O mercado de atacarejo tem experimentado uma evolução notável nos últimos anos, impulsionado principalmente pela crescente demanda de micro e pequenos negócios. O bolo é enorme e tem capacidade para receber ainda mais fermento nos próximos anos, incluindo investimentos em novas unidades e na remodelação da infraestrutura das já existentes.
Ranking divulgado em abril pela Associação Brasileira dos Atacarejos (Abaas) mostrou que, em 2022, as 20 maiores empresas desse mercado movimentaram, juntas, R$ 239 bilhões. Somente os líderes Atacadão e Assaí responderam por mais da metade dessa cifra, com R$ 74,473 bilhões e R$ 59,7 bilhões, respectivamente.
De olho nesses números e nas projeções futuras, o HVAC-R naturalmente também vem adotando mudanças significativas de estratégia para fornecer soluções em refrigeração e climatização mais compactas e eficientes para esses estabelecimentos, afinal, são mais de duas mil lojas em todo Brasil, as quais atualmente respondem por 40% dos alimentos vendidos no País, segundo a consultoria McKinsey.
Especialistas do mercado ouvidos pela Revista do Frio entendem que, atualmente, as principais tendências em refrigeração e climatização no varejo de alimentos são relacionadas à compactação e modularização dos equipamentos e ao aumento da sua eficiência energética, à conversão para fluidos refrigerantes mais sustentáveis, à busca por menores níveis de ruído e vibração e à integração dos sistemas remotos de monitoramento e controle.
Nesse contexto, um dos principais benefícios trazidos pelas novas instalações nos atacarejos é a ênfase na eficiência energética, acompanhando uma tendência mundial, visto que os gastos com energia cada vez se elevam mais, assim como a conscientização ambiental de consumidores e empresas. A busca por soluções que reduzam o consumo de eletricidade e água e os custos operacionais dos estabelecimentos perdurarão por tempo indeterminado.
No que diz respeito aos sistemas de exaustão, ventilação, refrigeração e climatização, os equipamentos mais compactos e eficientes estão desempenhando um papel fundamental. Tecnologias avançadas de refrigeração para câmaras frias, por exemplo, permitem não somente o rápido resfriamento dos espaços, mas a sustentação de uma temperatura confortável para os funcionários.
Além disso, diversificados sistemas de exaustão e ventilação estão sendo projetados de forma a maximizar a circulação de ar fresco, contribuindo para um ambiente interno saudável e livre de poluentes. Em outra ponta, a introdução de processos de recuperação de calor também permite o reaproveitamento da energia térmica, proporcionando economia adicional de energia.
Outra tendência significativa nas novas instalações dos atacarejos é a procura pela otimização dos espaços internos. Com as lojas ficando cada vez maiores para acomodar uma grande variedade de produtos, especialistas no tema argumentam ser essencial utilizar o ambiente de forma eficiente.
Como os sistemas HVAC-R tradicionais sempre ocuparam muito espaço, a indústria tem investido em uma nova geração de equipamentos projetada para se adaptar a locais reduzidos sem comprometer o desempenho.
A otimização do espaço ainda inclui a redução do nível de ruído gerado por hélices, motores e compressores, evitando desconforto e distrações e proporcionando um ambiente de compra mais agradável para os clientes.
Indústria em expansão
O cenário favorável ao crescimento do mercado de atacarejos no Brasil deixa o HVAC-R otimista e confiante, caso da Danfoss, indústria que conta com clientes como Carrefour, Assaí e Grupo Pão de Açúcar e fornece a essas companhias unidades condensadoras para uso interno ou externo, racks e chillers compactos, destacando-se ainda o chamado one-stop-shop (balcão único de vendas).
Para esses sistemas, busca-se constantemente o emprego das tendências tecnológicas, com incrementos de produtos e soluções que aumentam a eficiência como um todo, como os trocadores de calor microcanal. ‘‘Eles proporcionam maior robustez aos equipamentos, menos uso de refrigerante e melhor eficiência energética”, afirma Leandro da Silva, vendedor externo da multinacional.
