sexta-feira,20 setembro, 2024

Solar Hub é projeto de conectividade de Dell e Intel na Amazônia

Falar de tecnologias de ponta é uma rotina a qual estamos acostumados. A explosão de Inteligência Artificial, processadores inovadores com chiplets, novas propostas de arquiteturas, entre tantos outros anúncios que mostram um pouco do futuro. O fato é que nem todos têm acesso a essas inovações futuristas — algo que nem sempre consideramos.

Grandes corporações estão cada vez mais cientes disso, e têm trabalho na adoção de práticas conhecidas como ESG, que incluem maior preocupação ambiental, responsabilidade social e governança. Em resumo, a proposta dessas práticas é tornar uma empresa mais sustentável e inclusiva, exercendo impactos sociais positivos na sociedade.

Um exemplo de projeto que trabalha o ESG são as chamadas Solar Community Hubs da Dell, unidades que levam de forma sustentável centrais conectadas a regiões isoladas em todo o mundo, visando dar voz e oportunidades a quem raramente é lembrado nas políticas públicas. São mais de 27 unidades em funcionamento, sendo uma das mais recentes a da comunidade de Boa Esperança, localizada no coração da floresta amazônica, a 350 km da capital Manaus.

A convite da Intel, uma das principais parceiras da Dell no projeto, o Canaltech visitou a primeira central do tipo no Amazonas, vendo de perto a importância da “Solar”, como ficou conhecida entre os habitantes, para auxiliar a população local a ter acesso facilitado a serviços essenciais, sem deixar de lado o respeito e o cuidado com a natureza.

O que é o Solar Community Hub?

O Dell Technologies Solar Community Hub é um projeto desenvolvido pela gigante norte-americana em parceria com a britânica Computer Aid, organização sem fins lucrativos focada em proporcionar tecnologia para mais pessoas, cuja primeira unidade foi estabelecida em meados de 2013 na Nigéria.

A central concentra não apenas computadores e conectividade para a população das áreas isoladas que atende, como também funciona de forma autossuficiente e sustentável. Entre as tecnologias implementadas para garantir essas características está a alimentação por painéis solares off grid, aspecto que dá nome às unidades.

Desde a estreia há 10 anos, mais 26 unidades foram abertas, com a 25ª delas tendo sido instalada no Brasil, na comunidade de Boa Esperança, visitada pelo Canaltech no início de junho. A proposta tem um forte impacto social e beneficia não apenas as empresas por praticamente atender a todos os requisitos estabelecidos pelas práticas de ESG, mas também populações nas situações mais delicadas, e tem um grande potencial de se adaptar.

Prova disso é a presença de unidades nos arredores da Ucrânia, que têm servido de abrigo para refugiados da guerra, e o próprio Solar Hub no Brasil, que atua em sinergia com a natureza ao estar presente em uma reserva de proteção ambiental e possuir tecnologias sustentáveis desenvolvidas pelos moradores, integradas o suficiente para servir de exemplo para atuais e futuras instalações no restante do mundo.

O projeto da Amazônia: desafios e adaptações

Apesar da vista excepcionalmente linda em uma imensidão de verde da floresta amazônica, o trajeto até Boa Esperança é complexo. Partimos de Manaus em um pequeno avião de 9 lugares para chegar cerca de 1h30 depois na cidade de Manicoré, ponto mais próximo da comunidade, de onde é feita a etapa seguinte do trajeto. Em uma lancha de alta velocidade, levamos mais uma hora para então chegar ao local.

É justamente esse o ponto que destaca a importância do projeto para a população. Pessoas que buscavam estudar, fazer um tratamento médico ou até realizar tarefas consideradas “básicas” por nós, como pagar as contas, precisavam viajar por horas para chegar a Manicoré ou Manaus. Com a instalação do Solar Hub, foi possível reduzir o número de viagens e até eliminá-las por completo em alguns casos.

As dificuldades de acesso também é vista no próprio processo de instalação da unidade, que precisou viajar por dias em duas balsas e ser levada por tratores até a área em que seria estabelecida. Por outro lado, a verdadeira odisséia mostra um dos aspectos mais bonitos da iniciativa — muito engajada, a comunidade se propôs a ajudar no transporte dos equipamentos e trata o Hub com muito carinho, algo perceptível no olhar e nas palavras de gratidão da presidente da associação de moradores, Maria Ana Hipi da Costa, a dona Ana.

