Húngara Katalin Karikó foi premiada nesta segunda-feira com o Nobel de Medicina e Fisiologia 2023, junto com seu colega Drew Weissman, pelas pesquisas que desenvolveu sobre o mRNA, tecnologia utilizada nas vacinas contra o covid-19
Anunciado na manhã desta segunda-feira (2), o Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia de 2023 foi dado aos cientistas Katalin Karikó e Drew Weissman, responsáveis pelas pesquisas sobre o mRNA, ou RNA mensageiro — a tecnologia utilizada no desenvolvimento das vacinas contra a covid-19. O reconhecimento premia um trabalho de décadas e que só ganhou repercussão há pouco tempo.
Em uma entrevista ao jornal espanhol El País, em junho, Katalin Karikó relata que começou a trabalhar “contra a maré” e sem investimento. Nascida na Hungria em 1955, ela se mudou para os Estados Unidos com a família no final da década de 1970. A cientista estava concentrada em encontrar uma maneira de transformar a molécula de RNA em uma terapia. Ao longo dos anos, Karikó chegou a ser rebaixada (ação sem demissão na qual o docente “desce” de categoria) na Universidade da Pensilvânia quatro vezes, dada a sua dificuldade em levantar financiamento para a pesquisa. Para ela, o sucesso foi obter melhores resultados na medida em que fazia mais experiências.
“Não consegui dinheiro para apoiar a pesquisa, mas o sucesso foi avançar nos experimentos: encontrar uma forma de produzir mais proteína com o RNA, modificar a sequência e fazer funcionar melhor, ver se funcionava em animais. Eles tentaram me rebaixar quatro vezes. Se não tivessem feito isso, eu não seria quem sou. Não sinta pena de si mesmo e lamba suas feridas. A única coisa que importa é o próximo passo que você dá”, disse ao jornal.
Em 2005, com seu colega Drew Weissman, ela conseguiu demonstrar que, ao modificar uma letra na sequência do RNA, era possível fazer com que a molécula evitasse uma resposta imunológica. “Alguns anos depois, Moderna e BioNTech aproveitaram a descoberta para criar suas vacinas de RNA mensageiro contra a Covid, criadas em tempo recorde”, lembra o El País. Desde 2020, a cientista recebeu mais de 100 prêmios individuais.
A biologista molecular de 68 anos diz nunca ter se preocupado com prêmios. “Não penso nesses prêmios. Respeito e entendo a importância dos prêmios para chamar a atenção para a ciência. Isso é o que é importante para mim, a ciência, e inspirar as pessoas”, respondeu na entrevista ao jornal espanhol.
Em um relato ao Hindustan Times, ela conta que a mãe sempre teve fé e escutava os anúncios do Nobel todos os anos, há mais de uma década. “Ela ouvia [os nomes premiados] quando eu nem era professora, há 10 anos. Ela sempre ouvia, dizendo: ‘Talvez seu nome seja dito’. Nunca tive equipe, não fui nem professora porque fui rebaixada, então simplesmente larguei. Minha mãe já faleceu e, agora, pode estar ‘ouvindolá de cima'”, disse.
Elogiando Karikó, Thomas Perlmann, secretário-geral da Assembleia do Nobel, disse que ela permaneceu empenhada mesmo quando a sua pesquisa foi recebida com ceticismo. “Mesmo não obtendo reconhecimento, ela lutou”, disse Perlmann, ao anunciar os vencedores.
Fonte: Época Negócios