segunda-feira,25 novembro, 2024

David Owens lista 3 principais barreiras para a inovação e diz que “abordagem sistemática é a chave para o sucesso”

Diretor-executivo do Centro de Inovação Wond’ry da Universidade Vanderbilt, nos EUA, participa do International Innovation Seminar, evento de tecnologia e inovação do Insper, que começa hoje em São Paulo

“É um paradoxo: para ser mais inovador é necessário ter um sistema”. É o que defende David Owens, diretor executivo do Centro de Inovação Wond’ry da Universidade Vanderbilt, em Nashville, nos Estados Unidos. “As empresas mais inovadoras não esperam que as ideias surjam aleatoriamente. A abordagem sistemática é a chave para o sucesso”, afirma o professor, em entrevista a Época NEGÓCIOS.

Fã do Brasil e de caipirinha, Owens diz que admira no país o otimismo e a aceitação a novas ideias. Ele é um dos palestrantes convidados para o International Innovation Seminar. Realizado pelo Insper, o evento reunirá lideranças, executivos e pesquisadores em inovação e tecnologia entre esta segunda (28) e quinta-feira (31), em São Paulo. Seu painel ‘Barriers for Innovation’ (Barreiras à Inovação) abre o dia dedicado ao tema Corporate Venturing, nesta segunda-feira (28).

À reportagem, o pesquisador lista as principais barreiras: medo de assumir riscos, falta de segurança e a crença de que toda ideia é boa. Confira abaixo os principais trechos da entrevista.

Época NEGÓCIOS – Quais são as principais barreiras para o desenvolvimento da inovação?

David Owens – Há todo um conjunto de teorias sobre quais são as barreiras para a inovação, mas uma delas é o conceito de risco. Quando alguém quer impedir uma inovação, apenas diz que é arriscado, sem especificar o quê. Pode ser, por exemplo, o risco de alguém se machucar, de perder dinheiro ou de algo não funcionar como havia sido pensado. Mas usamos apenas uma palavra para abranger todas as situações. Acho que há certo medo em assumir riscos e de compreender qual o real problema.

Outra barreira é quando você acredita que, só porque teve uma ideia, ela é boa. Há pessoas, especialmente as que foram bem-sucedidas anteriormente, que têm ideias e pensam: “sou tão inteligente, então, é uma boa ideia”. O que acontece é que elas se esquecem que precisam vendê-la. Ou seja, ter uma boa ideia não significa que, necessariamente, será adotada. É preciso convencer os outros disso.

A terceira barreira, que conta com pesquisas sobre o assunto, envolve o conceito de segurança psicológica. Quando você está em um grupo e tem medo de falar abertamente, de dizer coisas como “não acho que deveríamos fazer isso”, significa que não se sente seguro psicologicamente. Sente que será criticado ou que sofrerá danos emocionais. Então, acaba não compartilhando suas ideias. A inovação se beneficia de opiniões diversas, de diferentes pessoas. Se alguém tem medo de falar, torna-se um problema.

E o que as companhias mais inovadoras têm em comum?

As empresas que definem a inovação como estratégia são as mais inovadoras. Muitas companhias incluem eficiência, redução de custos ou lucro em seus objetivos, mas esquecem da inovação. Uma das razões pelas quais fazem isso é porque não sabem como mensurá-la. Ou seja, como sei que estou indo melhor este ano do que no ano passado? Como peço aos funcionários para inovar se nem sei como definir isso?

Todavia, ao priorizar a inovação como objetivo, cria-se uma abordagem sistemática, que permite garantir, entre outros fatores, segurança psicológica, recursos, informações e equipes diversas, além de se ter um processo de inovação bem estruturado. As melhores organizações não acreditam que as ideias acontecem aleatoriamente ou por vocação de indivíduos excepcionais. Elas apostam no processo, com etapas claras a serem seguidas. De certa forma, é paradoxal: a inovação eficaz requer um sistema organizacional bem definido.

