Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) estima um aumento de até 15% no faturamento de estabelecimentos durante o horário de verão
Quando foi adotado pela 1ª vez no Brasil, em 1931, o horário de verão tinha uma proposta clara: economizar energia elétrica. Entretanto, ao longo dos anos, a medida passou a representar ganhos para alguns setores econômicos – até ser suspensa em 2019.
Na última semana, o tema voltou à tona após a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) enviar uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva pedindo o retorno da medida. A organização — que diz representar 1,5 milhão de empreendimentos em todo o país — estima que bares e restaurantes podem ter um aumento de até 15% no faturamento com a implantação do horário de verão neste ano.
A Associação Nacional de Restaurantes (ANR) também vê uma eventual retomada com bons olhos.
O motivo para o impacto positivo nesses estabelecimentos, segundo Eduardo Menicucci, professor da Fundação Dom Cabral, é a mudança no comportamento dos consumidores. “Imagine uma pessoa que tem um expediente tradicional, das nove às 18 horas. Ela sairá do trabalho e perceberá que o céu ainda está claro, e pode postergar a ida para casa para ir a um bar ou restaurante”, diz. Ele acrescenta que a medida tende a ser mais benéfica para estabelecimentos que vendem alimentos e bebidas relacionados a lazer, como sorvete, açaí, cerveja e refrigerante.
José Eduardo Camargo, líder de conteúdo e inteligência da Abrasel, também ressalta esse tipo de efeito. “Um exemplo são os estabelecimentos que funcionam como restaurante na hora do almoço e viram bar no happy hour. Até mesmo os que operam apenas na parte da noite são favorecidos porque mais pessoas estão circulando”, afirma.
Com o aumento na demanda, a tendência é que toda a cadeia seja beneficiada, complementa Menicucci. “Por exemplo, uma fábrica de açaí em Belém do Pará relatou um aumento expressivo nas vendas por causa do recente calor no Sudeste. Isso também movimenta o setor de logística e os distribuidores. É um efeito em cadeia muito positivo”, diz o professor.
Em nota, a Abrasel afirma que os impactos positivos nos estabelecimentos também resultariam na criação de empregos, “o que é particularmente importante em um momento de recuperação econômica como o que estamos enfrentando”.
A Associação Nacional de Restaurantes (ANR) também é favorável ao retorno do horário de verão. Fernando Blower, diretor-executivo da entidade, lembra que os seus benefícios variam de acordo com a região. “Nas regiões litorâneas já existe o costume de ir a bares na beira da praia no final da tarde, então o impacto pode ser maior.”
Tanto as entidades quanto o professor da Fundação Dom Cabral concordam que nenhum estabelecimento de alimentação seria impactado negativamente pelo retorno da medida – nem mesmo os que têm operação mais significativa na parte da manhã, quando o céu ainda pode estar escuro.
“A rotina das pessoas não muda durante a manhã. Quem passa na padaria para comprar pão às 6 horas continuará saindo para comprar”, afirma Menicucci. “As pessoas que tomam café da manhã na rua não fazem isso por lazer, mas por necessidade por estar em um deslocamento”, acrescenta Blower.
O horário de verão vai voltar em 2023?
Suspenso desde 2019 por um decreto assinado pelo presidente Jair Bolsonaro, o horário de verão ainda não deve ser retomado neste ano.
“Em virtude do planejamento seguro implantado pelo ministério desde os primeiros meses do governo, os dados não apontam, até o momento, para nenhuma necessidade de implementação do horário de verão”, diz o Ministério de Minas e Energia (MME) em nota enviada a PEGN.
A Abrasel contesta o argumento. “Mesmo que a economia [na geração de energia] seja pequena e não faça muita diferença no momento, acreditamos que toda economia é uma boa economia”, diz Camargo.
Blower lembra que a ANR se posiciona contra a suspensão do horário de verão desde 2019. “[O retorno da medida] deixou de ser emergencial na pandemia. Mas agora, com o retorno da normalidade, acreditamos na importância de retomar a discussão”, afirma.
Fonte: PEGN