O Solar Community Hub da Amazônia se estabelece em quatro pilares: Infraestrutura Comunitária, Educação, Saúde e Monitoramento Ambiental. A proposta da Infraestrutura Comunitária é melhorar a qualidade de vida da população, através das iniciativas desenvolvidas pelos próprios moradores. Entre elas estão o tratamento de água da chuva para consumo e o uso do esgoto do banheiro para adubar um pequeno grupo de bananeiras, e até o estudo do uso de IA para a criação de um “ChatGPT da floresta”.

O pilar de Educação se baseia na tecnologia oferecida, incluindo cursos do básico ao avançado sobre pacote Office e informática em geral, e até formação acadêmica à distância — jovens que querem ingressar na faculdade já não precisam viajar por horas ou mesmo mudar de cidade para se formarem. A Saúde também tira proveito das máquinas e impressiona pelos números registrados.

As consultas são feitas via teleatendimento no mesmo dia em que são marcadas, e totalizam uma média de 20 a 25 por mês, o que faz de Boa Esperança o ponto com maior número de consultas virtuais no estado do Amazonas. Isso facilitou a logística da população, que agora só precisa ir a Manicoré ou a Manaus para a realização de exames, sem ter de ir e voltar diversas vezes. Os resultados são enviados ao médico por escaneamento, e há um estoque de medicamentos no ambiente para agilizar o tratamento.

Por fim, o Monitoramento Ambiental mostra o impacto que a iniciativa de Dell, Intel e Computer Aid tem não apenas para os moradores, como também para a sociedade. Agentes de fiscalização usam a conectividade do Hub para avaliar dados coletados do banco de dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), responsável, entre outras coisas, por acompanhar o estado do desmatamento da Amazônia.

A tecnologia por trás do Hub
Para os entusiastas de tecnologia de plantão, temos alguns detalhes interessantes sobre o Hub. A internet atualmente utiliza sinal de rádio da RealNet, mas a transição para a Starlink, a internet via satélite de maior velocidade, já foi iniciada, com os jornalistas que visitavam o local tendo a oportunidade de testá-la durante a visita.

O conjunto de computadores usados é composto em sua maioria dos notebooks Dell Latitude 14 Rugged, modelo especial com corpo espesso e certificação militar de resistência preparado para ambientes extremos, algo importante para os agentes ambientais, mas o gerenciamento e o restante das máquinas utiliza o Dell Wyse, um servidor local de baixo consumo melhor dimensionado para a energia solar.

O Hub é estabelecido em um contêiner de navio feito em aço — essencial para resistir às temperaturas e características ambientais da floresta —, mas possui toques pessoais dos moradores. As salas são construídas em madeira e a decoração foi feita por um grafiteiro profissional, mas possui uma área pintada pela população, outros dois símbolos do engajamento da comunidade.

O futuro do “Solar” no Brasil

O impacto do Solar Community Hub de Boa Esperança é grandioso o suficiente para ter atraído o interesse das outras 11 comunidades que compõem a região, mas ainda é muito complicado para algumas delas terem acesso aos recursos da central de conectividade. Mesmo utilizando uma lancha de alta velocidade, certas localidades levam seis horas para serem acessadas, o que torna inviável a ida e volta frequente dos moradores.

Dell, Intel, Computer Aid e a Fundação Amazônia Sustentável (FAS), principal ONG de proteção da floresta amazônica responsável por praticamente todas as iniciativas implantadas na área, estão cientes dessas limitações e discutem a implantação de novos Solar Hub. Mais importante, estudos para levar o projeto para outras áreas isoladas do país também estão sendo feitos.

O saldo da visita é extremamente positivo e transformador. Presenciar o engajamento dos moradores e o interessente de gigantes da tecnologia em dar voz e melhorar a qualidade de vida de populações isoladas é animador. A torcida agora é para que mais iniciativas como essa se espalhem pelo Brasil e pelo mundo, e para que mais companhias invistam em maior acessibilidade e proteção ambiental.

Fonte: Canal Tech

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