O anúncio de que a Copa América 2021 será disputada no Brasil, causou reações dos governadores das cidades cotadas para receber o evento.
A Confederação Brasileira de Futebol e o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), deram aval para a competição acontecer no país, conforme informado pela Conmebol.
Em meio a alta no número de casos de Covid-19, os Governos de Pernambuco e Rio Grande do Norte vetaram a competição. Por outro lado, São Paulo, Bahia e Cuiabá se colocaram à disposição.
Primeiro a recusar a condição de sede, o governador de Pernambuco, Paulo Câmara, alegou o aumento dos números da Covid-19 no estado, que vive seu pior momento desde o começo da pandemia. Mesmo critério alegado por Fátima Bezerra para rechaçar a participação da Arena das Dunas no evento.
Opositor do presidente Jair Messias Bolsonaro, o governador de São Paulo, João Dória Júnior deixou claro que o estado não irá se opor caso seja escolhido para sediar o local.
O governo de São Paulo não fará objeção caso a CBF defina São Paulo como um dos locais de jogos da Copa América, desde que os protocolos do Plano São Paulo sejam obedecidos.
Mesma posição do Governador da Bahia, Rui Costa. No caso de Salvador, a única exigência é para que os jogos ocorram sem qualquer participação de público.
Mostrando mais entusiasmo com uma possível participação de Cuiabá no evento, o Secretário de Cultura, Esporte e Lazer do estado de Mato Grosso, Alberto Machado, confirmou o desejo de ser uma das sedes da competição de seleções.
“O governador Mauro Mendes ligou para o Walter Feldman (secretário-geral da CBF) e colocou a Arena Pantanal e o estado de Mato Grosso para ser uma das sedes da Copa América. Ouvimos uma resposta positiva do Feld”.
A Arena Pantanal passou por reformas recentes para receber os jogos do Cuiabá da Série A do Brasileiro. “Temos outras questões como logística e distância, tudo isso é levado em conta e será discutido entre CBF e Conmebol. Vamos aguardar a decisão e estamos ansiosos para que a Arena Pantanal receba alguns jogos” destacou Alberto Machado.
Infectologistas criticam
Especialistas ouvidos pelo G1 criticaram a decisão. Eles avaliaram que os riscos incluem o aumento de viagens dentro do país, importação de novas variantes e aumento da taxa de contágio.
Marcelo Otsuka, infectologista e coordenador do Comitê de Infectologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), afirmou que neste momento não é ideal ter uma competição desse porte no país.
“O Brasil tem um alto número de casos e ainda vive um platô de óbitos e números que ainda são alarmantes, próximos a duas mil mortes por dia”, lembrou Otsuka.
A médica Lucia Pellanda, professora de epidemiologia e reitora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), fez avaliação semelhante.
“Não é o momento, quando o país enfrenta o risco de terceira onda. Há um simbolismo muito forte. Precisamos de uma campanha de comunicação para engajamento de toda a sociedade. Quando ídolos e pessoas que a população admira estão vivendo a vida ‘normal’, sem máscaras, desrespeitando regras, isso tem um impacto muito grande. Precisamos de ajuda de todos os setores agora”, afirmou a pesquisadora.
O epidemiologista Pedro Hallal, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), disse que a decisão é “temerária”.
Em sua conta na rede social Twitter, Hallal escreveu: “A Copa América no Brasil é um deboche e um desrespeito com as 460 mil famílias em luto no país. A decisão foi tomada exatamente no momento em que a terceira onda se inicia. Como fã de futebol, lamento que o esporte esteja cada vez mais se afastando do povo”.
Jamal Suleiman, infectologista do Hospital Emílio Ribas, em São Paulo, classificou a decisão como “inacreditável” e “leviana”. “Eu acho que num momento tão grave que estamos vivendo, você sinalizar que isso [sediar a Copa América] é uma situação possível e boa é no mínimo leviano.”
“Você vai ter uma circulação de indivíduos, vários times de futebol circulando, vários países que não fecharam fronteiras para locais com variantes de preocupação e que podem entrar no Brasil. Estamos vendo os ‘atletas’ se colocando em risco em festas clandestinas em um cenário catastrófico. Além disso, essa faixa etária nem tem vacina prevista. Tudo isso só colabora para a gente ir contra esse tipo de evento no país”, disse Suleiman.
O infectologista acredita que estados devem se organizar contra o evento. “Não devemos aceitar esse tipo de imposição. Está mais do que na hora dos governos estaduais se organizarem para impedir a realização desse tipo de evento nos seus estados.”
Senadores da CPI da Covid contra
Senadores da CPI da Covid criticaram nesta segunda-feira (31) a realização da Copa América no Brasil. O relator, Renan Calheiros (MDB-AL), classificou a decisão de “escárnio” e chamou o torneio de “campeonato da morte”.
