Após a síndrome de Burnout ser incluída pela OMS na lista das doenças ocupacionais, mais e mais empresas investem na pesquisa e aprofundamento interno como base da criação de programas de impacto

O debate sobre a saúde mental no ambiente de trabalho é um dos temas mais discutidos atualmente. A preocupação ganhou ainda mais notoriedade em 2022, quando a síndrome de Burnout, ou síndrome do esgotamento profissional, passou a ser incluída pela Organização Mundial da Saúde (OMS) na lista das doenças ocupacionais. O Relatório Mundial de Saúde Mental publicado pela organização, em junho do ano passado, mostra que 15% dos trabalhadores adultos foram diagnosticados com algum tipo de transtorno mental no ano anterior.

A importância do tema entra ainda mais em evidência neste mês, quando é realizada a campanha do Setembro Amarelo, que marca o período de conscientização sobre a prevenção do suicídio e a importância de cuidar da saúde mental. Embora a campanha não seja voltada exclusivamente para profissionais ativos, o ambiente de trabalho – por ser um espaço mais propenso a surgir essas questões (seja pela quantidade de horas trabalhadas, seja por possíveis pressões na entrega de resultados) – é um espaço que merece ainda mais atenção.

Atentas à sensibilidade do assunto e da necessidade de abordar a questão de forma transparente, diversas empresas têm implementado programas de apoio aos funcionários que visam promover soluções em prol do bem-estar dos empregados. Amplamente inseridas no dia a dia de duas das maiores multinacionais de energia do mundo, com atuação no Brasil, as ações encontram exemplificam como o tema é abordado no cenário global.

Abordagem global para cuidado com a saúde mental

A francesa TotalEnergies adotou uma abordagem global em relação à saúde mental a partir de uma estrutura ligada ao bem-estar e à qualidade de vida no trabalho. Segundo a empresa, o programa batizado de Política Global de Prevenção de Riscos Psicossociais (PSRs) está baseado em quatro áreas: nível mínimo de conscientização e treinamento para todos os funcionários; um sistema para medir o estresse individual e avaliações coletivas de fatores de risco psicossocial no ambiente de trabalho; um sistema de escuta e suporte para os funcionários em caso de situações delicadas ou de crise; e indicadores de monitoramento em tempo real.

A americana ExxonMobil é outra empresa quem vem investindo em iniciativas para a promoção do bem-estar laboral. A companhia realiza o monitoramento da saúde mental com foco na prevenção, evolução e aptidão para o trabalho. Segundo Ludmila Ribeiro dos Santos Dias, Enfermeira do Trabalho, a companhia promove, anualmente, um workshop de saúde mental com a liderança e com todos os colaboradores, a fim de criar um ambiente confortável. As ações são realizadas por meio de comitês internos, sendo o principal deles o comitê de saúde, CoH – Culture of Health, composto por 10 membros de diferentes áreas, além de um representante do Departamento Médico. As iniciativas são globais e estão presentes nos 36 países onde a ExxonMobil atua.

Ao longo do ano, a empresa também desenvolve, o Pandora, programa que ampara todas as iniciativas de saúde mental, bem-estar físico e mental, por meio de palestras e conteúdos informativos, com a ajuda de um médico psicanalista externo, que dá suporte para melhor estruturar as ações e iniciativas. De acordo com a companhia, o objetivo é fornecer um ambiente seguro e inclusivo onde todos se sintam à vontade para discutir suas preocupações com a saúde mental sem medo de estigma ou discriminação. Isso inclui fornecer informações sobre serviços de aconselhamento, grupos de apoio e outros recursos de saúde mental disponíveis dentro e fora do local de trabalho.

Pesquisa e aprofundamento interno, como chave para criar soluções

É evidente que a abordagem global, tomada pelas empresas transnacionais, tem grande foco na pesquisa e no aprofundamento do clima interno, primeiro entendendo quem são os colaboradores e quais os seus desafios antes de propor soluções. Nessa direção, empresas brasileiras de diferentes setores preparam pesquisas, contratam especialistas e contam com times especializados para a criação de programas e ações de impacto.

No setor de advocacia, em especial, a síndrome de Burnout entre os jovens profissionais pode impactar gravemente a carreira. Um exemplo de ações no setor pode ser encontrado no BMA Advogados, um dos maiores escritórios de Direito do país, com unidades no Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília, que reestruturou suas políticas internas e vem implementando novas ações para promover a saúde mental.

Seguindo a estratégia das multinacionais, o Escritório contratou o psicanalista André Fusco, com mais de 10 anos de experiência atendendo diversas organizações, para realizar um estudo organizacional com grupos focais, para um melhor entendimento do ambiente interno. De acordo com a Gerente de RH do BMA, Sandra Zarache, os resultados irão apoiar o desenvolvimento de boas práticas e políticas com um olhar mais cuidadoso para a saúde mental e para o bem-estar coletivo.

O escritório também implementou um Comitê Interno de Bem-estar, que, entre outras iniciativas, possui um canal para denúncias que funciona 24 horas e um aplicativo de acompanhamento psicológico. O Comitê também mede indicadores institucionais, tais como sinistralidade do plano de saúde, quantidade de afastamentos, índice de engajamento e redução no volume de tarefas.

Fonte: Exame