A mudança climática é uma das grandes preocupações entre governos, comunidades científicas e empresas ao redor mundo; não é à toa que muitos governos e empresas já estão trabalhando para tentar reduzir o consumo de combustíveis fósseis e as ações do efeito estufa.
Felizmente, vivemos em uma época em que a tecnologia pode ajudar cada vez mais a salvar o planeta contra um possível futuro desastroso para a natureza e, consequentemente, para a humanidade.
Existem diversas maneiras de combater as alterações climáticas, desde a preservação da biodiversidade, a conservação de ambientes naturais, reflorestação, entre outras. Inclusive, a tecnologia pode substituir ou auxiliar os métodos convencionais nos esforços para apoiar esses processos.
As áreas florestadas reduziram em milhões de hectares em todo o mundo, seja devido a atos criminosos que promovem o desmatamento ou ao simples fato de não cuidarmos direito das nossas florestas. Além de causar danos nas áreas florestais, essas ações (ou a falta delas) podem influenciar diretamente na perda de biodiversidade, habitats naturais de diversos animais, entre outros problemas.
Para entender um pouco mais sobre como a tecnologia está ajudando a reflorestar o planeta Terra, o TecMundo bateu um papo com o cofundador e CEO da startup franco-brasileira MORFO, Adrien Pages. Confira!
O que é reflorestação/reflorestamento?
A perda de solo fértil no Brasil, e no mundo, tem se tornado um dos grandes problemas da natureza, algo que torna a mudança climática ainda pior. Pense comigo: quanto menor é o número de árvores no mundo, maior será a quantidade de gases de efeito de estufa. Afinal, a natureza é o que faz os seres vivos serem vivos.
O processo de reflorestamento é uma das formas de evitar que os efeitos da mudança climática sejam ainda piores para o planeta. Trata-se de um processo para replantar árvores em áreas ambientais que foram reduzidas; ou seja, a fim de restaurar uma floresta que sofreu com a agricultura ilegal, mineração, desmatamento, incêndios e outras causas.,
Em palavras mais simples, podemos dizer que o objetivo do reflorestamento é recuperar as florestas destruídas devido a diversos problemas ambientais. Isso permite a restauração de habitats naturais, a geração de oxigênio e, claro, ajuda o planeta a absorver o dióxido de carbono (CO2) da atmosfera, contribuindo para a redução dos gases do efeito estufa.
“No mundo, existem 900 milhões de hectares disponíveis para reflorestamento e florestamento. As Nações Unidas têm como objetivo reflorestar 80 milhões de hectares anualmente, mas ainda estamos alcançando apenas 8 milhões de hectares por ano. É evidente que uma aceleração significativa do processo de reflorestamento é imperativa”, disse Adrien em entrevista exclusiva ao TecMundo.
Como a tecnologia pode ajudar a reflorestar o planeta Terra?
A MORFO é uma startup brasileira-francesa que desenvolveu uma solução em larga escala para reflorestar ecossistemas no Brasil e em outras regiões do mundo, principalmente, em ambientes tropicais e subtropicais, como na Mata Atlântica, na Amazônia e na Floresta Equatorial Africana. Em partes dessas regiões, as florestas foram desmatadas, seja por crimes ambientais ou por queimadas, e se tornaram improdutivas; por isso, a MORFO realiza um processo de reflorestamento — que é dividido em diferentes etapas.
O processo da companhia utiliza, principalmente, drones para o plantio de sementes em grandes áreas; incluindo terrenos íngremes e de difícil acesso. Por exemplo, um único drone é capaz de plantar até 180 cápsulas por minuto em 50 hectares por dia. A startup afirma que é um processo aproximadamente 50 vezes mais rápido que os meios comuns de reflorestamento.
