segunda-feira,25 novembro, 2024

Big Techs aprofundam dependência econômica do Brasil, diz pesquisador Evgery Morozov

O renomado pesquisador, escritor e jornalista bielorrusso Evgery Morozov encontra-se em uma viagem pela América do Sul, apresentando sua pesquisa sobre os impactos adversos que as grandes empresas de tecnologia, conhecidas como big techs, podem causar às economias que utilizam os serviços dessas gigantes da tecnologia, um cenário que se encaixa perfeitamente ao contexto brasileiro.

Além de visitas a São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro, a agenda de Morozov inclui paradas no Chile e na Argentina, com o objetivo de disseminar suas análises sobre a dependência tecnológica de países em desenvolvimento.

Durante uma palestra realizada na Universidade de Brasília (UnB), intitulada “Contestando o Poder das Big Techs: Soberania Tecnológica e Futuros Digitais Alternativos,” o pesquisador argumentou que nações como o Brasil devem se esforçar para alcançar sua autonomia tecnológica, investindo na criação de técnicas e infraestruturas digitais próprias, a fim de não dependerem das big techs estrangeiras.

Morozov enfatizou a preocupação crescente de que o Brasil esteja se tornando mais dependente dessas empresas, pagando cada vez mais por serviços e infraestruturas que idealmente deveriam ser desenvolvidos localmente, sob controle do país consumidor, assim como ocorre com recursos essenciais, como petróleo e eletricidade.

O pesquisador, que reside na Itália, destacou que a simples regulação das plataformas digitais, embora importante, não é suficiente para garantir a autonomia econômica de uma nação, já que esta depende crucialmente da autonomia tecnológica, ou seja, do domínio sobre tecnologias digitais de ponta. Ele afirmou que “defender a soberania tecnológica é defender a soberania econômica, sendo o primeiro um pré-requisito para o segundo.”

Papel do Estado na busca por autonomia tecnológica

Morozov argumentou que somente o Estado tem a capacidade de liderar uma transformação eficaz no cenário digital capaz de fazer frente ao poder das Big Techs. Ele ressaltou que as nações devem investir em setores emergentes e incentivar o surgimento de novas empresas que desempenhem papéis cruciais na tecnologia, abrangendo desde a produção de microprocessadores para 5G até o desenvolvimento de Inteligência Artificial (IA).

Dado que essa agenda enfrentará forte oposição, o pesquisador enfatizou que apenas o Estado possui a capacidade de liderar o desenvolvimento tecnológico com base nacional. Ele alertou que haverá resistência por parte de corporações e até mesmo de agências de segurança nacional, como a CIA (Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos), que podem se opor a tais mudanças. No entanto, Morozov acredita que a única maneira de realizar esse objetivo é com o Estado, com todo o seu poder e burocracia, esforçando-se para implantar essa visão e ao mesmo tempo protegendo-se contra ameaças de subversão.

O pesquisador citou o exemplo da China, que tem investido significativamente em semicondutores (chips), infraestrutura digital móvel (5G) e IA na tentativa de se libertar da dependência tecnológica. Os Estados Unidos também tomaram medidas para evitar essa independência, como a proibição de novos investimentos em tecnologias sensíveis na China.

Além disso, Morozov ressaltou que desenvolver infraestruturas digitais e IA alternativas requer um alto investimento financeiro, que só pode ser financiado pelo Estado. Empresas como Google e Amazon investem de US$ 10 bilhões a US$ 15 bilhões por ano em tecnologia, uma quantia que não pode ser igualada por entidades privadas ou pequenas empresas.

Tecnologia e Economia

As tecnologias como semicondutores, inteligência artificial e infraestrutura de telecomunicações móveis (como o 5G) têm sido reconhecidas por especialistas como elementos geradores de receitas em diversos setores produtivos. Essas inovações não estão relacionadas apenas a um setor de tecnologia de ponta, mas também desempenham um papel fundamental na chamada transformação digital, que já está afetando setores como agricultura, indústria, finanças e atividades cotidianas.

Diante desse cenário, a pesquisa de Morozov enfatiza a importância de o Brasil e outras nações em desenvolvimento buscarem sua autonomia tecnológica como parte fundamental de sua soberania econômica e do controle sobre seu próprio destino no mundo digital em constante evolução.

Texto: Redação do Jornal Grande Bahia

Redação
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