“Mais e mais o atacarejo brasileiro tem conhecimento dos resultados dessas novas tecnologias e vem solicitando aos fabricantes o uso de tais recursos para melhorar a eficiência e reduzir os custos operacionais’’, emenda.
A inovação também é um importante trunfo da Eletrofrio, que aposta no HighPack, componente voltado para o resfriamento de glicol, aparecendo como um dos mais vendidos no mercado da refrigeração comercial brasileira.
‘‘A solução alia as vantagens da simplicidade, do baixo custo e da segurança operacional, além da baixa carga de refrigerante. Sistemas com HighPack proporcionam redução de mais de 90% da carga de gás quando comparados a sistemas de expansão direta para projetos com a mesma capacidade de refrigeração’’, detalha o gerente de engenharia do fabricante, Rogério Marson Rodrigues.
O executivo da Eletrofrio enfatiza que, no contexto do segmento de atacarejo, os equipamentos destinados a essas instalações precisam atender às diversas especificidades de cada unidade, embora haja sempre uma padronização dos espaços.
‘‘Simplicidade, confiabilidade, baixo custo, segurança operacional e reduzida carga de gás são características que tornaram o HighPack o principal produto comercializado na refrigeração comercial nacional’’, salienta Rodrigues, comentando que a Eletrofrio lançou em maio, na Apas 2023 – maior feira de alimentos e bebidas das Américas –, o HighPack Pro, com as mesmas vantagens do HighPack tradicional, porém com propano (R-290).
Um dos principais conceitos de um atacarejo é uma operação com baixo custo, e a ele está diretamente ligada a definição e aplicação de equipamentos de refrigeração com elevada eficiência energética, que resultará em contas de energia mais baixas, já que a refrigeração é comprovadamente a maior consumidora de energia neste tipo de empreendimento.
Na mesma trilha, a Copeland (ex-Emerson) aposta nas soluções que permitem aos fabricantes desenvolver equipamentos menores, tais como compressores da linha scroll, que possuem formato mais compacto que os usuais compressores semi-herméticos, com uma ampla gama de capacidade e aplicações para os tradicionais hidrofluorcarbonos (HFCs), misturas à base de hidroflurolefinas (HFOs) – tanto da classe de segurança A1 (não inflamáveis) quanto A2L (levemente inflamáveis) – e fluidos refrigerantes “naturais”.
“Os compressores scroll oferecem ótimo custo aplicado, tamanho, peso e nível de ruído menores quando comparados aos compressores semi-herméticos tradicionais, sendo ideal para instalações compactas. Da mesma forma, as unidades condensadoras da linha ZX, além de contar com compressores da linha scroll incorporados, são dotadas de controle com algoritmo dedicado e maiores proteções do sistema se comparadas às unidades condensadoras convencionais”, exemplifica Lucas Penalva, da área de engenharia de aplicação da companhia.
Para as instalações dos atacarejos, a Copeland destaca a tecnologia EVI (Enhanced Vapour Injection) embarcada em seus compressores, a qual aumenta a capacidade frigorífica de um compressor em até 40%, com um consumo energético 15% menor comparado aos equipamentos do tipo standard.
“A linha ZX, com seu design compacto, se destaca devido ao algoritmo de controle dedicado, controle de velocidade dos ventiladores da condensação (EC) e modulação digital, resultando em um consumo energético 20% menor em comparação às unidades que utilizam compressores recíprocos. Além disso, as nossas unidades utilizam condensadores com minicanal de cinco mm têm carga de refrigerante até 40% menor e são aprovadas para uso com fluidos A2L”, explica o coordenador de vendas para usuários finais da empresa, Denis Ferraz.
Marca do portfólio da Nidec Global Appliance, a Embraco oferece um rol de compressores e unidades condensadoras ou seladas, e seus componentes chegam aos atacarejos e demais estabelecimentos do varejo embarcados em equipamentos de refrigeração fabricados por diversos players do HVAC-R.
Especificamente para os atacarejos, a companhia chega por meio das unidades seladas Plug n’ Cool e dos compressores FMFT. “A Plug n’ Cool é entregue completa e fechada para ser acoplada ao equipamento de refrigeração fabricado pelo cliente, como refrigeradores comerciais e pequenas câmaras frias”, ressalta o gerente sênior do segmento de varejo de alimentos para América Latina, Fábio Venâncio.
