“Existe um mundo por trás de cada letra que compõe a sigla ESG”. A afirmação, feita pelo CEO da Data-Makers, Fabrício Fudissaku, denota a complexidade de um tema urgente, que apesar de bater impaciente às portas de empresas de todos os portes e segmentos, ainda tem a entrada rejeitada por significativas barreiras do mercado nacional.
No país, embora a esmagadora maioria dos líderes empresariais concordem que o tema seja relevante e, portanto, merecedor de atenção, apenas uma pequena parcela deles detém o conhecimento necessário para tomar ações e decisões assertivas em prol da adoção do ESG no DNA operacional.
Pensando na relevância e nas carências conceituais que envolvem o tema, a Data-Makers desenvolveu o estudo “Líderes de Negócios e ESG”. A publicação aponta os principais motivadores para a adoção das práticas relacionadas à pauta e, também, os mais relevantes desafios e barreiras que fazem com que as ações endereçadas para o trio meio-ambiente (Environment), social (Social) e governança (Governance) ainda apresentem números incipientes no país.
Ao Clube Mundo do Marketing, Fudissaku apresentou os dados da pesquisa e destacou pontos e insights relevantes obtidos através de uma análise profunda do tema que deverá ditar estratégias e posicionamentos empresariais no curso da década. Confira os principais pontos do estudo:
Por que as empresas adotam (ou consideram adotar) ESG?
A relevância do ESG não se constrói ao acaso, e diversas pesquisas apontam para a mesma direção: empresas que desenvolvem ações e produtos observando os cuidados sugeridos pela sigla tendem a tendem a melhorar a própria imagem na ótica do consumidor – e este é o driver mais importante para a adoção do ESG no Brasil. “Para 85% dos CEO’s e C-Levels brasileiros, a imagem da marca é a razão mais relevante para a adoção, enquanto para 65% a reputação corporativa é o fator mais importante. Este é um tema que atrai muita atenção, e as marcas querem dar uma resposta e mostrar o que pensam sobre isso”, aponta Fudissaku.
O segundo foco de relevância está diretamente relacionado às estruturas empresariais que compõem o DNA da atuação operacional. Nesse sentido, o aparato descrito pelo termo “Governança” oferece a possibilidade de melhorias de gestão, bem-vindas em todos os contextos. “Essa melhoria é o principal motivador para 59% dos líderes empresariais. Citando um contexto parecido, 38% dos entrevistados citaram a redução de riscos, como pressão de stakeholders, como o grande diferencial da adoção de ESG “, prossegue.
Finalmente, o terceiro atrativo sugere que as marcas estão, de fato, preocupadas com a permanência dos agentes que constroem os diferenciais de cada operação. “35% dos entrevistados citaram a retenção de talentos como o principal motivador. Aqui, cabe ressaltar que os números da pesquisa formam uma soma maior do que 100% porque alguns executivos apontaram mais de uma motivação”, explica o CEO.
Desafios e barreiras para a adoção
Para 90% dos executivos entrevistados, o tema ESG constitui uma pauta importante para o bem-estar empresarial. Diante do reconhecimento da importância do assunto, seria de se esperar que a adoção do ESG nas empresas brasileiras já estivesse em um grau mais avançado. No entanto, os números sugerem um cenário diferente, explicado, sobretudo, pela falta de conhecimento dos executivos no país.
Neste recorte, apenas apenas 16% dos CEO’s e C-Levels afirmam ter total conhecimento sobre a pauta, enquanto 71% declaram conhecer o tema razoavelmente e 13% admitem não possuir qualquer conhecimento sobre ESG. “Existe um grande gap entre a importância dada pelos executivos ao assunto e o conhecimento que eles possuem sobre a pauta, e isso, por si só, é uma barreira para 49% dos executivos que consideram adotar ESG”, explica Fudissaku.
Neste contexto, a pesquisa identificou outras quatro barreiras que impedem a adoção das práticas de ESG: pressão por resultados de curto prazo (48%), falta de profissionais preparados (46%), falta de priorização do tema (45%) e falta de comprometimento da liderança (41%). “Este cinco pontos se destacaram muito entre os pontos do estudo e nos permite ter uma visão muito clara da grande equação gravada na cabeça das lideranças nacionais”, aponta o CEO.
Fudissaku ressalta que o comprometimento da liderança, quinta barreira identificada pela pesquisa, torna-se ainda mais relevante sob níveis de análise que consideram toda a engrenagem corporativa. “Estes profissionais são os responsáveis por debater ESG no dia-a-dia. É preciso que haja um apoio top-down, uma liderança comprometida com o tema, não só a esfera dos CEO’s e C-Levels, mas também o conselho, que tem o papel de fiscalizar os executivos. Todas essas frentes devem estar em sincronia”, aponta.
Perguntados sobre os investimentos que deverão ser destinados para ESG nos próximos 12 meses, 62% das empresas disseram que pretendem manter o mesmo nível de investimento aplicado no passado. Nas extremidades desta linha, 30% pretendem aumentar os recursos destinados a área, enquanto 8% planejam a diminuição da verba. “Isso denota que os executivos reconhecem a importância do tema, reconhecem que ainda têm muito a evoluir, mas a propensão a aumentar os investimentos ainda é baixa”, finaliza Fudissaku.
Texto: Ian Cândido