Também na rede social, Renan citou as mais de 462 mil mortes por Covid já registradas no Brasil desde o início da pandemia.
“Com mais de 462 mil mortes sediar a Copa América é um campeonato da morte. Sindicato de negacionistas: governo, Conmebol e CBF. As ofertas de vacinas mofaram em gavetas mas o ok para o torneio foi ágil. Escárnio”, escreveu Renan.
Colega de Renan na CPI, Humberto Costa (PT-PE) afirmou que a realização do torneio no Brasil é uma “insanidade” do presidente Jair Bolsonaro.
“Enquanto o povo cobra movimentos do governo no caminho da vacinação, Bolsonaro dá mais uma demonstração de descaso e insanidade confirmando a Copa América no Brasil. Os governadores devem se posicionar no sentido contrário. É mais um grande absurdo desse governo”, disse Costa.
O vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), afirmou que vai protocolar um requerimento de convocação do presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Rogério Caboclo, para prestar depoimento à comissão.
“Se realizado, o evento será uma afronta às mais de 450 mil vidas que perdemos para a Covid-19 no Brasil”, afirmou.
O senador Rogério Carvalho (PT-SE), suplente na CPI, ironizou dizendo que o governo brasileiro demorou muito mais para responder o e-mail da Pfizer, com oferta de vacinas, do que o da Conmebol. Ele fez uma referência às propostas da Pfizer para a venda de doses que ficaram sem resposta do governo federal em 2020.
“Quase 1 ano para responder a oferta de vacinas da Pfizer e menos de 24 horas para responder a oferta da Conmebol para realizar a Copa”, ironizou.
A senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) classificou a decisão de realizar a Copa América no Brasil de “deboche” e “surreal”.
“Surreal que um governo que ignore compra de vacinas numa pandemia mundial responda tão rapidamente um pedido para realização de um evento internacional no país. A Copa América no Brasil é um deboche e um desrespeito com as 460 mil famílias em luto no país”, afirmou a parlamentar.
O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), suplente na CPI, classificou como “estupidez” a realização da Copa América no Brasil devido ao risco de uma terceira onda da Covid.
“Já tivemos presidentes conhecidos por ‘atravessar a rua para pisar na casca de banana do outro lado’. Bolsonaro segue a mesma linha. Não existe nenhuma lógica em aceitar a realização da Copa América em plena pandemia, com risco de 3ª onda. A estupidez realmente não tem ideologia”, escreveu em uma rede social.
O vice-presidente Hamilton Mourão, questionado por jornalistas, argumentou que realizar o torneio no Brasil representará menos riscos do que se fosse sediado na Argentina.
“Vamos dizer o seguinte, que é menos…. Não é que seja mais seguro, é menos risco. Não é mais. É menos. O risco continua”, disse Mourão.
Confira a posição de cada estado
Pernambuco: recusou
O Governador Paulo Câmara determinou que o estado não fará parte das sedes, segundo pronunciamento via assessoria de imprensa.
Pernambuco tem 481.070 casos da Covid-19 e 15.807 mortes provocadas pela infecção. No último domingo, o estado registrou 2.168 infectados pelo novo coronavírus e 65 óbitos causados pela doença.
Rio Grande do Norte: recusou
A Governadora Fátima Bezerra fez o comunicado na tarde da segunda-feira, através das redes sociais. Confira a nota.
No último domingo, o Rio Grande do Norte tinha 106 pessoas esperando um leito de UTI para tratamento da Covid-19. A informação é do sistema Regula RN. O estado encontra-se em aceleração da pandemia.
Rio Grande do Sul: recusou
O Governador Eduardo Leite emitiu um comunicado afirmando que não foi procurado por Conmebol ou CBF. Mas alerta que, mesmo que esteja aberto ao diálogo com autoridades, entende que a prioridade está no combate à pandemia.
São Paulo: sem oposição
Governo de São Paulo afirma que não se opõe a realização de jogos da Copa América no estado, desde que sigam os protocolos do Plano São Paulo. Veja a nota.
O secretário municipal de Saúde, Edson Aparecido, disse, no último sábado, que o pico de internações da terceira onda da Covid-19 na capital paulista deve acontecer no próximo dia 17 de junho. A Copa América deve iniciar dia 13 do mesmo mês.
Seis hospitais na cidade estão sem vagas e outros 10 passam de 80% de ocupação. O hospital da Brasilândia, na Zona Norte, que é referência para pacientes de Covid-19, está com 95% de ocupação.
Bahia: sem torcida
O Governador Rui Costa afirmou através das redes sociais que, caso o estado receba partidas da Copa América, será mantida a proibição de torcidas nos estádios.
A Bahia tem ocupação de 85% Leitos de UTI no estado. Na capital, taxa de ocupação das unidades intensivas para adultos chega a 81%.
Fonte: G1