Ainda no ano de 2004, com o marco do Pacto Global, uma iniciativa proposta pela Organização das Nações Unidas (ONU) para encorajar empresas a adotar políticas de responsabilidade social corporativa e sustentabilidade, surgiu o termo ESG (environmental, Social and governance, no português, ambiental, social e governança). Na prática, o conceito significa implementar boas práticas ambientais, preocupação social e diretrizes de governança corporativa. Na Serra, a avaliação de especialistas é que a criação de incentivos poderia fazer com que mais empresas adotassem o modelo. Contudo, as corporações que implantaram garantem que o retorno para os negócios tem sido grande.
Hoje, quase duas décadas depois, o conceito vai ganhando espaço vagarosamente nas empresas da Serra. No entanto, a expectativa de entidades empresariais, como a Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul (CIC) era de que mais empresas já estivessem investindo na implantação. Vice-presidente de Indústria da CIC, Ruben Bisi diz que a expectativa inicial sobre o conceito era grande. Porém, Bisi acredita que um dos fatores que ainda pode estar afastando o ESG de muitas empresas é que, como a sigla é em outra língua, muitos empresários não conseguem se apropriar de forma correta do tema. A barreira linguística barra o entendimento, porque, mesmo que traduzida, não é exatamente o mesmo conceito, explica Bisi.
— Nós (CIC) trouxemos uma palestra para desmistificar o que é o ESG. Temos agora a diretoria de ESG, que antes era só meio ambiente, e envolvemos mais gente dentro disso para colocar a Fundação Caxias junto nesse esquema, para as questões de social — afirma o empresário.
Segundo Bisi, uma tendência que vem crescendo no país é o movimento pela descarbonização, que é o processo de redução de emissões de carbono na atmosfera, especialmente de dióxido de carbono. Nesse sentido, tanto a CIC quanto outras entidades representativas, como o Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul e Região (Simecs) têm trazido o tema à pauta e auxiliado na implantação de ações.
— Tem muito trabalho a ser feito. Não vejo as pequenas e médias empresas engajadas se não tiver uma premiação ou uma penalidade. Por exemplo: a empresa ter mais clientes, lucratividade e as pessoas que cuidam do social e do meio ambiente façam por amor, então, esse seria o prêmio — exemplifica.
Outra fator é que, como ainda não existe um ranking ou uma forma de medir o quanto a empresa é ESG, muitas não se motivam nem pela penalidade, nem pela premiação. Bisi diz que as empresas multinacionais ou de grande porte já fazem o ESG há anos, motivadas por outras gigantes internacionais desde que se percebeu que o cuidado com o meio ambiente e com o social é importante para garantir que o ambiente seja agradável para quem trabalha lá.
— À medida que as empresas se internacionalizam, vão a feiras e vão a outros mercados, elas tentam ser melhores. Mas, por não ter essa medição do nível de ESG, as empresas ainda não deram um direcionamento bem forte para essa agenda. Mas agora vejo que a consciência com o meio ambiente se tornou algo que as empresas estão fazendo de forma natural, trocando lâmpadas tradicionais por led, instalando placas solares — pontua Bisi.
De acordo com o professor de Direito Tributário e Direito Empresarial do Centro Universitário da Serra Gaúcha (FSG), Fábio Balbinot, a expressão ESG trabalha com a ideia de que a importância da sustentabilidade se ampliou para uma ambiental, social e de governança. Ele explica que a sgila traz um novo conceito do que é a sustentabilidade em uma organização.
— Essa agenda ESG é mais do que uma implementação objetiva, é uma ideia principiológica. Quando uma empresa se preocupa com o ESG, significa que se preocupa com a parte ambiental, ou seja, como sua produção atinge o aquecimento global, os gases poluentes emitidos, gestão de resíduos… Partimos do princípio que a sociedade vem evoluindo e entendendo que os recursos naturais são finitos, portanto, a sociedade entende que as empresas também precisam entender isso — pontua Balbinot.
O professor explica que, além do meio ambiente, outra preocupação que tem crescido na sociedade e, consequentemente, nas empresas, é a social. Ou seja, o impacto dessas organizações na comunidade em que estão inseridas. Balbinot destaca alguns contextos que podem indicar se a empresa cumpre o “S”, da sigla ESG: se respeita regras celetistas e normas de segurança, se paga salários justos, se tem diversidade, se equipara salários de homens e mulheres ou se tem representantes de minorias.
Já no “G”, da sigla, que significa governança, alguns parâmetros também podem ser levados em consideração, segundo o professor, como o controle e transparência de investimentos, se a empresa conta com políticas de controle, se respeita leis anticorrupção, se conta com canais de denúncia.
