Nos últimos anos, tenho observado uma tendência crescente entre as grandes empresas, a abertura de seus próprios fundos de capital de risco, os chamados CVC (Corporate Venture Capital), para investir em novas tecnologias e, assim, criar seus próprios ecossistemas de inovação. Mas quais são as motivações para uma empresa já estabelecida e sustentável, criar um fundo de investimento proprietário?
Quando um fundo de investimento próprio investe em startups, projetos inovadores ou tecnologias emergentes, ele tem acesso às inovações emergentes e, principalmente, àquelas que mais têm potencial e sinergia com o negócio principal. Ou seja, investir em startups e tecnologias emergentes permite que a empresa esteja na vanguarda da inovação, incorporando rapidamente as novas soluções também aos seus produtos e serviços, mantendo-se relevante em um mercado em constante evolução e saindo na frente da concorrência.
Outro benefício é o retorno financeiro, é claro, afinal a diversificação do portfólio é um fator a ser considerado, já que investir em startups pode reduzir a dependência da empresa em relação aos seus produtos ou serviços tradicionais, minimizando os riscos associados às flutuações em um único setor. Assim, se as startups nas quais a empresa investiu prosperarem, ela pode colher recompensas significativas, tanto em termos de lucro, quanto na valorização das suas participações. Outra vantagem é a atração de talentos. Participar ativamente de um ecossistema de inovação torna a empresa mais sedutora para profissionais que desejam fazer parte de uma organização pioneira em tecnologia. Isso é fato.
E por falar em tecnologia, a inteligência artificial segue como uma tendência crescente na área de investimentos. Um bom exemplo é a Chipotle, rede de comida mexicana americana, que lançou a Cultivate Next, seu fundo de investimento para impulsionar novas tecnologias de restaurantes. Ao criar o fundo, em 2022, a intenção da Chipotle era a de se posicionar como a marca mais avançada em tecnologia dentro da sua área de atuação – ao mesmo tempo em que investia em empresas de tecnologia no estágio “Seed to Series B”.
Eventos como a pandemia e a subsequente escassez de mão de obra, forçaram as grandes cadeias de foodservice a encontrar soluções tecnológicas para desafios como sistemas de checkout sem contato ou, no caso da Chipotle, fritadeiras robóticas. Foi quando ocorreu a estreia da Cultivate Next, com o foco de agilizar as operações, buscando a excelência operacional dentro da tecnologia.
Pesquisas (Technomic e Panasonic) apontam que 68% dos donos de restaurantes acreditam que seus gastos com tecnologia aumentarão nos próximos anos. E 71% dos entrevistados, que são formadores de opinião da área de foodservice, classificam a transformação digital como a mais importante na produtividade de suas organizações.
Esse é apenas um dos exemplos de como a criação de fundos de investimento próprios em redes de varejo ou franquias estão se tornando um componente essencial no cenário da inovação corporativa. Empresas que buscam manter sua posição competitiva e adotar uma abordagem proativa em relação à inovação estão cada vez mais explorando novas estratégias, criando ecossistemas que não apenas impulsionam seu crescimento, mas também contribuem significativamente para o avanço tecnológico em suas respectivas indústrias, gerando resultados para todas as partes envolvidas: empresa, fundo, startup e consumidor.
Lyana Bittencourt é CEO do Grupo Bittencourt.