Pela primeira vez, teria férias, afinal, fazia um ano e três meses que estava trabalhando CLT em uma empresa multinacional. Até então, minha vida era de aluno de pós e empreendedor. Férias eram 4 ou 5 dias picados, destinados a desligar do mundo e esquecer um pouco as pendências. Agora não. Estava ansioso. Passaporte renovado. Viagem marcada. Tudo certinho. Faltava apenas uma semana para gozá-las.
Era fevereiro. Época do ano em que as metas de 2014 já estavam contabilizadas e as de 2015 ainda não tinham sido fechadas. A pressão era menor e o verão ainda nos brindava com a brisa da tarde quente. Saímos de bicicleta pelas rodovias, afinal, nada melhor do que a atividade física para curtir e ficar em forma. Após duas horas de pedal, alguns poucos quarteirões do destino, não lembro mais nada.
Apenas 10 dias depois recobrei vagas lembranças de quem eu era. A memória dos 10 dias estava totalmente apagada. Não lembrava de nada. Pontos no supercílio, olho esquerdo sem mexer, pescoço com colar cervical, ombro na tipóia, cicatrizes abertas nas costas, joelho ralado e asfalto no rosto. Alguma coisa tinha dado errado no passeio.
Um mês depois. Fisioterapias no pescoço, ainda imobilizado. Olho começando a mexer e uma tomografia da minha cervical: 4 fraturas no processo transverso da cervical, 1 fratura na C1, traumatismo crânio encefálico, fratura no ombro e hemorragia cerebral no dia. É, a coisa foi feia. Ansiedade, socorro rápido, equipe médica de ponta alocada em um hospital público em Jaguariúna. Transferência vaga 0 para o HC da Unicamp e salvei-me sem sequelas. Três meses depois, retomei minhas atividades.
Todo o planejamento que fiz para minha vida naquele dia foi pelo ralo, ou melhor, esparramou-se inerte pelo asfalto. Não adiantou capacete, bicicleta nova e os avisos da Fernanda para ir devagar na descida. Afinal, era a última descida antes da chegada. Estava começando a garoar e estava acostumado àquela velocidade. Lombada, óleo, água, pedaleira, sei lá. Algo me levou sozinho para o chão e mostrou ao “super-racional” que a vida não ligava muito para os meus lamentos e planejamentos.
Oito anos depois, ainda me choca relembrar essa história. Mas além de impactante, me fez repensar minha carreira e a vida. Depois disso, durante a minha recuperação, decidi voltar para o que amava, que era a escola. Apesar de financeiramente compensador, o coração falava mais alto. Empreender! Ensinar! Democratizar a pós-graduação era uma missão pela qual valia lutar.
Não espere a vida lhe chamar
Para viver, não espere a vida lhe chamar, companheiro. Não espere a vida mostrar que o planejamento dela pode não estar alinhado ao seu. Tenha um mindset de desenvolvimento – ou, se preferir o português, esteja aberto a novas ideias. Aventure-se por aquilo que gosta e tenha um claro propósito. Isso ajuda muito a se animar.
Na verdade, o universo tem um jeito engraçado de nos mostrar que às vezes não temos o controle de tudo. Isso não quer dizer que você deve parar de planejar. Muito pelo contrário: o planejamento é fundamental, mas saiba que o inesperado pode acontecer, e é preciso estar pronto para lidar com ele. O importante é ter a capacidade de se adaptar, mudar de rumo se necessário e não se deixar abater pelas adversidades.
O que faço hoje nasceu dessa virada, desse resgate da minha paixão pela educação. Uma empresa que tem como missão democratizar o acesso ao conhecimento de qualidade, preparando profissionais para um mundo cada vez mais competitivo e incerto. Foi nesse momento que entendi que o meu propósito, a minha missão, estavam em usar os meus conhecimentos para ajudar outros profissionais a alcançarem seus objetivos de carreira.