— Ser ESG é mais do que implementar algo objetivo, é implantar um programa que vai mudar uma política de conduta, porque a ideia é que, hoje em dia, as empresas não devem mais buscar o lucro apenas pelo lucro. O lucro é a ponta final, mas como se chega no lucro é muito importante, porque uma empresa que tem preocupação ESG acaba tendo mais valor de mercado — destaca.
O acrescenta que o índice de investimentos feitos em empresas que têm preocupação ambiental, social e de governança é cada vez maior. Isso porque considera-se que uma empresa com o ESG implantado como política para atingir resultados é uma empresa segura e confiável para investidores.
—Se sabe que dificilmente ela vai causar um impacto negativo ambiental e levar uma multa alta, por exemplo. Ou dificilmente terá dificuldade com um empregador por não cumprir alguma de suas obrigações de legislação — destaca o docente.
Comitê para incentivar ações que já estão no DNA
Para implementar o ESG de uma forma mais completa, a Universidade de Caxias do Sul (UCS) criou um comitê com o objetivo de despertar o interesse de todas as áreas da universidade para ações focadas na agenda ESG. Surgido em outubro de 2021, o comitê é responsável pela criação de estratégias, objetivos, políticas e propósito para induzir, monitorar e incentivar as ações, planos e programas nos mais diversos níveis institucionais.
De acordo com a professora Neide Pessin, a sustentabilidade ambiental, social e econômica, assim como a valorização das pessoas, estão entre algumas das diretrizes fundamentais do planejamento estratégico da UCS. A ideia é de ampliar essas práticas de sustentabilidade, já que a UCS é uma universidade comunitária e o senso comunitário é um dos principais valores da instituição.
— Nossa caminhada ESG, principalmente ambiental, começou em 1987, quando a universidade começou a criar, dentro dos currículos, temáticas de discussão ecológica e ambiental. Essa linha do tempo começa em 1987 e culmina na criação desse comitê ESG — relembra.
A professora pontua que a caminhada até que se chegasse à consciência do que é o ESG e para que se tornasse uma prática na instituição foi longa, mas que, muitas vezes, algumas ações foram feitas sem saber que se enquadravam nessa agenda.
— Nosso comitê está vinculado ao comitê de governança da Fundação (Fucs Fundação Universidade de Caxias do Sul) e repleto de representantes das áreas de conhecimento da universidade, porque temos universos diferentes e propósitos diferentes, como um hospital, uma escola de ensinos Fundamental e Médio, uma rádio e uma universidade — explica.
Como conscientização nas questões ambientais, a Universidade procura investir em energias renováveis e limpas, com a instalação de painéis solares em todas as unidades. Além disso, de acordo com a professora, a instituição participa de uma plataforma global das Organizações das Nações Unidas (ONU) de engajamento voluntário para as escolas de negócios e outras instituições de Ensino Superior, chamada Prime (Principles for Responsible Management Education).
— Uma organização que adere ao Prime manifesta a convicção de que as instituições acadêmicas, por meio da integração de valores universais no currículo e pesquisa, podem contribuir para um mercado global mais estável e inclusivo, ajudando a construir sociedades prósperas e bem sucedidas — explica Neide.
Além disso, a instituição conta com o selo ODS EDU, uma certificação que busca estimular a participação efetiva das instituições de ensino no alcance das metas da agenda 2030. No âmbito social, as ações envolvem desde aulas de português para estrangeiros, bolsas de estudos integrais para estudantes de baixa renda, atendimento de saúde público por meio do Hospital Geral e o programa UCS Comunidade, uma iniciativa que neste ano atendeu cerca de 1,5 mil pessoas, como atividade prática dos cursos superiores em ciências jurídicas, nutrição, medicina veterinária, farmácia e educação.
Garantia de negócios internacionais
Para uma empresa com ambições internacionais, o ESG faz diferença na hora de fechar negócio e conquistar novos clientes ou se tornar fornecedor de algum gigante internacional. Esse é o caso da empresa Resfri Ar, de Vacaria, que investe, principalmente, em ações de cuidado com o meio ambiente, o “E”, da sigla ESG.
De acordo com o coordenador de qualidade e meio ambiente da empresa, Fabiano Costa Cardoso, a empresa sempre teve uma preocupação com questões que envolvem sistemas de gestão, então, além das certificações de qualidade, uma preocupação foi ter certificações ambientais. A fabricante de climatizadores atende montadoras de ônibus e caminhões e exporta para outros continentes.
