Pesquisa aponta que Brasil é vulnerável às mudanças climáticas por conta da sua extensão territorial e localização tropical
Várias capitais do Brasil devem enfrentar calor extremo – a ponto de entrarem para a lista de cidades mais quentes do mundo – até 2050. É o que apontou uma pesquisa realizada pela ONG Carbon Plan, junto ao jornal The Washington Post. Além do ranking de cidades, o estudo investiga o dano potencial que o calor pode causar ao planeta a longo prazo.
Para quem tem pressa:
- Pesquisa da ONG Carbon Plan e do jornal The Washington Post alerta sobre o aumento do calor extremo em várias capitais do Brasil até 2050;
- A vulnerabilidade do Brasil às mudanças climáticas globais é atribuída à sua extensão territorial e localização tropical;
- Cidades como Teresina, Cuiabá e algumas do agreste nordestino já vivenciam temperaturas no limite, conforme indicado no estudo;
- Manaus, Belém, Porto Velho, Rio Branco e Boa Vista estão entre as cidades brasileiras que enfrentarão períodos prolongados de calor extremo, com Manaus liderando com 258 dias;
- Para o professor Paulo Artaxo, da USP, o estudo reforça a necessidade urgente de reduzir as emissões de gases do efeito estufa para evitar impactos climáticos mais graves.
O país está entre os que mais devem sofrer com as mudanças climáticas globais, por conta de sua extensão continental e sua localização tropical, de acordo com a pesquisa. “Muitas cidades brasileiras, como Teresina, Cuiabá e cidades do Agreste nordestino, já vivem no limiar da temperatura”, acrescenta o estudo.
Cidades brasileiras entre as mais quentes do mundo
A cidade que mais sofrerá será Pekanbaru, na Indonésia, onde o calor extremo deve imperar por 344 dias. Já no Brasil, várias capitais sofrerão por, ao menos, um dia – e a região Norte deve ser a mais castigada. Veja abaixo as cinco cidades onde o calor extremo vai perdurar por mais tempo:
- Manaus (AM): 258 dias;
- Belém (PA): 222 dias;
- Porto Velho (RO): 218 dias;
- Rio Branco (AC): 212 dias;
- Boa Vista (RR): 190 dias.
Paulo Artaxo, professor do Departamento de Física Aplicada do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), analisou o estudo, a pedido do Jornal da USP. Ele ressalta que cidades de regiões como da Amazônia, que combinam altas temperaturas com altas umidades, terão um agravante:
É perigoso para a saúde humana, porque uma das maneiras que o corpo utiliza para se resfriar é a transpiração. Se você tem umidade relativa do ar entre 70% e 80%, dificulta a evaporação da água do corpo, o que conflui para que os mecanismos de regulação térmica do corpo deixem de funcionar adequadamente.
Além disso, o professor explicou que, com as emissões atuais de gases do efeito estufa, a média da temperatura global deve aumentar, na segunda parte do século 21, três graus Celsius. “O que significa, em áreas continentais, como o Nordeste brasileiro ou a Amazônia, um aumento da ordem de quatro a quatro graus e meio”, acrescenta o professor.
Planeta mais quente
A ONG evidencia a perspectiva de que, em cerca de 30 anos, aproximadamente cinco bilhões de pessoas estarão expostas a, pelo menos, um mês de calor prejudicial à saúde humana.
A análise foi feita por meio de uma escala que combinou temperatura, umidade, luminosidade solar e vento e que determinou que 32° Celsius é a condição limite para a saúde do indivíduo.
Eles reforçam que essa condição é nociva até mesmo para um adulto saudável, caso exposto por mais de 15 minutos, e pode ser responsável pelo aumento da morte de pessoas em consequência de altas temperaturas.
Essas hipóteses levantadas podem se tornar realidade. Eles têm base física, base científica e só reforçam a necessidade urgente da redução de emissões de gases de efeito estufa, que é a única maneira que nós temos de evitar um colapso do sistema climático.
PAULO ARTAXO, PROFESSOR DO DEPARTAMENTO DE FÍSICA APLICADA DO INSTITUTO DE FÍSICA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP)
Texto: Pedro Borges Spadoni