De acordo com CEO da empresa de gestão de talentos Meseekna, o fenômeno é um resultado natural da percepção de gratificação instantânea que acompanha as redes sociais
Antes da redatora e diretora criativa Sarah Jenkins se tornar freelancer, ela passou três anos em uma pequena agência de publicidade — uma que ela cortejou por meio de “uma combinação de slides por DM e e-mail”.
Depois de admirar de longe o trabalho da agência, ela mandou uma mensagem diretamente para o diretor de criação, uma pessoa conhecida dela, pelo Facebook. Depois que o diretor respondeu positivamente, Jenkins, de 40 anos, residente em Missouri, nos Estados Unidos, enviou um e-mail ao fundador e CEO no mesmo dia.
Ela se encontrou com o CEO na semana seguinte e logo depois conseguiu um cargo de redatora sênior, graças aos seus anos de experiência trabalhando para uma agência maior. Jenkins conta que sua “audácia” de falar com o diretor sem “intermediários” a ajudou a conseguir o emprego.
“Eles não estavam tecnicamente contratando ninguém que se adaptasse às minhas habilidades naquela época. Mas eu tinha uma grande energia do tipo ‘por que não?’.”
Muitos candidatos estão ficando mais ousados, contornando as práticas tradicionais de contratação e indo direto à fonte. É uma estratégia cada vez mais comum que está ajudando alguns trabalhadores de todos os matizes – especialmente os mais jovens – a conseguir cargos cobiçados.
‘Estender a mão e tocar alguém’
Gina Nichols, recrutadora da agência Hirefor, com sede nos EUA, diz que o fenômeno crescente é resultado do “acesso”.
“As gerações mais velhas não tinham acesso às redes sociais, mas as gerações mais jovens têm todo o tipo de ferramentas digitais”, diz Nichols.
“Agora publicamos uma vaga e você tem centenas de candidatos em questão de horas. Então, para se diferenciar em uma massa como essa, estender a mão e encostar em alguém — o que você tem a capacidade de fazer em múltiplas plataformas — é uma jogada inteligente.”
O fenômeno é um resultado natural da percepção de gratificação instantânea que acompanha as redes sociais, afirma Akhila Satish, CEO da empresa de gestão de talentos Meseekna, sediada nos EUA.
“Acho que estamos em um mundo onde muitas coisas estão acontecendo mais rápido”, diz ela. “E acho que o processo de contratação em geral é uma daquelas coisas em que o ritmo não mudou muito”, diz.
Esse ritmo tradicionalmente lento pode frustrar alguns candidatos mais jovens, que estão habituados a estabelecer ligações rápidas por meio das redes sociais, explica Satish. Isso, por sua vez, os encoraja a entrar em contato por meio de canais não tradicionais para se conectarem mais rapidamente com quem tem a caneta na mão.
Jennifer Nash, coach e autora do livro Be Human, Lead Human, diz que o fenômeno também está ligado à natureza mutável da cultura de trabalho, que evoluiu rapidamente desde o início da pandemia de covid-19.
“A pandemia despertou o status quo de como o trabalho era feito, como as pessoas procuravam cargos e como os empregadores contratavam pessoas”, diz Nash.
Agora, afirma ela, os candidatos a empregos se sentem capacitados para tornar o processo de contratação “mais parecido com uma parceria”, em vez de uma provação unilateral e obscura.
“Há essa flexibilidade agora, e esta liberdade de dizer: ‘Vou me destacar de uma maneira um pouco diferente: aparecendo da minha forma mais autêntica e contribuir com valor para esta organização'”, diz Nash.
É melhor verificar
Com maneiras aparentemente infinitas de se conectar aos empregadores, Satish aconselha que os candidatos a vagas de emprego — especialmente os mais jovens — chequem a ousadia de sua abordagem antes de entrar em contato.
“Estou sempre incentivando maneiras novas e interessantes de chamar a atenção de quem procura emprego”, diz Satish. “Dito isto, acho que há um bom equilíbrio que as pessoas podem tentar: mostram suas habilidades e seus conhecimentos com um novo meio, ao mesmo tempo em que apreciam o fato de que podem estar chegando à mesa de alguém não ser tão familiarizado com esses novos meios.”
Antes de ir diretamente à fonte, Satish recomenda que os candidatos pesquisem a cultura da empresa.
“Se você está se candidatando a uma vaga em uma empresa jovem e pequena, e você pode ver que os chefes estão no LinkedIn — e você sabe que essas pessoas estão por perto, e que são 5, 6 ou 7 anos mais velhas que você e elas vão entender sua abordagem — absolutamente vale a pena se expor”, diz ela. “Se você estiver se candidatando em uma empresa mais tradicional e estabelecida, pode não funcionar da mesma maneira”, diz.
Em caso de dúvida, Satish aconselha usar o LinkedIn. “Conectar-se no LinkedIn é uma abordagem de risco relativamente baixa”, diz. “Acho que é algo que se tornou um meio comum de recrutamento e que as pessoas estão cientes disso.”
Para se preparar para o maior impacto, Satish recomenda que os candidatos mantenham seus perfis do LinkedIn atualizados — não deve ser um documento estático como um currículo. “Você precisa tratar o seu LinkedIn como um lugar onde, independentemente da empresa que o procurar, as pessoas encontrarão algo de interesse e valor”, diz ela.
Novo status quo
No caso de Jenkins, a abordagem ousada funcionou — mas também houve uma coincidência.
“Acontece que a agência também estava pensando em expandir os serviços criativos e de marketing na época — seu foco principal eram websites — e esse é o meu conjunto de habilidades”, diz Jenkins. “Talvez eu não tivesse sido tão ousada com uma empresa corporativa maior, onde não tivesse conexão ou contexto.”
Do ponto de vista do recrutador, Jenkins acertou em cheio na abordagem. Nichols explica que, na maioria dos casos, entrar em contato com potenciais empregadores e recrutadores de maneira respeitosa não faz mal.
“Se estou procurando uma iniciativa independente, há muitas boas bandeiras verdes que surgem [ao tomar a iniciativa]”, diz ela. “Se você é um recrutador inteligente, você constrói um catálogo de bons candidatos para recorrer quando as oportunidades surgirem. Portanto, mesmo que eu não tenha algo que se alinhe com o conjunto de habilidades de um candidato específico, eu com certeza terei uma conversa com eles.”
À medida que as condições econômicas instáveis continuam a impactar o mercado de trabalho, contornar os portais convencionais pode ser a melhor forma de ser notado.
Quer os candidatos estejam reforçando seus perfis no LinkedIn ou entrando nas mensagens diretas de um recrutador, pensar fora do currículo comum pode render resultados positivos.