Para seguir se destacando no mercado internacional, uma conquista recente foi a certificação da ISO 14001- meio ambiente, que a empresa diz que poucas corporações têm em virtude do alto custo e dos requisitos rígidos. Para se ter uma ideia, no Rio Grande do Sul, são apenas 48 certificações ISO 14001.
— Essa certificação já nos levou a um cuidado com o meio ambiente e com a segregação de resíduos. Essa norma garante que tudo o que nós fazemos, as empresas que contratamos, o local onde se descarta resíduos perigosos está de acordo. Esse processo começou desde 2012 e só veio a agregar — conta.
No caso da Resfri Ar, que precisa descartar resíduos classe 1 (perigosos) e classe 2 (não perigosos) o descarte é feito por empresas especializadas que são contratadas para isso, mas, de acordo com Fabiano, todas precisam ser certificadas e licenciadas pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam). Só a partir disso é que a Resfri Ar consegue ser certificada na ISO 14001.
O interesse no cuidado ambiental também foi motivado pelos clientes. Isso porque a empresa fornece climatizadores para seis montadoras internacionais, que cobram das empresas fornecedoras sejam certificadas e licenciadas.
— As montadoras para as quais a gente fornece são muito incentivadoras de sustentabilidade e certificação ambiental. A Volvo foi nosso primeiro cliente automotivo e eles influenciam muito nessa questão, e nos deu esse impulso. Mas com certeza isso atrai mais clientes, apesar de ser um processo complexo — explica Cardoso.
De acordo com o coordenador do setor, desde 2020, a empresa também tem investido em fontes de energia renovável. Essa iniciativa já diminui a emissão de 294 toneladas de gás carbônico ao meio ambiente.
“O ESG ajudou a conhecermos melhor os processos internos da empresa”
Para a empresa Treboll Móveis, de Flores da Cunha, a implementação do ESG foi uma necessidade, principalmente, de ampliar negócios internacionais. O principal cliente da empresa é uma distribuidora inglesa de móveis, que exige que seus clientes tenham níveis elevados de cuidados com o meio ambiente, a governança e com o âmbito social.
— Nossos clientes internacionais demandam esses três pilares bem estruturados dentro da nossa empresa. Elas nos cobram isso para poder comprar da Treboll — explica Juezel Tafarel, diretor administrativo financeiro da empresa.
A preocupação com o ESG surgiu há cerca de seis anos, quando a Treboll procurou uma assessoria especializada para auxiliar no processo de elaboração de projeto e implementação dessa agenda. No início, de acordo com Juezel, a fiscalização de leis e normas ambientais foi um dos fatores que influenciou. Outro aspecto importante foram os clientes do Exterior que fazem auditoria sobre os processos internos dos fornecedores.
Para se manter relevante no mercado, no início do processo de implementação do ESG, o foco foi na questão operacional, licenças de operação, melhorias de central de resíduos, processos e descarte de resíduos industriais. Depois, o foco foi ampliado para certificações mais complexas exigidas pelo mercado internacional.
— Por sorte, não precisamos abrir mão de nenhum fornecedor, porque todos estavam dentro das normas e da legislação adequada. Mas se algum deles não estivesse, teríamos de abrir mão — pontua.
No dia a dia, a principal mudança foi a percepção dos processos internos. De acordo com o diretor administrativo financeiro, o ESG foi fundamental para entender o dia a dia de todos os setores.
— Aprendemos mais sobre como nós somos internamente, enxergamos melhor o que consumimos e como destinamos isso, porque, dentro de uma empresa, se fala em linhas de produção, mas no ESG nós precisamos olhar cada linha de produção, o consumo, se estamos consumindo racionalmente e como destinamos cada resíduo — conta.
Tafarel destaca que, na empresa, o ESG foi também uma operação de autoconhecimento sobre os impactos no meio ambiente e sociais. Ele explica que o processo foi importante para entender de que forma o negócio impacta o mundo.
Economia de recursos ambientais e financeiros
Já as Empresas Sim, de Flores da Cunha, também trabalham alinhadas à agenda ESG. Numa perspectiva ambiental, a empresa garante que cerca de 90% dos postos de combustível da rede já contam com ao menos uma fonte de energia alternativa. De acordo com a diretora de Gente e Cultura da SIM, Fernanda Antunes, são três estratégias que garantem a economia de recursos ambientais e financeiros: a energia solar, uma usina própria de biogás e a exploração do chamado Mercado Livre de Energia.
Fernanda explica que, ao todo, a rede já investiu cerca de R$ 8 milhões com fontes alternativas de energia. Os retornos financeiros já foram percebidos mensalmente nas contas, com uma média mensal de R$ 270 mil de economia desde a implantação. Desde julho de 2021, 11 postos de alta tensão da SIM migraram para o Mercado Livre de Energia, totalizando 33 postos nesse ambiente de contratação livre. Essa mudança representa uma redução de 20% em relação ao mercado tradicional.
