Embora a maioria dos desafios trazidos pela pandemia de Covid-19 estejam ficando para trás, uma coisa é certa: a emergência sanitária alterou a forma como as pessoas encaram sua relação com o trabalho. A busca por qualidade de vida e flexibilidade entrou definitivamente na pauta, tanto de quem trabalha, quanto de quem faz a gestão de talentos. Como consequência, os modelos de trabalho híbrido ou remoto vieram para ficar e trazem com eles suas próprias problemáticas.
Para os gestores, principalmente da área de Tecnologia da Informação (TI) – uma vez que a volta ao trabalho totalmente presencial é mais refutada pelos colaboradores – um dos principais desafios é o de gerir suas equipes a distância. “É necessário trabalhar mais, desenvolver estratégias para acompanhar e garantir que as entregas sejam feitas com qualidade”, conta Marcelo Raphael, head de suporte à Gestão de Times e Projetos da Runtalent, empresa especializada em soluções de alocação de profissionais de TI, squads ágeis e gestão de times e projetos que atende quase 100 clientes em mais de 12 segmentos.
O primeiro desafio para o gestor, segundo Raphael, é manter a confiança no time. “Anteriormente, a equipe estava fisicamente presente e agora não. Isso pode gerar dúvidas sobre a atuação dos integrantes: ‘será que eles estão realmente trabalhando?’, a gente pode se perguntar. Uma ação eficaz nesse contexto é o acompanhamento diário das atividades, de modo que a equipe seja incentivada a mostrar a evolução e o progresso das demandas. Isso deixa claro aos analistas e consultores que o gestor acompanhará de perto as atividades”, avalia.
Além disso, segundo o especialista, é importante cultivar uma cultura com foco nos resultados, estabelecendo a expectativa de que as entregas sejam concluídas até o final da semana ou da sprint. Dessa forma, o gestor pode desenvolver confiança em seu time e consegue demonstrar à diretoria ou à empresa que a equipe está preparada para continuar trabalhando remotamente. “No modelo remoto, é necessário que o gestor cumpra essas ações de maneira recorrente, por mais que pareçam repetitivas, pois, com certeza, elas trazem resultado.”
Para extrair o melhor da equipe, mesmo a distância, não basta que o gestor confie no time, ele precisa demonstrar. Por isso, é essencial deixar claro que entende que situações cotidianas, como levar os filhos à escola ou ir a consultas médicas, fazem parte da vida de todos e não devem atrapalhar o trabalho, pois todos são responsáveis e cientes de suas obrigações. Essa confiança precisa ser estabelecida. Depois, é importante definir claramente as expectativas em relação ao trabalho da equipe.
“Incentivar o desenvolvimento profissional da equipe, mesmo a distância, também faz diferença. Caso a empresa/consultoria ofereça treinamentos online e recursos educacionais para aprimoramento, motive e promova essa ação entre os colaboradores”, sugere o especialista.
Em um cenário que continua apontando para a escassez de profissionais habilitados na área de TI, reter talentos também tem sido um desafio. O especialista da Runtalent acredita que, neste contexto, é primordial manter a equipe comprometida e engajada. Para tanto, ele aponta algumas estratégias que podem ser adotadas. “Realizar rodas de conversa para trazer melhorias é uma ação que permite aos consultores se expressar e contribuir. Isso desperta o sentimento de pertencimento, de fazer parte de algo.”
Outra ação que, de acordo com ele, faz total sentido, é aumentar as celebrações das conquistas e reconhecimentos da equipe e de ações individuais a fim de manter o colaborador motivado. Além disso, promover uma cultura de equilíbrio entre trabalho e vida pessoal é essencial. Incentivar pausas, cuidado com a saúde física e mental e demonstrar preocupação com as questões pessoais dos colaboradores contribuem para o bem-estar. “E claro que, para isso, a liderança desempenha um papel fundamental. O líder precisa encabeçar essas ações, principalmente, porque é o principal contato da equipe remota com a consultoria ou empresa”, enfatiza o especialista.
Raphael destaca ainda a importância da tecnologia tanto para a execução do trabalho quanto para a gestão das pessoas a distância. No entanto, reconhece que ao mesmo tempo que facilita o contato entre a equipe, a interface com a tecnologia pode deixar as relações de trabalho menos pessoais. “Com algumas ações é possível criar o sentimento de pertencimento e proximidade em equipes que trabalham a distância. Promover momentos sociais virtuais, como happy hours, almoços ou, se possível, até mesmo encontros informais para bate-papo proporciona oportunidades para que os integrantes da equipe se conheçam melhor, compartilhem interesses pessoais e criem laços mais fortes”, sugere.
No trabalho remoto, na avaliação de Raphael, o gestor precisa se dedicar mais do que no modelo presencial. No entanto, ele diz que é importante entender que isso é para um bem maior. “O trabalho remoto permite que muitos profissionais tenham vida após o trabalho e estejam mais próximos de suas famílias. No final, vale a pena investir nos esforços necessários para garantir o sucesso da equipe em um ambiente remoto”, conclui o especialista da Runtalent.
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