sexta-feira,22 novembro, 2024

Da domesticação à sustentabilidade: Cinco décadas de pesquisa agropecuária na construção de tecnologias sustentáveis na Amazônia Paraense

Para isso, o centro de pesquisa investe na chamada bioeconomia, consolidando o trabalho com novas cultivares de frutos típicos da Amazônia, que permitem a produção anual, em vez de somente durante sua sazonalidade.

Nos 50 anos da Embrapa, o centro de pesquisa de Belém (PA) destaca seus mais recentes lançamentos: o KIT Clonal de cupuaçu, lançado em 2022, com as BRS Careca, BRS Fartura, BRS Duquesa, BRS Curinga e BRS Golias. Práticas como a substituição de copa por enxertia e demais tratos culturais, completam um pacote tecnológico com potencial de elevar a  produtividade média do Pará, de 2,5 t/ha para 14 toneladas (t) de frutos por hectare. 

São 30 anos de pesquisa com o cupuaçu, com oferta de novas cultivares mais resistentes à vassoura-de-bruxa a partir de 2002, por meio das BRS Belém, BRS Coari, BRS Codajás, BRS Manacapuru e a BRS Carimbó, em 2012.

A ciência também entregou à sociedade, as cultivares de açaí BRS Pará (2004) e BRS Pai D’Égua (2019), que pode tirar o fruto, um dos produtos mais importantes da biodiversidade amazônica, da sazonalidade para uma produção mais racional e assertiva o ano inteiro.

A pesquisa em melhoramento genético entregou em 2023 quatro novas cultivares de feijão-caupi. As BRS Bené (grãos marrons), BRS Guirá (grãos pretos), BRS Utinga (grãos brancos) e BRS Natalina (tipo “manteiguinha”) têm potencial produtivo superior às tradicionais atualmente cultivadas no estado do Pará e porte ereto e semi-ereto, facilitando tanto a colheita manual quanto mecanizada.

Estudos sobre clima, solo, ordenamento territorial, aliado à domesticação das espécies nativas, e de adaptação de outras culturas à região, traçam uma linha do tempo que desembocam na certeza científica de que não é necessário desmatar mais uma única árvore para o aumento exponencial da oferta de alimentos, assim como focar o desenvolvimento de tecnologias a partir da sociobioverdidade amazônica e para as populações locais. “Não precisamos mais desmatar para desenvolver e temos tecnologias para reflorestar as áreas de passivo ambiental, de forma produtiva, seja em alternativa de renda, como em prestação de serviços ambientais”, afirma o chefe-geral Walkymário Lemos.

Um dos exemplos da produtividade aliada à conservação ambiental é a produção de dendê em sistemas agroflorestais. Estudo recente, entregue em 2021, comprova que essa modelagem neutraliza emissões de gases de efeito estufa e há fortes indícios de que ainda capturam carbono, uma prática lucrativa e amigável quanto às mudanças climáticas e serviços ambientais.

84 anos de pesquisa na Amazônia

A Embrapa completou 50 anos em 2023, mas a pesquisa agropecuária na Amazônia paraense trilha essa trajetória da ciência na busca do desenvolvimento regional há mais tempo, pois herda a missão do Instituto Agronômico do Norte (IAN), que completou 84 anos no dia 06 de maio de 2023.

Desde o seu primeiro diretor, Felisberto Cardoso de Camargo (1896-1977), trazido dos quadros do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), egresso da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalc), até o atual chefe-geral, Walkymário de Paulo Lemos, já se passaram 23 dirigentes, incluindo os interinos.

A história, quando da transformação do IAN em Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Úmido (Cpatu), em 23/01/1975, já sob a égide da Embrapa, ao nome síntese Embrapa Amazônia Oriental, cunhado em 01/03/1991, revela que os maiores desafios, com base na conjuntura daquelas décadas, eram desvendar a Amazônia, domesticar espécies nativas e adaptar à região culturas agrícolas para o fornecimento de alimentos à população local, e posteriormente, ao Brasil e ao mundo.

Nos anos 70 ainda imperava a abertura de áreas de floresta para a consolidação dos assentamentos humanos incentivados por ações governamentais, como as do presidente Emílio Médici que proclamou a Amazônia “uma terra sem homens para homens sem terra”.

