domingo,24 novembro, 2024

Advogada brasileira cria projeto para levar mais mulheres a cargos de CEO em escritórios

Nem todos os setores corporativos têm o mesmo nível de maturidade em relação às pautas ESG, e os escritórios de advocacia ainda estão distantes de uma cultura orientada para o tema. Esta é a avaliação de Camilla Jimene, sócia e CEO do escritório Opice Blum Advogados. Esta visão sobre o mercado jurídico brasileiro fez a executiva criar o projeto SER.A.CEO, que incentiva e apoia mulheres a ocupar posições de liderança em escritórios de advocacia.

“Quando assumi como CEO do Opice Blum, no ano passado, senti uma solidão tremenda. Esse sentimento tomou uma proporção ainda maior pelo fato de os escritórios de advocacia serem extremamente fechados e imersos em práticas internas, sem espaço para trocas entre pares. Essa situação me causou um incômodo enorme e percebi que precisava agir para construir um ecossistema mais colaborativo”, conta Camilla, em entrevista a Época NEGÓCIOS.

Segundo a executiva, mulheres advogadas estão nas bases das bancas e na condução de diversas práticas jurídicas, porém menos de 30% dos escritórios de advogados do país são comandados por mulheres. Ela destaca que esse cenário é diferente quando se avalia os setores jurídicos de empresas, que já têm um nível elevado de maturidade sobre o pilar social do ESG focado nas questões de diversidade e inclusão.

“Grandes empresas trabalham com uma série de compromissos, metas e indicadores para acompanhar os avanços sobre o tema. No entanto, hoje, a proporção de CEOs mulheres em escritórios jurídicos é de 17 para 100 homens na mesma posição”, afirma.

De acordo com uma pesquisa publicada pelo anuário Análise Advocacia Mulher 2023, entre 1.054 profissionais cadastrados como CEOs em escritórios de advocacia no Brasil, apenas 256 são mulheres. “Achei que fazia sentido me reunir com outras profissionais e fazer algo para mudar esse cenário”, diz Camilla.

SER.A.CEO

Na prática, o SER.A.CEO funciona como uma rede de apoio e espaço de troca para mulheres que já ocupam cargos de liderança. Criado em março, o grupo tem hoje 10 membros, todas CEOs de escritórios brasileiros.

O projeto também busca fomentar boas práticas de governança para viabilizar a presença de mais mulheres nessas posições, além de apoiar, por meio de mentoria, o desenvolvimento de profissionais que desejam ser líderes.

“Para além da atratividade e retenção de talentos, os escritórios não conseguirão atender às demandas dos clientes que praticam abordagens mais maduras sobre o tema, como a exigência de divulgação de dados a respeito de seus programas de diversidade e a adoção de parâmetros dessa natureza como critério para escolha dos fornecedores. Invariavelmente, a falta de ação resultará em perda de receita”, conclui Camilla.

Por três anos consecutivos (de 2021 a 2023), ela foi eleita pela organização Advocacia da Mulher como a advogada mais admirada dos escritórios especializados em direito digital. O reconhecimento também foi um catalisador para a criação do projeto.

“Atuar como gestora legal de um grande escritório de advocacia me deu uma visão de negócios mais ampla e ajudou a potencializar minhas habilidades de comunicação. Fico feliz em perceber que estou abrindo espaços para outros talentos femininos brilharem.”

Futuros desafios para o direito digital

Além do olhar especial para a gestão dos escritórios de advocacia, Camilla já tenta antecipar os futuros desafios para o direito digital, especialmente em relação à era da inteligência artificial — seu escritório é focado em direito digital e proteção de dados. “O fato de conseguirmos usar IA para uma série de coisas não significa que esses são os melhores usos. Não tenho dúvidas sobre a pertinência do uso, mas ainda precisamos amadurecer a discussão sobre ética e governança algorítmica”.

Para a executiva, as várias iniciativas legislativas já discutidas para a regulamentação da IA ainda esbarram no desafio de encontrar um ponto de equilíbrio entre regulamentar e não prejudicar o desenvolvimento da inovação. “Sempre defendi que a Sociedade da Informação floresça, mas dentro de determinados parâmetros éticos”.

Camilla destaca que, ao longo dos próximos dois anos, ainda existirão muitas discussões sobre o impacto social do uso de algumas tecnologias. “Já estamos vivenciando um exemplo disso com a discussão sobre as fake news, a responsabilidade das big techs e o uso da inteligência artificial na propaganda”, analisa.

Fonte: Época Negócios

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