sexta-feira,22 novembro, 2024

Seca na Amazônia pode afetar fornecimento de energia elétrica no País

Pedro Luiz Côrtes afirma que políticas governamentais poderiam ter sido tomadas para evitar algumas das consequências da seca

Com a recente seca que vem atingindo a Amazônia, especialistas avaliam que a região poderá viver a pior situação em toda a sua história — fator que pode se estender para o ano de 2024, segundo previsão do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).

Pedro Luiz Côrtes, professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, explica que a ação do fenômeno El Niño, ao mesmo tempo em que provoca a redução significativa de chuvas no Norte e no Nordeste, gera o aumento de chuvas na região Sul. Assim, até o momento ele se encontra dentro dos parâmetros normais, embora esteja evoluindo possivelmente para aquilo que é chamado de “Super El Niño”, já observado entre 2015 e 2016.

Causas

“O que tem chamado a atenção é que, mesmo antes de uma possível ocorrência de um Super El Niño, nós já estamos presenciando eventos extremos”, comenta o professor. Assim, quando há chuva, ela apresenta-se de forma muito forte e, quando há seca, ela demonstra-se de forma muito intensa. Ou seja, os fenômenos naturais continuam ocorrendo e as suas consequências estão sendo observadas de uma forma muito mais intensa que o usual.

Ainda neste século, a Amazônia também passou por alguns períodos de estiagem, em 2005, 2010 e 2015, que foram os responsáveis por períodos de seca extrema na região. Atualmente, o País se encontra em um período que é tradicionalmente mais seco, em decorrência do fenômeno, mas também do aquecimento intenso do oceano Atlântico. “Os oceanos estão mais quentes que o normal e isso muda a dinâmica dos ventos, fazendo com que ocorram esses extremos em relação aos eventos climáticos”, adiciona.

De uma maneira simplificada, com o acúmulo de gases de efeito estufa na atmosfera, o “cobertor” que protege o planeta — que é a atmosfera — fica mais denso. Assim, a energia que nós recebemos do sol é retida de uma forma maior, fator que confere mais energia para o sistema climático e faz com que os eventos aconteçam com uma intensidade muito maior.

Ações governamentais

O professor avalia ainda que as consequências que estão sendo observadas mostram uma falta de preparo e antecipação dos governos estaduais, municipais e federais, já que essa previsão já estava disponível há alguns meses. A esfera governamental poderia, portanto, ter se preparado com o fornecimento de subsídios ou montando uma estrutura de suporte para que a população não sofresse tanto.

No caso da Amazônia, por exemplo, a falta de rodovias afeta diretamente a vida dos indivíduos, que dependem dos rios para a navegação pela região — característica que impede o recebimento de água, alimentos, medicamentos etc. Assim, o fenômeno apresenta implicações econômicas, sociais e ecossistêmicas, uma vez que a mortandade dos botos é apenas um sinal de um problema muito maior.

O professor também adiciona que a redução da estiagem, com um retorno de chuvas não muito intensas, está prevista apenas para janeiro. Com isso, a seca nessa região só conseguiria ser solucionada no primeiro semestre do ano que vem, juntamente com a possibilidade de que o problema que está sendo observado na região amazônica se estenda para a região central do País, característica que pode afetar a disponibilidade de água e a produção de energia elétrica.

Texto: Redação, do Jornal da USP

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