Alfredo Homma, doutor em economia rural e pesquisador da Embrapa há 49 anos, história que um dos mais importantes legados da atuação do IAN e de suas sucessoras, foi e continua sendo, a ampliação do conhecimento científico acerca dos recursos naturais da região, destacando-se pesquisas sobre solos, clima, vegetação e criações, e mais recentemente, das inter-relações climáticas vinculadas ao aquecimento global e seus impactos em sistemas agropecuários, assim como de inteligência e ordenamento territorial. “Um testemunho físico dessas entregas relevantes do IAN pode ser constatado na coleção de 192 mil exsicatas da flora amazônica acumuladas no seu Herbário, que não por acaso, tem como nome IAN, iniciado em 1943, e é um dos mais importantes do país”, destaca o pesquisador.

Homma enfatiza que o centro de pesquisa contribuiu sobremaneira para o processo de domesticação de diversas espécies extrativas, como seringueira, guaranazeiro, castanheira-do-pará, cupuaçuzeiro, pupunheira, pimenta longa, açaizeiro, malva, jambu, melíponas e peixes. Outras espécies extrativas de importância econômica, como bacurizeiro, uxizeiro, ipecacuanha e curauá, tiveram sua domesticação iniciada, assim como práticas agropecuárias, tais como manejo de mínimo impacto de açaizais nativos e o manejo de bacurizais nativos, consolidadas. “Essa oferta tecnológica amplia as possibilidades para além do extrativismo, com destaque para o açaizeiro e a madeira, a partir de produtos de melhor qualidade e criação de novas alternativas de renda e emprego, atualmente tão valorizados nas discussões sobre bioeconomia amazônica”, sintetiza o pesquisador.

A pesquisa de décadas é o alicerce para soluções tecnológicas sustentáveis 

Bioeconomia e sustentabilidade são conceitos imperativos ao pensar a pesquisa agropecuária da atualidade, mas as bases para sua efetivação no atual ecossistema de inovação, advém no conhecimento construído ao longo dos anos, conforme explica  Walkymário Lemos.

O gestor define que essa sustentabilidade deve ter como prioridade também as pessoas e essa importância direciona os desafios de presente e futuro da pesquisa na região. “A missão mais urgente é seguir fornecendo ferramentas e estratégias para transformar toda essa riqueza biológica em riqueza econômica e com inclusão social”, enfatiza. 

O gestor comenta que em resposta às demandas de domesticação, no caso das frutas amazônicas, a ciência entregou à sociedade, as cultivares de açaí BRS Pará (2004) e BRS Pai D’Égua (2019), garantindo produção para o ano inteiro. O manejo de mínimo impacto para os açaizais nativos, por outro lado, equaciona a necessidade de preservação das florestas de várzeas, segurança alimentar das populações ribeirinhas e renda, com o aumento da produtividade e ofertas de outras espécies de valor econômico.

A banana, embora não seja nativa da região, tem forte impacto na economia e produção local, e para essa cultura há entregas importantes como a cultivar BRS Pacouá, com boa resistência ao despencamento dos frutos, doenças e pragas e a tecnologia social Bingo Banana, sendo um incentivo ao cultivo de bananeira no Pará.

A pesquisa traçou um raio-x da Amazônia paraense, por baixo e por cima, no qual se conhece a riqueza e peculiaridades do solo, a exemplo do Mapa de Solos do Pará, e a complexidade de sua ocupação, com os estudos de sensoriamento remoto, por meio dos Zoneamentos Ecológico-Econômicos (ZEE), Terra Class, entre outros, que demonstram a expansão histórica, as práticas nas propriedades agrícolas e transições de uso da terra. Mas em se tratando da Amazônia, os povos que ocupam o território e o respeito à sua cultura e vocações, não podem ficar de fora dessa equação, na oferta de tecnologias sustentáveis.

Um exemplo síntese de tecnologia sustentável, preconizada como o modelo mais adequado à agricultura familiar na região e que traz consigo, o respeito e aprendizado com os povos locais, e toda a linha do tempo da pesquisa e resultados, são os Sistemas Agroflorestais (SAFs), defende o chefe-geral Walkymário Lemos.

Ele exemplifica que o SAF nasce no Pará, da observação da riqueza e diversidade de árvores de potencial econômico nos quintais dos ribeirinhos, inicialmente, feita pelos imigrantes japoneses, a qual se uniu à pesquisa para gerar sistemas integrados que garantem ao produtor familiar renda e segurança alimentar. Por imitar a floresta, o SAF reduz o uso de insumos, resultando em menos custos ao produtor e prestação de serviços ambientais. “Os SAFs de Tomé-Açu (PA) são reconhecidos internacionalmente e o cacau desse modelo de produção conquistou o selo de indicação geográfica, único no Pará para esse fruto”, comemora o chefe-geral. 