Qual a sua visão sobre a inovação no âmbito do corporate venture?

Um dos problemas não muito considerados em corporate venture é a questão da integração. Se crio um produto internamente, faço de uma forma que se encaixe à minha organização. Se compro fora, recebo algo que foi criado em um contexto diferente. Como unir o que os outros fizeram ao que tenho na empresa e ainda funcionando bem? Acho que falta mais atenção em como criar essa união de forma positiva.

Muitas vezes, o corporate venture é baseado em cálculos matemáticos de lucros, clientes e outras questões do tipo, mas não com base em inovação. Normalmente, perguntam “como a compra dessa empresa vai ajudar na nossa situação financeira?”, em vez de questionarem como o negócio irá ajudar a tornar a companhia mais inovadora. Diria que uma das coisas que as organizações de corporate venture deveriam fazer é pensar em como podem se aventurar para aprender, não apenas obter lucro, porque, a longo prazo, o valor está na aprendizagem.

O que as universidades podem fazer para fomentar o ecossistema de inovação?

No passado, existiam grandes instituições de pesquisa e desenvolvimento financiadas por empresas, como Bell Labs, Xerox e PARC. O Google segue uma abordagem semelhante. Essas organizações inovavam criando coisas que, de alguma maneira, beneficiavam a todos. No entanto, ao longo do tempo, especialmente nos anos 1990 e 2000, o foco na inovação de longo prazo diminuiu.

Começaram a pensar: “Se eu puder criar uma startup de aplicativo de namoro e ganhar um milhão de dólares amanhã, farei isso”. Como resultado, os laboratórios maiores sumiram ou não mais funcionam da mesma maneira. Agora, vemos muitas startups preocupadas em resolver problemas imediatos, uma vez que enfrentam dificuldades em obter financiamento e precisam demonstrar valor rapidamente para sobreviver. É nessa hora que as universidades entram em cena, dando continuidade ao pensamento de longo prazo.

As universidades podem se dar ao luxo de correr riscos, o que permite se aventurar em áreas onde as empresas hesitam. O objetivo é promover a experimentação, a contemplação profunda, a análise e até mesmo a socialização – especialmente entre os jovens – para pensar de maneira alinhada com a solução de problemas genuínos que surgirão em 20 ou 30 anos. Isso é essencialmente o papel das universidades na inovação – lidar com os problemas reais e complexos que podem ser difíceis de articular ou enfrentar diretamente.

Você já disse publicamente que ama o Brasil. O que tem visto de mais interessante em termos de inovação no país?

Algo interessante, observado também em outros países, é que não é preciso estar nos Estados Unidos para ser inovador, ou para fazer trabalhos criativos. Em São Paulo, no Rio de Janeiro ou em qualquer outro lugar, posso ser apoiado como empreendedor. Esse conceito agora tem valor e relevância. O Brasil não precisa depender de lugares como o Vale do Silício. Você pode inovar daí e ainda tornar o país melhor.

Ao contrário da Alemanha, onde cresci, o Brasil possui uma abordagem mais aberta à inovação, à expressão e à criatividade. Apesar dos desafios políticos, as pessoas em geral têm uma atitude otimista e são encorajadas a serem elas mesmas. Isso que gosto, além da música, comida e caipirinha: o otimismo e a aceitação às novas ideias de uma maneira positiva.

Participação no International Innovation Seminar

International Innovation Seminar contará ainda com participação de Shlomo Maital, professor emérito na Technion (Israel) e pesquisador sênior no Instituto S. Neaman; Jackie Hernandez, cofundadora e membro do conselho da Plug and Play Tech Center, e Irène Foglierini, professora de Procurement and Supply Chain na ESCP Business School e presidente do comitê de compras da APHP.

O objetivo, segundo o Insper, é conhecer conceitos inovadores e debater experiências e ideias que impactarão organizações, negócios e indivíduos. Haverá palestras, sessões interativas e momentos de networking.

Fonte: Época Negócios

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