Ainda contemplando o âmbito de sustentabilidade, de acordo com Fernanda, a rede incorporou uma nova empresa ao grupo, que é dedicada à coleta de lubrificantes usados, evitando assim o descarte inadequado desses materiais. Após a coleta dos óleos, a empresa faz o reprocessamento desses materiais em sua refinaria própria, e os transforma em óleo básico de alta qualidade, que, depois, é utilizado na produção de lubrificantes.
Ela explica que o objetivo é mudar o modo de pensar e agir para fazer negócios.
— Quando se pensa em fazer negócios de forma ética, transparente, que valorize as individualidades, o meio ambiente e a sociedade, precisamos levar em conta o cuidado com as pessoas, que precisamos fazer mais e melhor todo dia, buscar soluções inovadoras e queremos que isso sejam traços recorrentes aqui dentro — destaca.
Por isso, além dos cuidados com a sustentabilidade, outro aspecto importante levado em consideração pela rede é a inclusão de diferentes perfis de trabalhadores no quadro de funcionários.
— A gente tenta ter um ambiente onde as pessoas possam ser quem elas são. Já conseguimos agregar à equipe pessoas de diferentes regiões, culturas, características, gêneros… Isso ajuda a complementar essa multiplicidade que funciona muito bem.
Ações que parecem pequenas também contribuem
Além das grandes certificações ISO 9000 e ISO 14000, que garantem o cumprimento de normas ambientais, pequenas ações internas também fazem a diferença para o cuidado com a sustentabilidade. Na unidade de hidráulicos da Hyva do Brasil, em Caxias do Sul, o ESG já existe no âmbito mundial e é estruturado, porque a empresa tem sedes em todos os continentes.
No entanto, de acordo com o CEO da unidade do Brasil, Rogério De Antoni, as ações que hoje são consideradas ESG já existiam na empresa mesmo antes do conceito.
— O ESG veio para estruturar essas ações que já tínhamos. Por isso, temos aqui dentro uma área de sustentabilidade e hoje temos uma área para destinação de resíduos, metas de redução de resíduos, buscamos a certificação ISO 14000 e temos pequenas ações no “E” do ESG que vão tornando a empresa cada vez mais sustentável — explica o CEO.
Ele ainda destaca que algumas estratégias adotadas pela unidade são o desenvolvimento de produtos sustentáveis, com menos plástico e embalagens de materiais recicláveis. Pensando em governança, um dos destaques da empresa é a política rígida anticorrupção e antisuborno, com canal de denúncias anônimas.
Além das ações pensadas de dentro para fora, a Hyva também pensou em ações para conscientizar internamente o quadro de funcionários. Com o objetivo de reduzir o descarte de plástico e abolir o uso de copos de café descartáveis, todos os funcionários foram presenteados com uma caneca para tomar café. Dessa forma, a empresa gera menos lixo e ainda garante a valorização do funcionário.
— Dentro da nossa movimentação interna temos esses projetos de melhoria, que visam a parte ambiental. Trocar os copos descartáveis por canecas foi uma ação importante, as pessoas gostaram muito dessa atitude e todos estão usando — conta Jéssica Pagliarin, analista de Qualidade e Meio Ambiente da empresa.
O processo para implementar ESG
O ESG não surge sem precedentes. Na verdade, especialistas explicam que os projetos de implementação são inspirados justamente em ações que já acontecem nas empresas, mas que ainda não estão bem estruturados. Para montar esse projeto, são três etapas, de acordo com José Tocchetto, especialista em ESG na empresa Glob Engenharia Ambiental: diagnóstico, projeto e relatório de sustentabilidade.
DIAGNÓSTICO
Nessa etapa, a assessoria elenca as ações que a empresa já desempenha. Normalmente, de acordo com Tocchetto, são muitos itens e pouco estruturados. Então, o profissional verifica quais já podem ser consideradas ESG e o que ainda falta ser feito dependendo do protocolo que a empresa quer atender. Outro aspecto que é levado em consideração nesta etapa são as motivações da empresa, porque assim é possível direcionar melhor o trabalho.
— Quem já tem licença ambiental e atende toda a legislação ambiental, já tem ESG. Quem paga todos os direitos trabalhistas, cuida das pessoas, atende a legislação trabalhista envolvida também tem ESG. Saúde e segurança do trabalho também. Nós desmistificamos essa sigla — esclarece Tocchetto.