O executivo da Nidec explica que o componente é instalado na parte superior do gabinete dos refrigeradores, “e uma característica marcante da unidade Plug n’ Cool, como o nome indica, é que ela fornece um conceito ‘plug and play’, que acelera o processo de instalação em até 70% em comparação a uma unidade condensadora tradicional. Ela vem equipada com o compressor de velocidade variável FMFT, que a faz também ter alta eficiência energética”, frisa.
Para equipamentos usados em atacarejos, os compressores mais indicados da marca Embraco são os da linha FMFT – subfamília do portfólio FMF –, considerados ideais para aparelhos que exigem alta capacidade de refrigeração, como freezers acima de mil litros, ilhas congeladas de supermercados com até três metros de comprimento, máquinas de preparação de sorvetes e aplicações na área médica.
“Nosso compressor de velocidade variável pode atingir uma redução de até 40% do consumo de energia em comparação com compressores tradicionais de velocidade fixa, além de oferecer redução do nível de ruído e vibração, e mais estabilidade de temperatura, contribuindo para a preservação de alimentos. Tanto a Plug n’ Cool quanto o FMFT utilizam o R-290″, afirma Fábio.
Segundo o executivo, ambas as soluções oferecem a vantagem de conferir mais flexibilidade de leiaute à loja. “Isso ocorre porque são produtos instalados diretamente no refrigerador comercial ou na câmara fria, diferentemente das soluções remotas, em que o sistema de refrigeração fica em casas de máquinas, locais que exigem a passagem de tubos por debaixo do piso para levar o fluído refrigerante até os equipamentos de refrigeração, impedindo que se possam mudá-los de lugar com facilidade”, completa.
Tendências
O processo de monitoramento remoto integra, hoje, todos os componentes e equipamentos de um sistema de refrigeração, permitindo que plataformas de gerenciamento de dados façam análise precisas da operação e do comportamento do sistema. Assim, abre-se caminho para que decisões sejam tomadas automaticamente, em busca da melhor performance e qualidade do frio.
Ao atingir tal patamar, a automação dos equipamentos fabricados pelo HVAC-R beneficiou grandemente o varejo de alimentação. A nova geração de equipamentos apresenta recursos de tecnologia inteligente, com monitoramento em tempo real de parâmetros como temperatura, umidade e consumo de energia.
Isso oferece aos profissionais do setor uma visão abrangente do desempenho dos sistemas, permitindo identificar rapidamente quaisquer problemas ou necessidades de manutenção. Esse processo até agora foi o “fiel da balança” tanto para instaladores quanto para grandes varejistas.
Por meio da automação, realizam-se também a programação de horários de funcionamento e os ajustes automáticos com base nas condições ambientais e de demanda. Durante os períodos de baixa ocupação, por exemplo, os sistemas podem ser configurados para reduzir a capacidade de refrigeração ou ajustar a ventilação de acordo com a necessidade, resultando em considerável economia de energia.
A conectividade também é um ponto-chave nos equipamentos HVAC-R modernos. Por meio de redes de comunicação, esses sistemas podem se integrar a outros relacionados a gerenciamento predial, como controle de iluminação e segurança, tornando o ambiente de operação mais inteligente e eficiente.
A automação já se mostrou essencial para os grandes varejistas da alimentação, porque ela inclui a capacidade de resfriar grandes espaços de forma mais rápida e eficiente, de garantir a qualidade e a segurança dos produtos perecíveis, assim como a de manter a temperatura adequada em áreas de armazenamento refrigerado.
Os sistemas HVAC-R estão sendo projetados para atender a essas necessidades de forma personalizada, inclusive no que tange à modularidade dos equipamentos, aspecto que permite escalabilidade e flexibilidade para acompanhar o crescimento das lojas. As unidades de refrigeração podem ser adicionadas ou removidas conforme a estratégia de vendas, adaptando-se às mudanças nas demandas de resfriamento.
Fonte: revistadofrio