOS SOBRE NÓS COM BASE EM SUA IMPRESSÃO INICIAL.
No entanto, embora não possamos impedir que as pessoas façam avaliações conscientes e inconscientes de nosso comportamento não-verbal, podemos prestar atenção aos sinais que enviamos. Para nosso próprio bem, podemos cuidar da nossa apresentação profissional e usar nosso conhecimento sobre o que as pessoas procuram.
Um elemento fundamental das habilidades sociais e políticas diz respeito à emissão do tipo certo de sinais de comunicação verbais e não-verbais para melhorar a forma como nos apresentamos aos outros.
STATUS
Quanto mais deliberadamente você parecer se envolver com os entrevistadores (por exemplo, balançando a cabeça, sorrindo, fazendo contato visual), mais baixo será o status que você projetará. Por outro lado, se você quiser projetar uma imagem poderosa e de maior status, talvez seja melhor parecer desinteressado, desligado e, basicamente, se fazer de difícil.
COMPETÊNCIA
Embora a relação entre inteligência cognitiva e emocional seja fraca, a melhor maneira de parecer competente é projetando assertividade, confiança e estabilidade emocional, mesmo que você precise fingir.
Conforme os conhecimentos técnicos se tornam mais sofisticados e complexos, fica mais difícil avalia-los em uma entrevista. Por isso, os observadores se apegam a certos indícios de autoconfiança como uma forma de medir indiretamente a competência.
EMOÇÃO
A sinalização consciente e inconsciente das emoções é suscetível de ser captada pelos outros, e de forma mais precisa do que o status ou a competência.
Existe uma longa tradição no âmbito da neurociência e da psicologia que associa os julgamentos intuitivos das emoções dos outros aos seus sentimentos reais, bem como aos resultados futuros no trabalho e na vida. Esta tradição remonta a Charles Darwin, que apontou que o objetivo das emoções, de um ponto de vista evolutivo, era comunicar aos outros o que sentimos.
Assim, uma espécie capaz de ler os estados emocionais dos seus companheiros teria melhores probabilidades de sobrevivência e de aptidão reprodutiva. Por exemplo, se alguém me vê assustado quando estou prestes a ser devorado, essa pessoa vai poder fugir antes de enfrentar o meu predador, e assim por diante.
INTELIGÊNCIA EMOCIONAL
Estar em situações de alto risco, como uma entrevista de emprego, dá ao observador a oportunidade de avaliar a sua capacidade de se adaptar, de jogar o jogo e aderir à etiqueta social dominante. Essencialmente, trata-se de um teste da sua inteligência emocional, que, ao contrário do que se acredita, tem mais a ver com esconder do que com demonstrar suas verdadeiras emoções.
EMBORA NÃO POSSAMOS IMPEDIR QUE AS PESSOAS FAÇAM AVALIAÇÕES SOBRE NOSSO COMPORTAMENTO NÃO-VERBAL, PODEMOS PRESTAR ATENÇÃO AOS SINAIS QUE ENVIAMOS.
Os recentes avanços na inteligência artificial produziram resultados promissores na identificação e decifração de sinais de comunicação não-verbais, muitas vezes com maior precisão do que os avaliadores humanos.
Isto faz sentido porque, se existe uma lógica para associar a linguagem corporal a resultados de trabalho significativos, então a IA deveria ser superior aos humanos ao detectá-las, até porque os humanos estão “distraídos” com o conteúdo verbal – como devem mesmo estar.
Podemos ficar horrorizados com estas tecnologias, mas vale recordar que os entrevistadores humanos já estão constantemente “pescando” estes sinais dos candidatos, em grande parte de forma imprecisa, mesmo quando fingem que não estão.
Ou seja: assim como os carros autônomos não precisam ser perfeitos para diminuir o 1,3 milhão de acidentes de trânsito fatais que acontecem todos os anos, a IA não precisa de ser perfeita como uma ferramenta para decodificar a comunicação não-verbal. Basta que ela seja melhor do que o status quo humano faria.
Texto: Tomas Chamorro