Um estudo pioneiro, inédito, entregue em 2021, demonstra como resultado de 12 anos de pesquisa, que o SAF, quando aliado a outra cultura de muitas entregas no Pará, o dendê, é capaz de proporcionar alta produtividade para essa espécie até então destinada quase que exclusivamente ao monocultivo. “Dendê em sistemas agroflorestais é produtivo, lucrativo e gera serviços ambientais”, afirma Lemos. O gestor enfatiza que a pesquisa comprova que essa modelagem neutraliza emissões de gases de efeito estufa e há fortes indícios de que ainda capturam carbono, uma prática lucrativa e amigável quanto à mudanças climáticas e serviços ambientais. 

Desafios de um centro de pesquisa ecorregional

Por ser um centro ecorregional em um estado de dimensões e complexidades continentais, a Embrapa Amazônia Oriental desenvolve tecnologias sustentáveis para as mais diversas cadeias produtivas.

A domesticação das espécies se dá também com abelhas nativas. Estudos com meliponicultura oferecem sistemas de criação e manejo, caixas de criação mais eficientes, assim como a interação desses insetos para aumento de produtividade de açaizais e SAFs. Chips implantados nas abelhas as monitoram e criamos a plataforma InfobeeBR, um espaço que reúne serviços e informações tecnológicas, econômicas e de mercado.

A pecuária bovina está cada vez mais sustentável e profissional. O Pará possui o segundo maior rebanho do país e a Embrapa fornece tecnologias em sanidade, sistemas de criação, além alimentação, com adaptação e lançamento de forrageiras mais eficientes, assim como, é referência em pastagem, com estudos de recuperação e manejo de pastos, um dos grandes gargalos do setor. 

Na pecuária bubalina, a qual o Pará é o maior produtor nacional, estudos e práticas atuam no melhoramento genético dos animais e boas práticas nutricionais e reprodutivas.

Ainda na área animal, a piscicultura urge com a demanda crescente de pescados e a ciência oferta à sociedade desde os sistemas de criação, manuais para alimentação e produtividade, até produtos de agroindústria, como a conserva de filé de pirarucu, o peixe gigante da Amazônia.

E por falar com agroindústria, esse setor gera produtos-chave na transformação de bioprodutos e bioinsumos como ativos da bioeconomia, renda e desenvolvimento. Entre os produtos destacam-se o guaraná e o tucupi em pó, blends, lácteos, doces, farinhas e barrinhas de cerais, com frutos e tubérculos amazônicos e o cupulate, similar ao chocolate, mas feito com cupuaçu.

Modelos de Agricultura Sem Queima, outra mazela que ainda assusta a região, são pioneiros, assim como a transição ecológica paras as diversas cadeias produtivas, seja para agricultura familiar ou empresariais.

O Sistema Bragantino e o Trio da Produtividade fornecem a produção familiar, ferramentas para maior produtividade e recuperação de solo, com técnicas de cultivo, em rotação e consórcio, das culturas de milho ou arroz, de mandioca e feijão-caupi, no Sistema Plantio Direto.

Sistemas Integrados tendo os grãos como componentes, estimulam a cadeia de geradores de commodities e o desenvolvimento regional, e o centro de pesquisa atua com a adaptação de práticas sustentáveis, tais como Sistema Plantio Direto e Integração Lavoura-Pecuária-Floresta ILPF). 

O setor florestal também acumula tecnologias e apoio à formulação de políticas públicas, com destaque para boas práticas em manejo florestal comunitário, e os softwares BOManejo – Planejamento da Colheita e Controle da Produção Florestal, MFT – Monitoramento de Florestas Tropicais, MEOF – Monitoramento Econômico de Operações Florestais e MOP – Monitoramento da Perfomance das Operações Florestais. Para silvicultura, setor com enorme potencial, ofertam-se estudos de espécies para cultivo e enriquecimento de clareiras com tachi e paricá, entre outros.

Outra cultura importante e para a qual a Embrapa do Pará é referência é a pipericultura. Além de soluções para controle de doenças e pragas, melhoramento genético da pimenteira-do-reino desde os estudos pioneiros advindos do Instituto Agronômico do Norte (IAN). Duas cultivares foram desenvolvidas a partir das pesquisas com melhoramento genético no Brasil: a Bragantina BR-01 e a Guajarina BR-02, que são amplamente cultivadas no país e apresentam boa resposta quanto a crescimento e produção, além de apresentarem diferentes níveis de tolerância à fusariose.

