E, consequentemente, uma peça-chave para a redução da emissão de gases de efeito estufa no planeta. Porém, entre o que se planeja e a execução, temos um longo caminho a percorrer, no qual as ações governamentais e as políticas públicas terão papel decisivo.
E o hidrogênio verde é a chave para unir progresso econômico e sustentabilidade na cadeia produtiva agropecuária. Segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu acima do esperado no primeiro trimestre. O crescimento de 1,9%, em relação ao trimestre anterior, e de 4%, em relação ao mesmo período do ano passado, demonstra a importância do agronegócio, cujo crescimento de 21,6% impulsionou a balança comercial, superando outros setores importantes para a economia.
Esse bom desempenho atribuído, em grande parte, à recuperação da atividade agrícola, pode tornar o agronegócio um importante líder no mercado global de hidrogênio verde. De acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), as perspectivas de aplicação do hidrogênio na indústria brasileira identificaram que os setores de refino e fertilizantes têm potencial de uso imediato das opções sustentáveis como estratégia de descarbonização.
As oportunidades incluem a eletrificação de equipamentos agrícolas, o armazenamento de energia renovável, a mobilidade agrícola sustentável, a produção de fertilizantes verdes e a autossuficiência energética nas propriedades rurais. O uso dessa energia limpa também pode ser utilizada em processos como transporte, logística e produção. Além disso, o hidrogênio verde pode propiciar o sequestro de carbono ao transformar os resíduos da agropecuária para obter biofertilizantes.
Somos privilegiados geograficamente e oferecemos atualmente todas as condições naturais para atrair a indústria do H2V, mais novo e desejado combustível sustentável. Temos abundância tanto de energia quanto de água, insumos essenciais para o processo de produção e um diferencial sobre mercados concorrentes. Contamos com uma das mais longas costas litorâneas do mundo – de 7.491 quilômetros de extensão – além de 175 instalações portuárias. Dispomos também de uma ampla geração de energia limpa. Em 2022, do total da geração de energia elétrica, 92% resultaram de fontes renováveis. Somos o terceiro país que mais produz energia renovável no mundo, atrás apenas de EUA e China, e em termos de preço, um dos mais competitivos internacionalmente.
E o mundo está de olho em todo esse potencial. Segundo a consultoria alemã Roland Berger, o Brasil pode se tornar o maior produtor de hidrogênio verde do mundo e alcançar uma receita anual de R$ 150 bilhões a partir de 2050, dos quais R$ 100 bilhões seriam provenientes das exportações. E não paramos por aí. Nosso custo para a produção do H2V seria o menor do globo, a US$ 0,55/kg até 2050, de acordo com projeções da Bloomberg New Energy Finance.
Atualmente, as principais iniciativas de hidrogênio em andamento estão no Nordeste, nos estados do Ceará, Pernambuco e Bahia, além do Rio de Janeiro, no Sudeste. Segundo dados do Ministério de Minas e Energia, já foram divulgados protocolos de entendimentos também nos estados do Rio Grande do Norte, Espírito Santo e Rio Grande do Sul. Juntos, os projetos somam mais de US$ 20 bilhões de capex.
O combustível é hoje uma aposta natural de descarbonização das principais multinacionais de energia. A britância bp, por exemplo, adquiriu ano passado a participação de 40,5% e tornou-se operadora do Asian Renewable Energy Hub (AREH), um dos maiores hubs de energia renovável, localizado na Austrália. Em Portugal, nós, da Lightsource bp, formamos uma parceria com a portuguesa Dourogás, empresa de fornecimento de gás, para investimentos em energia solar e infraestrutura de hidrogênio no país, e firmamos um memorando de entendimento (MoU) com o Governo do Ceará para desenvolvimento de estudos visando a implantação de projetos na cadeia do H2V no estado. Como a energia solar é o recurso renovável perfeito para suprir as instalações de hidrogênio verde, o portfólio atual e futuro da Lightsource BP poderá ser desenvolvido e compartilhado para alavancar este objetivo de impulsionar a indústria de H2V, em direção ao reequilíbrio climático global.
Complementar a outras tecnologias, o hidrogênio verde é, sem dúvida, o principal recurso para reduzir a emissão de gás carbônico por indústrias de siderurgia, fertilizantes, transporte pesado, navegação marítima, aviação e petroquímica. Fomentará a criação de milhares de empregos e a atração de bilhões de dólares em investimentos para a economia nacional. Para tal, é essencial contarmos com uma legislação e regulamentação adequadas à criação de um ambiente competitivo. Nós, do setor de energia, temos muito a contribuir para esse processo, que deve acontecer num futuro muito próximo, aproveitando essa janela de oportunidade que se desenha no mundo.
Pedro Vidal, Vice-presidente de Originação e Comercialização da Lightsource bp no Brasil
Fonte: FSB