Fases do reflorestamento a partir de drones:
- Na primeira fase, a MORFO faz análises de dados da área que será reflorestada, por meio de drones e satélites;
- A segunda fase é a seleção e coleta de sementes locais ou endêmicas que já foram estudadas e testadas em laboratório;
- Na terceira fase, é iniciado o plantio por meios de drones para dispersar milhares de sementes em cápsulas que oferecem todos os elementos biológicos e nutricionais necessários para o reflorestamento a longo prazo;
- A última etapa é realizar o monitoramento dessas áreas por um período de 5 a 30 anos, utilizando imagens de drones e satélites.
De acordo com Adrien, alguns dos principais diferenciais benéficos do uso da tecnologia é que não se trata de um método tão custoso, intensivo em mão de obra ou que trará muitos desafios para escalar a operação — além disso, é muito mais rápido que os métodos convencionais.
O cofundador também enfatizou que o objetivo da operação não é substituir pessoas pelo uso da tecnologia, mas facilitar e agilizar todo o processo de reflorestamento. Por isso, em média, 20% de todos os projetos são realizados por pessoas; por exemplo, em uma ação no norte do Rio de Janeiro, a MORFO utilizou drones para replantar 75% da área, mas as pessoas que viviam no local foram responsáveis por finalizar os 25% restantes.
Benefícios do uso de drones:
- Eficiência: drones são muito mais eficientes do que o plantio manual por seres humanos. Eles podem plantar a uma taxa de 20 a 100 vezes mais rápida do que as pessoas. Um único drone pode cobrir até 50 hectares por dia e plantar 180 cápsulas de sementes por minuto.
- Redução de custos: a utilização de drones é até 5 vezes mais econômica, principalmente devido à velocidade de plantio. Além disso, o plantio baseado em drones elimina a necessidade de estabelecer e manter viveiros de mudas por vários meses.
- Segurança aprimorada: os drones podem acessar áreas remotas, facilitando o plantio em regiões muito perigosas para a intervenção humana, o que é comum em muitos projetos de reflorestamento.
“Temos planos de restaurar milhões de hectares nos próximos anos, uma vez que estamos atualmente finalizando vários contratos. Além disso, estamos expandindo nosso laboratório no Brasil e fortalecendo nossas parcerias com universidades [brasileiras] (já temos programas científicos com a UFV, UFPR e UFScar). Continuaremos recrutando ativamente novos membros para nossa equipe a fim de apoiar nosso crescimento e missão”, afirma Adrien.
A Inteligência Artificial (IA) pode ajudar?
Além dos drones, a startup franco-brasileira também utiliza diferentes tecnologias para realizar as etapas de reflorestamento, como visão computacional na análise e monitoramento de terrenos, satélites para monitoramento, sensores de solo, sistemas de informações geográficas (SIG), entre outras.
As soluções de Inteligência Artificial (IA) também são de extrema importância no auxílio do reflorestamento e proteção dos ecossistemas florestais. Por exemplo, o uso de IAs em combinação com imagens de satélite podem acompanhar com precisão as mudanças que estão acontecendo em centenas de áreas desmatadas e que sofrem com os efeitos das mudanças climáticas. Também já existem IAs que podem ajudar a prever, detectar e mapear incêndios em áreas florestais.
“Eu acredito que ferramentas de IA são necessárias em todas as etapas de um projeto de restauração. Uma de nossas equipes mais desenvolvidas é composta por cientistas de dados. O trabalho deles inclui a tradução de imagens de satélite e dados coletados por drones em informações acionáveis para definir padrões de plantio. A IA está envolvida em diferentes momentos do projeto: antes do início do projeto para análise, logo antes do plantio para determinar as espécies a serem plantadas e o esquema de plantio a ser seguido, e após o plantio, para monitoramento e rastreamento”, descreve Adrien.
A Terra é o nosso habitat natural, nela plantamos alimentos, plantas medicinais e construímos sociedades para vivermos com saúde em comunidade. Por isso, é tão importante cuidar do planeta para proporcionar um lar seguro e saudável às futuras gerações.
Fonte: TecMundo