Na semana passada, o CEO do Zoom ordenou que os funcionários da empresa trabalhassem presencialmente. O que poderia ser mais revelador do que o gestor da empresa que foi, sem dúvida, uma das maiores propulsoras do trabalho remoto, querendo seus empregados de volta ao escritório?
Os debates sobre qual regime de trabalho – remoto, híbrido ou presencial – é melhor (ainda) são acalorados e focados nos temas de produtividade, desempenho e engajamento dos funcionários.
Há vantagens nos modelos remoto e híbrido, mas um novo estudo da Universidade de Stanford mostra que eles também podem ter problemas. Os dados apontam para uma queda de produtividade de quem fica longe do escritório.
As novas formas de trabalhar vieram para ficar e já estavam em alta mesmo antes da pandemia. O relatório da Universidade de Stanford descobriu que a taxa de pessoas trabalhando remotamente dobrou nos últimos 15 anos – e os pesquisadores esperam que ela continue subindo.
O estudo também descobriu que 60% das pessoas trabalham presencialmente todos os dias – e tendem a ganhar menos – principalmente nos setores de varejo, alimentação, turismo ou segurança. Os funcionários híbridos, que representam cerca de 30%, normalmente são os mais bem pagos e trabalham presencialmente dois ou três dias por semana (geralmente entre terça e quinta). Funcionários que trabalham 100% remotamente representam a menor parcela dos funcionários (pouco mais de 10%).
Da mesma forma, uma pesquisa feita pela empresa de software Atlassian descobriu que 71% dos profissionais da área do conhecimento ficam remotamente pelo menos uma vez por semana e 82% trabalhavam para empresas que esperavam que eles estivessem no escritório pelo menos em parte da semana de trabalho.
O nível de formação do funcionário é o fator mais importante para saber se ele tem a opção de trabalhar em casa – e níveis mais altos de educação estão relacionados com uma maior flexibilidade para trabalhar de casa. Homens e mulheres tendem a trabalhar remotamente em proporções iguais, embora as mulheres relatem maior desejo de fazer home office. Funcionários na faixa dos 30 e 40 anos também são os mais liberados para trabalhar em casa, se comparado com outras faixas etárias, assim como pessoas com filhos pequenos.
Trabalho remoto é mesmo menos produtivo?
Mas será que os funcionários que trabalham remotamente são, de fato, menos produtivos?
A percepção da produtividade dos funcionários é o verdadeiro problema. A pesquisa de Stanford descobriu que eles achavam que sua produtividade era maior em casa (cerca de 7% maior), enquanto os gerentes achavam que era menor (cerca de 3,5% menor). E, de acordo com o estudo da Atlassian, 10% das pessoas acreditam que serão vistas como menos produtivas ou menos comprometidas se trabalharem remotamente.
O resultado final, independentemente das percepções: a análise de Stanford com vários estudos encontrou uma redução de 10% a 20% na produtividade no trabalho remoto, dependendo da natureza da pesquisa.
Assim como muitas pesquisas têm investigado a produtividade no presencial, também há diversas explicações em relação ao tema no trabalho remoto. O estudo de Stanford cita desafios na comunicação e coordenação do trabalho, diminuição de novas conexões profissionais, redução da criatividade por causa de distrações e menos aprendizado, orientação e feedback.
Outro motivo significativo para a redução da produtividade no trabalho remoto está relacionado à disciplina e ao autocontrole. Dados da empresa de viagens Upgraded Points mostram que quando as pessoas trabalham remotamente, elas passam parte do tempo no computador com atividades não relacionadas ao trabalho, como navegar nas redes sociais (75%), fazer compras online (70%), assistir a séries ou filmes (53%) e planejar viagens (32%).
Elas também passam tempo longe do computador em afazeres domésticos (72%), outras tarefas (37%), cochilando (22%), indo ao médico (23%) ou bebendo (12%). Algumas pessoas (13%) relatam que trabalham apenas três ou quatro horas por dia quando estão em casa.
O que os funcionários dizem
Ironicamente, apesar de relatarem distração e tempo gasto em atividades não relacionadas ao trabalho, algumas pessoas dizem que são bem produtivas em casa. Isso é demonstrado em várias pesquisas:
63% das mulheres e 55% dos homens dizem que são produtivos trabalhando em casa, de acordo com os dados da Upgraded Points;
51% dos funcionários disseram que trabalhar de forma assíncrona ou definir seu próprio horário contribuiu para sua produtividade;
43% das pessoas se sentem mais produtivas trabalhando no escritório e 42% se sentem mais produtivas trabalhando em casa.
