Para José Carlos Mierzwa, mesmo com uma parcela relativamente menor em investimento em tecnologias, seu papel é de extrema importância, uma vez que, por vezes, o processo não se revela tão eficiente
Levantamento feito por empresas privadas que atuam no setor de água e saneamento aponta que o País precisa de um investimento de R$ 893 bilhões para atingir as metas estabelecidas no Marco do Saneamento aprovado em 2020. As informações de uma projeção feita em parceria com a KPMG ainda afirmam que as metas só serão alcançadas em 2089 com o ritmo de investimentos de 2021.
A expectativa otimista é de que o Brasil atenda cerca de 99% da população com tratamento de água e 90% na rede de esgoto até 2033. No entanto, segundo dados da Abcon (Associação e Sindicato Nacional das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto), o cenário atual ainda é de 84,2% e 55,8% em saneamento de água e esgoto, respectivamente.
Desafios
José Carlos Mierzwa, professor do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da Escola Politécnica da USP, explica que, apesar do panorama favorável da cobertura de tratamento de água, ainda há uma desigualdade na distribuição de investimentos de acordo com a região do País. Além disso, existe uma dificuldade, que é ainda maior no caso de tratamento de esgoto, na expansão da rede de coleta em regiões mais afastadas e rurais.
“Seguramente de todo esse investimento de 900 bilhões que tem que fazer, talvez 80% dele seja em rede e só 20% talvez em tecnologias de tratamento”, esclarece o professor. Mesmo com uma parcela relativamente menor em investimento em tecnologias, seu papel é de extrema importância, uma vez que, por vezes, o processo não se revela tão eficiente. Mierzwa comenta que o indicador de atendimento de esgoto pode atingir níveis abaixo dos apontados pela Abcon, que indicam 55,8% de atendimento de esgoto, na medida em que não considera sua eficiência.
Destino dos investimentos
Para o direcionamento dos recursos e investimentos privados, a avaliação dos impactos, tanto em termos de poluição quanto de saúde pública, faz-se indispensável. De acordo com o professor, com cerca de 86% da população brasileira localizada em regiões urbanizadas e 40% dessa parcela sendo metropolitana, o investimento nessas áreas combate diretamente a poluição, visto que contribui em grande carga para o detrimento dos corpos hídricos.
“Então, se você investir nessas regiões, é onde obviamente as pessoas têm maior capacidade de pagamento e também há maior facilidade de implantação das estruturas”, afirma Mierzwa. Ele ainda declara que, em especial, áreas rurais e cidades menores exigem um maior trabalho de planejamento feito inicialmente pelo governo, tendo em vista que compreendem menor interesse privado e, posteriormente, as empresas contribuiriam.
“Para viabilizar que isso aconteça, já existe o conceito de subsídio cruzado nas tarifas em que, eventualmente, quem tem mais condição paga uma taxa maior pelo serviço de água e esgoto e isso é revertido para as populações que têm menor condição”, explica.
Na visão de Mierzwa, o investimento em tecnologia no setor é a forma de se pensar em um resultado de melhor qualidade. “No primeiro momento, parece apresentar maior custo de investimento, porém, os benefícios da aplicação dessa tecnologia em termos de garantia de qualidade e possibilidade de ampliar a oferta de recursos hídricos acabam compensando”, discorre o professor.
Fonte: Jornal da USP