Pelo oitavo ano consecutivo, o mercado global de música gravada registrou crescimento. Em 2022 a indústria marcou o valor de US$ 26,2 bilhões em receitas, cerca de 9 % acima do ano anterior. As informações são do levantamento anual da Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI na sigla em inglês) Global Music Report 2023.
O faturamento, caracterizado por variadas fontes, subiu em todas as regiões do globo e marcou o retorno do Brasil ao top 10. O país ocupa agora o nono lugar no ranking de maiores mercados nacionais para música gravada, com 15,4% de aumento.
Historicamente a maior região do mercado mundial da música, Estados Unidos e Canadá, teve um crescimento de 5% em 2022 e representou 41,6% do setor. Os EUA possuem o maior mercado nacional do mundo e ultrapassaram pela primeira vez US$ 10 bilhões.
Música nas telas: mercado de cinema e games miram trilhas
O músico, compositor, orquestrador, produtor e guitarrista brasileiro que participou da produção canadense do curta-metragem Giraffe, premiado como melhor filme no Oregon Short Film Festival e no Vancouver Short Film Festival, Bruno Oliveira, afirma que com a ascensão dos serviços de streaming, aos poucos os polos de produção de filmes também deixam de se concentrar apenas nos Estados Unidos, mas o país ainda tem a grande fatia do mercado. “Hoje vemos produtos de altíssima qualidade vindos de países como Espanha, Coreia do Sul e até Brasil”.
“Isto também traz, para pessoas de culturas diferentes, a oportunidade de colaborar. O volume e a diversidade de produções têm uma demanda gigantesca por música original, então é um mercado que está em alta”, complementa Oliveira
Ademais, o produtor é responsável pela trilha do curta-metragem “Circular Ruins” (ganhador do melhor filme experimental no Be Epic London International Film Festival e melhor filme no All Asian Film Festival) e no longa-metragem “Chaotic Justice”, (ganhador de prêmios como melhor trilha sonora no Fox International Film Festival e melhor filme de ação no Oniros Film Awards), produções originais da China e Taiwan, respectivamente.
A sincronização, receita do uso de música gravada em publicidade, cinema, jogos e TV manteve fortes altas ainda de acordo com o Global Music Report 2023, registrando mais um ano de crescimento superior a 20% e atingindo US$ 640,4 milhões. O segmento é responsável por 2,4% do setor musical em 2022. “O nicho de trilhas sonoras é um dos que mais crescem no meio musical devido ao crescente acesso à internet, consumo de filmes, séries e videogames”, pontua Oliveira.
Baseado em dados de 2021, o banco de investimentos americano Goldman Sachs produziu o relatório Music in the Air, estimativo para 2022, onde já apontava tendências de alta para o nicho dos games. O documento destaca que “novas receitas de licenciamento de vídeos curtos, fitness conectado, jogos e podcasts aumentaram significativamente nos últimos anos e já contribuíram com 5% das receitas globais de música gravada em 2021”.
O relatório pontua que videogames envolvem cada vez mais histórias complexas com componentes de áudio, visuais e sensoriais. “Acreditamos que os fabricantes de videogames precisarão de acesso a bibliotecas robustas de música para atingir seus objetivos artísticos”. Cálculos detalhados do estudo sobre os novos fluxos de receita mostram que cerca de 19% das receitas de plataformas emergentes na indústria da música em 2021 vieram de jogos.
Exigências do mercado para profissionais
Oliveira explica que a prática da composição está totalmente atrelada à tecnologia e profissionais deste nicho precisam ter conhecimento sobre a construção dos vídeos e videogames. “O compositor que queira entrar nesse segmento necessariamente tem que estar familiarizado com softwares de criação musical e ter um bom entendimento de quais são as etapas, práticas e ferramentas de produção”.
“Criar música para games é um pouco diferente de criar músicas para média lineares, como filmes e comerciais, pois precisa ser produzida e programada de forma que tenha interação com as ações do jogador em tempo real”, detalha Oliveira.
Recentemente, Bruno também começou a colaborar com a Andromeda Sound, empresa especializada em produção de audio para video-games com clientes como SEGA, Samsung e Nintendo.
De acordo com o músico, grande parte das produções, principalmente as séries, é produzida quase que inteiramente usando softwares conhecidos como instrumentos virtuais que reduzem bastante os custos da produção. “São tecnologias capazes de reproduzir sons de instrumentos de forma realística, muitas vezes com qualidade superior a algumas gravações feitas por instrumentos reais e dão ao compositor moderno liberdade de experimentar”.
Atrelado a isso, é cada vez maior a presença de mistura de elementos. Trilhas sonoras consideradas híbridas, músicas que mesclam orquestrações com elementos eletrônicos e étnicos vem ganhando mais espaço. No entanto, o setor apresenta alguns desafios como a concorrência e a própria dificuldade dos compositores com estas inovações na parte técnica, conforme alerta Oliveira.
“Muitos músicos têm dificuldade em lidar com a tecnologia por estarem acostumados apenas com o lado performático e artístico da música. É importante deixar o ego de lado e fazer o que funciona, e não o que queremos. Na criação para uma produção audiovisual, a música deve servir ao material”.
O ano de 2022 foi o sétimo consecutivo de crescimento (6%) de receitas de música gravada nos Estados Unidos, registrando um recorde de US$ 15,9 bilhões segundo o Music Industry Revenue Report (Relatório de Receita da Indústria Musical). O documento aponta que o streaming continua como o maior impulsionador do crescimento (7%), com níveis recordes de envolvimento em assinaturas pagas (10%), aumento contínuo nas receitas de formatos suportados por anúncios e contribuições crescentes de novas plataformas e serviços.
Fonte: Site da Serra