Revisão feito por cientistas mostra que atividades humanas aumentam pressão sobre o Planeta e violam limites vitais
A humanidade ultrapassou seis dos nove limites planetários necessários para manter a estabilidade e resiliência da Terra, colocando em risco o próprio sistema que suporta a nossa vida. O caso do paciente é grave? Sim, gravíssimo, o que não implica, necessariamente, um desastre imediato, mas aumenta o risco de pôr em marcha processos que provavelmente mudarão de forma irreversível as condições ambientais por aqui.
Autora principal do estudo, publicado na revista Science Advances, Katherine Richardson, professora de oceanografia e líder do Centro de Ciências da Sustentabilidade da Universidade de Copenhague compara o estado de saúde do nosso Planeta ao de um paciente com doença arterial. “Podemos pensar na Terra como um corpo humano e nas fronteiras planetárias como a pressão sanguínea. Acima de 120/80 não indica um certo ataque cardíaco, mas aumenta o risco e, por isso, trabalhamos para reduzir a pressão arterial”, explicou.
Os seis limites transgredidos pelas atividades humanas incluem as mudanças climáticas, a integridade da biosfera (diversidade genética e energia disponível para os ecossistemas), mudanças no sistema terrestre, mudanças na água doce (mudanças em todo o ciclo da água sobre a terra), fluxos biogeoquímicos (incluindo os ciclos de nutrientes) e novas entidades (como os microplásticos, e os desreguladores endócrinos presentes em produtos químicos, pesticidas e poluentes orgânicos).
É possível reverter esse diagnóstico? Sim, e há exemplos que como coletivamente podemos alcançar isso. “O limite para a destruição da camada de ozônio foi ultrapassado na década de 1990, mas graças a iniciativas globais, catalisadas pelo Protocolo de Montreal, este limite já não é transgredido”, exemplificou Katherine.
O conceito das “fronteiras planetárias” foi estabelecido pela primeira vez em 2009 em um artigo científico influente que definiu um conjunto de limites interligados que garantem um espaço operacional seguro para a humanidade. A conta faz um balanço das agressões crescentes, que minam processos sistêmicos essenciais, e a capacidade da Terra de retornar ao seu estado natural após uma perturbação.
Embora a transgressão de uma fronteira não implique mudanças drásticas de um dia para o outro, em conjunto marcam um limiar crítico para riscos crescentes para as pessoas e para os ecossistemas dos quais fazemos parte. E um risco acumulativo: dos incêndios do Havaí e no hemisfério norte às enchentes no Sul do Brasil, tudo tem influência em maior ou menor grau das violações da espécie humana ao mundo natural.
O novo estudo é a terceira grande avaliação do quadro de limites planetários e o primeiro a fornecer uma verificação completa de todos os nove processos e sistemas que mantêm a estabilidade e resiliência do nosso planeta. “Esta atualização sobre os limites planetários retrata claramente um paciente que não está bem, à medida que a pressão sobre o planeta aumenta e os limites vitais são violados”, afirma Johan Rockström, um dos precursores do conceito dos limites e diretor do Instituto Potsdam de Pesquisas sobre o Impacto Climático (PIK), e coautor da nova pesquisa que usa modelos e simulações computacionais para dimensionar as transgressões humanas.
Não sabemos por quanto tempo poderemos continuar a transgredir estes limites fundamentais antes que as pressões combinadas levem a mudanças e danos irreversíveis”.
— Johan Rockström,
Tudo está interligado
À luz destes novos resultados, os pesquisadores destacam que a resiliência da Terra vai muito além das mudanças climáticas e que a coletividade precisa agir para mudar o curso de pressão negativa sobre nosso lar. “A estrutura das fronteiras planetárias ajuda os cientistas a acompanhar e comunicar como estas pressões crescentes estão desestabilizando nosso Planeta. A Terra é um planeta vivo, por isso as consequências são impossíveis de prever. É por isso que estamos trabalhando cada vez mais com os gestores políticos, as empresas e a sociedade em geral para tentar mitigar as pressões em todas as fronteiras”, salienta a coautora Sarah Cornell, do Centro de Resiliência de Estocolmo da Universidade de Estocolmo.
Texto: Redação, do Um Só Planeta