PROJETO
Dentro do diagnóstico, são avaliadas as relações da empresa com todas as partes interessadas (pessoas, instituições, comunidade). De acordo com Tocchetto, são aqueles que são impactados pelas ações da empresa ou se sentem impactados, chamados também de stakeholders. A empresa precisa estar em contato com eles para equacionar os impactos e levar esses dados para a estratégia de ação.
— É necessário analisar todos os impactos, com comunidade, clientes, órgãos governamentais, agências de regulação… Tem que ouvir todas as partes para entender de que forma eles enxergam nossa atuação — destaca Fabiane Locatelli, diretora executiva da Glob.
A partir disso, os dados são comparados e um projeto, chamado Matriz de Materialidade. Nele, são elencados todos os aspectos que não podem ser deixados de lado. Por exemplo, emissão de gases de efeito estufa para entrega de produtos por via rodoviária e impactos nas comunidades do entorno.
RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE
De acordo com os especialistas, a melhor forma de medir os resultados do ESG é a organização de todas as ações em um relatório. Caso contrário, as informações ficam soltas e é difícil prestar contas.
— Ao final do ano, se mede o que foi feito e divulga isso para as partes interessadas. Como uma prestação de contas, depois de envolver as partes nesta pesquisa. No ano seguinte, quando se fizer um novo planejamento, a empresa já envolve tudo que foi feito anteriormente. Ela já sabe o que ainda precisa melhorar — pontua Tocchetto.
Marelli reduz emissão de gases e acidentes de trabalho
Entre os anos de 2021 e 2022, a Marelli, marca de mobiliário corporativo com 40 anos de mercado e atuação em vários, reduziu em 22% a emissão de gases de efeito estufa, em 53% a taxa de gravidade dos acidentes de trabalho e em 58,9% a taxa de frequência de acidentes no parque fabril, em Caxias do Sul.
Esses indicadores fazem parte do Relatório de Sustentabilidade 2022, recém-lançado pela empresa, e são resultado das práticas sociais, ambientais e de governança adotadas, traduzidas no que é chamado hoje no mundo corporativo pela sigla ESG.
O relatório foi elaborado em conformidade com o padrão de relato Global Reporting Initiative (GRI), principal metodologia para reporte de sustentabilidade mundial, e alinhado com a filosofia dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), metas internacionais estabelecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU) para um mundo mais sustentável até 2030.
Para cumprir os ODS, a Marelli atua com o objetivo de trazer contribuições em quatro temas: criar espaços que motivem as pessoas (envolve oferecer produtos seguros e de qualidade, promover soluções para criação de valor e certificação dos produtos); cuidar do público interno (diz respeito ao atendimento das práticas trabalhistas, segurança e saúde dos funcionários, clima organizacional, engajamento, diversidade, inclusão e qualificação do capital humano); motivar para um novo amanhã (está relacionado à gestão de recursos como energia e água e de resíduos líquidos e sólidos); e governança responsável (privacidade e segurança das informações, gestão da ética e combate à corrupção).
A gerente de Qualidade da Marelli, Fernanda Daniele Rusch, reforça a importância de medir os resultados das práticas ESG e lembra que, pela primeira vez, a Marelli fez um inventário de emissão de gases de efeito estufa.
— Ficamos felizes em dizer que, mesmo crescendo nossa operação fabril e dobrando o faturamento nos últimos três anos, reduzimos em 22% em números absolutos a nossa emissão de gases, comparando 2022 com 2021 — festejou Fernanda.
A estratégia da empresa assenta-se no crescimento controlado, procurando traduzir-se em resultados positivos para os negócios e para a economia. Assim como para as pessoas e para o planeta, criando valor para os acionistas, clientes, profissionais, fornecedores e comunidade.
— Tracionamos nossa jornada de sustentabilidade nos últimos anos com a construção de uma equipe madura, norteada por uma governança sólida e transparente e guiada por uma gestão cartesiana e precisa, pois sabemos que temos uma oportunidade única de liderar uma transformação em um segmento de mercado que dá ainda seus primeiros passos rumo à plenitude de uma existência verdadeiramente sustentável. Nós queremos ser os líderes dessa virada. Sermos admirados e seguidos nesta conquista será apenas uma consequência. Nossa crença é crescer sempre, mas apenas de forma sustentável — destaca o CEO Luis Valente.
A presença expressiva de mulheres no quadro funcional da Marelli é um dos resultados deste trabalho. Atualmente, elas representam 42% da força de trabalho da empresa, tanto que foi criado o Projeto Mulheres no Mundo Marelli para fomentar o protagonismo feminino.
Texto: GABRIELA ALVES