Mas outros se sentem mais produtivos no escritório, e 11% têm mais chances de se sentirem produtivos em dias com muitos afazeres. Funcionários remotos dizem que têm 33% menos probabilidade de se sentirem produtivos trabalhando em equipe em comparação com funcionários presenciais ou híbridos, com base em uma pesquisa da empresa de gestão de equipes Deputy.
Engajamento, felicidade e sentimento de valorização
Mesmo que o relatório de pesquisa de Stanford aponte para uma produtividade reduzida em casa, os profissionais têm perspectivas equivocadas sobre quão produtivos eles realmente são – e onde seu trabalho é feito com melhor qualidade.
Talvez o mais significativo seja que, quando as pessoas são produtivas, elas tendem a ser mais felizes, mais engajadas, mais satisfeitas e mais propensas a permanecer na empresa. O desempenho e a oportunidade de fazer uma contribuição significativa também estão correlacionados com a felicidade, que por sua vez está ligada a melhores resultados para funcionários e empresas. A satisfação no trabalho é o principal motivo para permanecer em um emprego, segundo um estudo da companhia de software ClickUp.
Crie as condições para ter produtividade
As empresas devem criar as condições para ter produtividade alinhando o trabalho com os níveis de habilidade de cada um, dando às pessoas atividades significativas, oferecendo oportunidades de crescimento e desenvolvendo líderes que possam motivar e dar feedback.
As organizações também podem aumentar a produtividade construindo equipes fortes com bons relacionamentos, garantindo equidade e fornecendo remuneração e benefícios justos. Tudo isso requer intenção e foco – e todos eles compensam em termos de engajamento, motivação, retenção e, sim, produtividade também.
Veja 4 dicas para aumentar a produtividade:
- Priorize
Isso significa basicamente escolher do que abrir mão. Defina o que é mais importante — porque precisa ser feito; porque você quer fazer; porque vai te fazer bem — e aceite que, para isso, deixará de fazer muitas outras coisas — que talvez você ache que deva, mas não se convenceu; ou que deveria, mas não quer nem um pouco; que os outros acham que você deveria fazer. O tempo e a nossa energia são finitos, então sugiro focar no que vai, de fato, alimentar seu bem-estar e objetivos. Podem ser prioridades tão fisiologicamente óbvias como têm sido as minhas: dormir e comer bem, exercitar o corpo e me dedicar às tarefas de trabalho que não são delegáveis, mas são importantes ou urgentes. - Dedique tempo a fazer (praticamente) nada
Pegue um café e contemple a paisagem. Ouça o silêncio por alguns minutos. Deite no sofá e procure curiosidades pouco relevantes na internet. Olhe sua agenda descompromissadamente. Anote ideias, afazeres para depois, planos. Simplesmente pense. Pode parecer perda de tempo, mas esses momentos são fundamentais para dar um respiro na mente frenética, para criar espaço de digestão de tanta informação que recebemos automaticamente. - Pratique mindfulness
Esta prática nada mais é do que colocar sua atenção ao momento presente, ao que está fazendo. Seja sentar-se em silêncio e olhos fechados e fazer uma meditação guiada, seja caminhar observando o próprio corpo, os passos dados por um pé depois do outro, seja tomar sol sentindo o quente na pele, os cheiros ao redor, ou qualquer outra atividade. Para isso, temos de eliminar a tentativa do modo multitarefa. Focar na respiração é sempre uma maneira de voltar ao aqui e agora, observando seu ritmo e a sensação do ar entrando e saindo. - Você não é preguiçoso se tirar uma folga
Ao dar seu último conselho, Gates observou que esse era o que ele mais poderia ter usado — e que demorou mais para aprender. É simplesmente o seguinte: “Você não é um preguiçoso se der uma folga a si mesmo”. Gates compartilhou sua própria jornada de uma mentalidade workaholic para uma visão mais equilibrada da vida e do trabalho. “Quando eu tinha a idade de vocês, não acreditava em férias. Eu não acreditava em fins de semana”, admitiu. “Nos primeiros dias da Microsoft, meu escritório dava para o estacionamento — e eu acompanhava quem saía mais cedo e quem ficava até mais tarde. Mas à medida que envelheci – e especialmente depois que me tornei pai –, percebi que há mais na vida do que trabalho”. Bill Gates aconselhou seus ouvintes a não esperar tanto quanto ele para aprender essa lição. “Reserve um tempo para nutrir seus relacionamentos. Para comemorar seus sucessos. E para se recuperar de suas perdas. Faça uma pausa quando precisar. Pegue leve com as pessoas ao seu redor quando elas precisarem também.”
Fonte: Forbes