Entre no Clima ouve Alcione Pereira, fundadora da Connecting Food, que combate o desperdício com gestão eficiente de doações de alimentos bons para consumo que seriam descartados
Unindo o varejo e a indústria no combate ao desperdício, uma foodtech brasileira especializada em conectar os alimentos que seriam descartados às organizações sociais que atendem pessoas em situação de vulnerabilidade social está levando impacto positivo a milhares de cidadãos em dezenas de cidades do país. Com atuação nos três pilares do ESG, a empresa virou uma parceira estratégica do setor, por meio da gestão de doações de alimentos bons para consumo e que iriam para o lixo.
A fome e o desperdício de alimentos estão entre os maiores paradoxos da atualidade: por um lado, mais de 125 milhões brasileiros não fazem as três refeições diárias e 33 milhões passam fome, de acordo com um estudo divulgado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan). Por outro lado, 55 milhões de toneladas de alimentos são desperdiçados anualmente no país, segundo o Relatório Diagnóstico Mapa da Fome e do Desperdício de Alimentos no Brasil 2022, produzido pela Consultoria do Amanhã e pela Integration para a UniãoSP.
Pensando em minimizar os efeitos desse paradoxo, a Connecting Food, por meio do uso de tecnologia, dados e conexões, procura levar o “S” do ESG para o centro da estratégia das empresas da cadeia de alimentos e de quaisquer outras organizações que queiram atuar neste mesmo sentido.
“É muito gratificante. Realmente poder visualizar esse impacto no dia a dia é algo que nos alimenta. Alimenta a alma. E, de certa forma, é o que traz esse combustível para vencer esses desafios, todos os dias, de convencer empresas e estar nesse diálogo com a sociedade, com a iniciativa privada, de que é importante investir em impacto social no nosso país”, destaca Alcione Pereira, fundadora e CEO da Connecting Food.
No cumprimento da agenda ESG, a empresa destaca que é reconhecida na introdução do “S” (social) e, como consequência direta, também do “E” (ambiente, na sigla em inglês) – afinal, ao ajudar a reduzir o desperdício de alimentos, o impacto ambiental é igualmente minimizado em toda a cadeia produtiva. Conforme Alcione, a Connecting Food também traz aprofundamento e relevância no “G” (governança): auxilia as empresas em pontos estratégicos, como a legislação tributária relacionada às doações, as avaliações de impacto, as práticas de compliance e as métricas sobre avanços e benefícios para divulgação aos públicos de maior interesse.
“Este trabalho já conta com o respaldo de clientes como Grupo Pão de Açúcar, Assaí Atacadista, Nestlé, Camil, iFood, entre outros. É sempre desafiador você ter um modelo de negócio e ser validado no mercado, agora imagina para uma empresa de impacto social, você validar esse modelo. Continua sendo desafio, mas estamos mostrando para muitas empresas brasileiras que fazer impacto social é algo que, sim, traz um retorno: para além do financeiro, também social e ambiental”, lista ela.
Tecnologia aliada ao ESG
A fundadora da foodtech aponta que toda a operação da Connecting Food é realizada com análise de dados para promover a destinação dos alimentos excedentes bons para consumo a organizações da sociedade civil. Além disso, é feita a verificação da idoneidade dessas organizações e o acompanhamento de todo o processo, para assegurar que a comida realmente saia dos doadores e chegue a quem precisa.
“Utilizamos tecnologia, estratégia logística e relações humanas para conectar esses alimentos que seriam descartados, mas ainda são bons para o consumo, às redes que fazem a sua redistribuição para organizações sociais. Acreditamos que esta seja uma das chaves para minimizar os impactos da fome no Brasil e também para o desenvolvimento sustentável de empresas que atuam com a produção, distribuição e comercialização de alimentos ou queiram contribuir de forma direta para essa causa”, aponta Alcione.
Atualmente, mais de 440 Organizações da Sociedade Civil (OSCs), presentes em 144 cidades de 23 Estados, já foram beneficiadas com a redistribuição de mais de 9 mil toneladas de alimentos que seriam desperdiçados, o que gerou o complemento de cerca de 17 milhões de refeições a quem precisa.
Dentre as regiões com a maior capilaridade de redistribuição local está o Sudeste, com 423 locais, somando 3,5 milhões de quilos de alimentos; e o Nordeste, com 70 pontos onde as doações já chegaram a 400 mil toneladas (dados referentes ao período de janeiro de 2022 a abril de 2023). Entre esses alimentos, 90% são frutas, legumes e verduras, no entanto, também são doados arroz, feijão, açúcar, café, entre outros.
Texto: Guilherme Justino, do Um Só Planeta