sábado,23 novembro, 2024

O que acontece com o nosso corpo quando nos exercitamos? Descubra!

Como é difícil levantar do sofá e praticar exercícios, não é mesmo? Entenda aqui, o incrível processo que ocorre no seu corpo quando você se movimenta.

Exercício físico é um estressor por definição, pois implica em uma perturbação ao equilíbrio fisiológico normal do corpo, mas não é como os outros estressores que possuem efeitos adversos negativos. O estresse causado pelo exercício, em dose adequada, é um dos melhores que podemos gerar ao corpo humano. Entenda aqui, detalhadamente como ocorre esse processo que confere múltiplos benefícios à saúde.

O Prof. Guilherme Weiss Freccia, Doutor em Ciências do Movimento Humano e fisiologista do exercício explica que “o exercício é uma perturbação de grande magnitude ao equilíbrio fisiológico, e por isso os diferentes órgãos (e as células que os formam) precisam se comunicar de maneira integrada e simultânea para atender o que a demanda do esforço impôs”.

É quase impossível entender a exata sequência temporal de eventos fisiológicos, até porque devemos considerar que somos capazes de responder a exercícios das mais diferentes magnitudes de intensidade, duração e tipo, afirma Freccia.

O estresse pelo exercício, em dose adequada, é benéfico para a saúde.O estresse pelo exercício, em dose adequada, é benéfico para a saúde. Fonte:  Getty Images 

Os primeiros passos

Segundo Freccia, “o início de tudo se dá no córtex motor, um conjunto de células especializadas no cérebro que respondem à decisão de executar o movimento enviando sinais para os músculos que precisarão ser recrutados com precisão e organização através dos neurônios motores.  Antecipada ou simultaneamente à ação voluntária dos músculos, o corpo prepara os combustíveis, através do comando central ativa respostas cardiovasculares e ventilatórias compatíveis a fim de prevenir qualquer falta de substrato energético e de oxigênio da musculatura que agora está em atividade. Para isso, mais sangue e mais oxigênio agora nutrem a musculatura em atividade (como as coxas no ciclismo), o coração, e os músculos respiratórios”.

O sistema nervoso responde muito rapidamente. A velocidade de condução do sinal nervoso de um neurônio motor é de 70m/s (isso é cerca de 10 vezes mais rápido que o Bolt – recordista mundial na prova mais rápida do atletismo – os 100m rasos). Isso significa uma capacidade de responder ao estresse do exercício em alta velocidade. Mas o sistema nervoso – enquanto durar o esforço – continua o monitoramento dos músculos, articulações, tendões, e se a sobrevivência não corre risco iminente, através da manutenção da glicemia e da temperatura corporal, por exemplo.

Segundo o professor, “o sistema endócrino, como o sistema nervoso (só que um pouco mais lento), também busca os ajustes metabólicos. Há diminuição inicial da insulina circulante e elevação dos níveis de glucagon – hormônio que estimula a produção de glicose no fígado. Essa diminuição da insulina é paradoxal, mas importante, porque essa energia precisa ser direcionada para o músculo ativo, e não pode ser “desperdiçada” em outros tecidos menos necessitados.  Por isso, a célula muscular mobiliza a entrada desse açúcar circulante através de transportadores de glicose que ficam na membrana da célula, o GLUT-4″.

Esse mecanismo interno da musculatura em contração parece ser importante para indivíduos diagnosticados com diabetes tipo II, já que é independente da quantidade de insulina disponível no sangue.

O exercício começa e termina no cérebro.O exercício começa e termina no cérebro. Fonte:Getty Images 

O professor Guilherme Freccia comenta também que “o músculo em contração gera muito calor metabólico, o que pode afetar negativamente a atividade das enzimas responsáveis pelas transformações de energia nos processos metabólicos. Por isso, para esfriar o maquinário, o sistema nervoso já está monitorando o ambiente interno muscular, e secretando um hormônio anti-diurético (ADH) e a aldosterona, que tentam, respectivamente, preservar o desperdício da água e evitar a perda de eletrólitos importantes.”

“Quando a temperatura muscular aumenta muito, uma parte do fluxo sanguíneo será desviada para a derme, promovendo melhor troca de calor com o ambiente, através da sudorese, que causa perda de volume plasmático (água no sangue).” Por isso a hidratação deve ser mantida a todo momento, especialmente no ambiente quente. A sede já é um sinal de desidratação importante, conforme indica o fisiologista.

E as diferenças entre os tipos de exercícios?

Freccia comenta que “em geral, essas respostas do coração, circulação e pulmões, são mais evidentes nos exercícios que chamamos de aeróbios – como uma corrida no parque ou passeio de bicicleta, que recebem esse nome porque o oxigênio participa de grande parte dos processos de transformação de energia.”

Mas naqueles exercícios em que precisamos levantar e/ou suportar pesos, como sua ida à academia, sua capacidade de gerar força muscular repetidamente ganha protagonismo (isso não significa que o aparato cardiopulmonar deixa de ser utilizado, até porque tudo funciona de maneira simultânea e integrada).

O ideal é mesclar atividades aeróbicas com exercícios de força.O ideal é mesclar atividades aeróbicas com exercícios de força. Fonte: Getty Images 

No treinamento de força, o sistema nervoso participa mais ativamente e com mais intensidade, pois recrutar fibras musculares especializadas se faz necessário. Em geral, no corpo temos dois tipos de fibras:

  • As do tipo I (também chamadas de fibras vermelhas ou oxidativas), que não geram tanta força mas que são bastante resistentes;
  • As o tipo II (as brancas ou glicolíticas), que geram muita força mas fadigam rapidamente.

Como raízes de uma árvore que se ramificam a partir do tronco, um neurônio motor se conecta a várias fibras musculares do mesmo tipo, o que chamamos de unidade motora. 

Quando este neurônio motor é ativado, todas as fibras por ele inervadas sofrem contração. Na musculação, por exemplo, a quase todo momento estamos recrutando as fibras do tipo II, que demandam um considerável estímulo do sistema nervoso.

“Ou seja, ao mesmo tempo que optamos por recrutar uma porção de fibras que resistem à fadiga para percorrer grandes distâncias, também podemos optar por recrutar adicionalmente outras porções de fibras que geram grande força (mas que infelizmente se cansam rapidamente)”.

Se tamanhas alterações ocorrem de imediato em nosso corpo, diversas outras adaptações crônicas ocorrem quando repetimos os estímulos (treinos) constantemente, como o ganho de força, a biogênese mitocondrial, o aumento do consumo máximo de oxigênio, maior densidade óssea, o que se traduz em uma pessoa mais forte e mais resistente à fadiga, além de mais saudável. Exercício físico é provavelmente o melhor estressor diário que podemos ter.

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Fábio Dominski é doutor em Ciências do Movimento Humano e graduado em Educação Física pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). É Professor universitário e pesquisador do Laboratório de Psicologia do Esporte e do Exercício (LAPE/CEFID/UDESC). É autor do livro Exercício Físico e Ciência – Fatos e Mitos, e apresenta o programa Exercício Físico e Ciência na rádio UDESC Joinville (91,9 FM); o programa também está disponível em podcast no Spotify.

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