sexta-feira,20 setembro, 2024

Relatório revela tendências para foodtechs da Amazônia brasileira

As empresas da Amazônia brasileira exportam 64 ingredientes da floresta, com uma receita anual média de quase US$ 176 bilhões. Estes ingredientes dão origem a um total de 955 produtos diferentes, todos com potencial para chegar a volumes de exportação ainda maiores e atingir cada vez mais mercados no futuro, já que, atualmente, apenas 0,7% das foodtechs da Amazônia possuem uma inserção de fato significativa no mercado. Estas são algumas das conclusões do relatório “Ecossistema de Alimentos da Amazônia”, elaborado pela desenvolvedora de negócios pelo clima Ateha, por meio do ekuia Amazônia food lab, em parceria com a RG Think Food.

“Todos esses ingredientes, concentrados num território de quase 7 milhões de quilômetros quadrados, vão muito além da função de alimento. Há aplicações para diferentes setores da indústria. Dos princípios ativos de remédios à tinta para tingir roupas, passando por cosméticos dos mais variados, a Amazônia é uma espécie de índice onomástico da biodiversidade do nosso planeta”, afirma a nutricionista Heloísa Guarita, CEO da RG.

O objetivo do estudo, que levou anos sendo desenvolvido, é dar visibilidade e acesso às soluções de base florestal que já existem hoje, despertando o interesse de investidores e agentes que possam ajudar a fomentar negócios no bioma. No entanto, esses negócios precisam respeitar os limites de produção da natureza e as populações que ali vivem, ressaltam os pesquisadores.

Em uma “carta aberta da floresta aos investidores e empreendedores da Amazônia brasileira”, publicada logo no começo do relatório, o documento ressalta que “a atratividade e a publicidade do tema Amazônia é um mecanismo de aspectos ambíguos: por um lado importante para gerar visibilidade para quem quer passar a direcionar seu capital para causas mais humanitárias e ambientais; por outro, danosa se não sustentada por um aparato que assegure acesso, viabilidade, distribuições igualitárias e manutenção das dinâmicas sociopolíticas do território”.

O estudo chama a atenção para a importante relação de simbiose que existe entre os povos da Amazônia e a floresta, e destaca que estas comunidades possuem conhecimentos únicos sobre a lógica florestal e seus recursos naturais, decorrentes de milhares de anos de práticas e saberes ancestrais que lhes permitiram viver de forma sustentável. Para aqueles que desejam investir sendo agentes de transformação, o desafio está em criar aparatos para que estas pessoas possam se desenvolver e gerar riquezas utilizando a bioeconomia como ferramenta de impacto positivo tanto para o ecossistema como para seus moradores.

Tendo estes ativos florestais como base, os negócios que vêm se desenvolvendo na região buscam construir modelos que integram biodiversidade à tecnologia e incorporarem valor aos produtos e cadeias produtivas. Embora o potencial dessa biodiversidade possa ser explorado em setores tão variados quanto a indústria farmacêutica, de cosméticos, automobilística e de saúde, é no setor de alimentos que os pesquisadores enxergam mais oportunidades hoje.

Entre os motivos listados para este destaque estão a possibilidade de geração de empregos nos meios rurais e urbanos, o baixo custo de muitas das tecnologias centrais dessa cadeia – tornando-a relativamente mais acessível para pequenos e microempreendedores, e a capilaridade que o setor pode abranger, fornecendo insumos para áreas secundárias como turismo, pesquisa, cultura, saúde e outros. E isso tudo em um momento em que a demanda por alimentos saudáveis, funcionais, orgânicos e produzidos com responsabilidade social tem crescido em todo o mundo.

Para dar mais visibilidade a estes ingredientes, o relatório possui uma seção dedicada aos recursos naturais da biodiversidade, trazendo informações como principais características, nome popular, científico, uso industrial e organização por cooperativas de muitos deles. Para Paula Scherer, COO da Ateha e Diretora Executiva do ekuia, mostrar as oportunidades de utilização dos principais ingredientes amazônicos, com aprofundamento técnico e científico das propriedades nutricionais e aplicabilidade em diferentes áreas de conhecimento, pode inspirar novos empreendedores e investidores e ajudar a transformar a indústria de alimentos com os sabores e saberes amazônicos.

A composição do guaraná puro pode  conter até 5,3% de cafeína, o que o caracteriza como fonte energética — Foto: Getty Images

A composição do guaraná puro pode conter até 5,3% de cafeína, o que o caracteriza como fonte energética — Foto: Getty Images

Em sua parte final, o relatório elenca dezenas de empresas inovadoras que utilizam a tecnologia aliada ao propósito de transformar o mercado de produtos com ingredientes amazônicos. “Tem muitas iniciativas bacanas acontecendo na Amazônia, mas poucas pessoas tomam conhecimento disso. Sem disseminar essa informação, como atrair investidores? É preciso mostrar que sim, é possível desenvolver a economia local por meio de negócios que combinam a produção de alimentos saudáveis com a sustentabilidade, aproveitando o que a fauna e a flora da Amazônia oferecem, ajudando a trazer renda para a população local, empregos, proteção para a floresta e combatendo a fome. Tudo isso por meio de negócios rentáveis”, afirma.

Texto: Sabrina Neumann

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