O ritmo da inovação digital está aumentando rapidamente. E as empresas precisam decidir se devem esperar ou abraçar a mudança
Na década de 2000, eu trabalhava para uma startup de gerenciamento de conteúdo empresarial e uma de nossas equipes criou um recurso interessante: a possibilidade de acessar documentos do Word online usando o primeiro smartphone do mundo, o Blackberry.
Pode parecer algo simples nos dias de hoje, já que podemos fazer praticamente qualquer coisa com nossos smartphones, mas, naquela época, era considerado inovador. Lançamos o recurso, porém, antes de o Blackberry se tornar o sucesso que seria alguns anos depois. Como resultado, a adoção foi baixa.
SERIA IRRESPONSÁVEL PARA OS LÍDERES NÃO RECONHECEREM O POTENCIAL INOVADOR DESSAS TECNOLOGIAS NO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO DE LONGO PRAZO.
Para mim, isso ilustra uma contradição que frequentemente ocorre com avanços tecnológicos ao longo da história: toda a atenção que recebem geralmente vem acompanhada de grande ceticismo e cautela. As pessoas costumam questionar a necessidade da nova tecnologia. Em alguns casos, como aconteceu com o recurso do Word, as empresas entram no mercado muito cedo.
Tenho refletido sobre isso ultimamente, à medida que o entusiasmo em torno de tecnologias emergentes, como inteligência artificial (IA), realidade virtual (RV) e realidade aumentada (RA) cresce, diminui e depois renasce.
Se a história nos ensinou algo, é que a pergunta central frequentemente feita sobre esses avanços – é apenas hype ou é realmente revolucionário? – faz parte do processo.
Tomemos como exemplo os automóveis. Em 1899, o “Literary Digest” publicou: “a ‘carruagem sem cavalo’ é, no momento, um luxo para os ricos; e, embora seu preço provavelmente caia no futuro, com certeza, jamais se tornará tão popular quanto a bicicleta.”
O mesmo aconteceu com a internet. Em 1995, o astrônomo e colunista de tecnologia Clifford Stoll desdenhou da então nova mídia, dizendo que era “tendenciosa e superestimada”.
Quando o primeiro iPhone foi lançado, em 2007, a Apple o descreveu como “revolucionário e mágico”, mas muitos não estavam convencidos disso. “Não é nada mais do que um mimo de luxo que atrairá apenas alguns fanáticos por dispositivos”, escreveu Matthew Lynn para a “Bloomberg”.
A PERGUNTA CENTRAL FREQUENTEMENTE FEITA SOBRE ESSES AVANÇOS – É APENAS HYPE OU É REALMENTE REVOLUCIONÁRIO? – FAZ PARTE DO PROCESSO.
Até mesmo a lâmpada elétrica foi ridicularizada quando Thomas Edison a apresentou, em 1879. “Todos familiarizados com o assunto reconhecerão [as experiências de Edison] como um fracasso evidente, anunciado como um sucesso maravilhoso”, afirmou Henry Morton, presidente do Instituto de Tecnologia Stevens.
Esses exemplos me levaram a ter uma visão otimista das tecnologias que estão surgindo. Acredito que a IA, RV e RA têm boas chances de remodelar a forma como as empresas interagem com os clientes.
Portanto, seria irresponsável para os líderes não reconhecerem o potencial inovador dessas tecnologias no planejamento estratégico de longo prazo. Elas oferecem muitas oportunidades e as empresas precisam começar a explorar como podem ajudar a impulsionar seus negócios.
Aqui estão três conselhos que gostaria de oferecer aos executivos seniores:
1. Reconheça a realidade: as chances são boas de que essas tecnologias tenham vindo para ficar
Com sua capacidade de interpretar grandes quantidades de dados, gerar insights e aprender continuamente, os algoritmos de IA oferecem um potencial sem precedentes para melhorar os processos de negócios e as experiências dos clientes.
“Esses avanços em IA são realmente revolucionários”, afirma a analista da Forrester Christina McAllister. “Estamos testemunhando um momento decisivo acontecer diante de nossos olhos”.
Quanto à RV e RA, a Apple causou um grande impacto com o recente anúncio do Vision Pro, que ela chama de “primeiro computador espacial”, capaz de combinar conteúdo de realidade aumentada com o mundo físico e oferecer o que descreve como uma experiência digital nova e diferente.
A empresa tem uma equipe talentosa, com muito mais sucessos do que fracassos em termos de produtos nas últimas décadas, então, estou ansioso para ver o lançamento e a estratégia da Apple nesse espaço.
A iniciativa de realidade virtual da Meta certamente teve seus altos e baixos desde que Mark Zuckerberg anunciou sua empreitada no metaverso, em 2021. Mas, considerando os recursos da empresa e seu histórico de sucesso com o Facebook e com o Instagram, vou para pagar para ver. Se valerá a pena, só o tempo dirá.
Acredito que as chances são razoavelmente altas de que essas tecnologias desempenhem um papel importante nas nossas vidas em algum momento durante a próxima década. As empresas que ignoram a necessidade de investir nelas agora o fazem por sua própria conta e risco.
2. Seja ousado no design e consulte os clientes antes de começar a construir
Empresas que conseguirem descobrir como usar essas tecnologias para criar experiências de cliente inovadoras e mais imersivas terão sucesso. Agora é o momento certo para começar a projetar essas experiências, com ousadia e coragem.
OS ALGORITMOS DE IA OFERECEM UM POTENCIAL SEM PRECEDENTES PARA MELHORAR OS PROCESSOS DE NEGÓCIOS E AS EXPERIÊNCIAS DOS CLIENTES.
Também é importante aproveitar a etapa entre o design e a construção para conversar com os clientes e avaliar a adequação do produto ao mercado. Imagine ser uma empresa que pode dizer “não construímos nada que os clientes não tenham aprovado”. Isso está se tornando mais essencial para superar qualquer ceticismo que os consumidores possam ter em relação às novas tecnologias.
Vale a pena repetir: as empresas que conseguirem criar inovações ousadas e validadas pelos clientes sairão na frente. Simples assim. Poder ouvir deles “é isso o que eu quero” é muito melhor do que simplesmente dizer “surpresa! Olha o que acabamos de lançar”.
3. Trabalhe para construir a confiança junto ao consumidor
De acordo com o Fórum Econômico Mundial, “as organizações de hoje devem ser capazes de demonstrar que seus sistemas e algoritmos são responsáveis, justos, éticos e de fácil compreensão”. Uma pesquisa realizada pela Forbes Advisor mostra que 76% dos consumidores estão preocupados com a desinformação gerada por ferramentas de IA, como o Google Bard, ChatGPT e Bing Chat.
As empresas precisam estar cientes das possíveis lacunas de confiança ao adotar novas tecnologias disruptivas – sendo transparentes quanto à forma como estão sendo utilizadas e explicando por que os consumidores podem se sentir seguros em relação à privacidade e a quaisquer outras preocupações.
Como mostram essas três sugestões, existem medidas que as empresas podem e devem tomar agora para se preparar para um futuro tecnológico que não está garantido (afinal, o que realmente está?), mas que tem potencial suficiente para revolucionar mercados como varejo e serviços financeiros.
O risco de ficar para trás é muito alto.
Texto: Andy MacMillan