A preocupação com práticas sustentáveis, levou ao desenvolvimento do um novo sistema de cultivo que usa a árvore leguminosa gliricídia como tutor vivo para substituir as estacas de madeira como suporte para o crescimento da pimenteira-do-reino. 

Fonte: Embrapa Amazônia Oriental

Para isso, o centro de pesquisa investe na chamada bioeconomia, consolidando o trabalho com novas cultivares de frutos típicos da Amazônia, que permitem a produção anual, em vez de somente durante sua sazonalidade.

Nos 50 anos da Embrapa, o centro de pesquisa de Belém (PA) destaca seus mais recentes lançamentos: o KIT Clonal de cupuaçu, lançado em 2022, com as BRS Careca, BRS Fartura, BRS Duquesa, BRS Curinga e BRS Golias. Práticas como a substituição de copa por enxertia e demais tratos culturais, completam um pacote tecnológico com potencial de elevar a  produtividade média do Pará, de 2,5 t/ha para 14 toneladas (t) de frutos por hectare. 

São 30 anos de pesquisa com o cupuaçu, com oferta de novas cultivares mais resistentes à vassoura-de-bruxa a partir de 2002, por meio das BRS Belém, BRS Coari, BRS Codajás, BRS Manacapuru e a BRS Carimbó, em 2012.

A ciência também entregou à sociedade, as cultivares de açaí BRS Pará (2004) e BRS Pai D’Égua (2019), que pode tirar o fruto, um dos produtos mais importantes da biodiversidade amazônica, da sazonalidade para uma produção mais racional e assertiva o ano inteiro.

A pesquisa em melhoramento genético entregou em 2023 quatro novas cultivares de feijão-caupi. As BRS Bené (grãos marrons), BRS Guirá (grãos pretos), BRS Utinga (grãos brancos) e BRS Natalina (tipo “manteiguinha”) têm potencial produtivo superior às tradicionais atualmente cultivadas no estado do Pará e porte ereto e semi-ereto, facilitando tanto a colheita manual quanto mecanizada.

Estudos sobre clima, solo, ordenamento territorial, aliado à domesticação das espécies nativas, e de adaptação de outras culturas à região, traçam uma linha do tempo que desembocam na certeza científica de que não é necessário desmatar mais uma única árvore para o aumento exponencial da oferta de alimentos, assim como focar o desenvolvimento de tecnologias a partir da sociobioverdidade amazônica e para as populações locais. “Não precisamos mais desmatar para desenvolver e temos tecnologias para reflorestar as áreas de passivo ambiental, de forma produtiva, seja em alternativa de renda, como em prestação de serviços ambientais”, afirma o chefe-geral Walkymário Lemos.

Um dos exemplos da produtividade aliada à conservação ambiental é a produção de dendê em sistemas agroflorestais. Estudo recente, entregue em 2021, comprova que essa modelagem neutraliza emissões de gases de efeito estufa e há fortes indícios de que ainda capturam carbono, uma prática lucrativa e amigável quanto às mudanças climáticas e serviços ambientais.

84 anos de pesquisa na Amazônia

A Embrapa completou 50 anos em 2023, mas a pesquisa agropecuária na Amazônia paraense trilha essa trajetória da ciência na busca do desenvolvimento regional há mais tempo, pois herda a missão do Instituto Agronômico do Norte (IAN), que completou 84 anos no dia 06 de maio de 2023.

Desde o seu primeiro diretor, Felisberto Cardoso de Camargo (1896-1977), trazido dos quadros do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), egresso da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalc), até o atual chefe-geral, Walkymário de Paulo Lemos, já se passaram 23 dirigentes, incluindo os interinos.

A história, quando da transformação do IAN em Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Úmido (Cpatu), em 23/01/1975, já sob a égide da Embrapa, ao nome síntese Embrapa Amazônia Oriental, cunhado em 01/03/1991, revela que os maiores desafios, com base na conjuntura daquelas décadas, eram desvendar a Amazônia, domesticar espécies nativas e adaptar à região culturas agrícolas para o fornecimento de alimentos à população local, e posteriormente, ao Brasil e ao mundo.

Nos anos 70 ainda imperava a abertura de áreas de floresta para a consolidação dos assentamentos humanos incentivados por ações governamentais, como as do presidente Emílio Médici que proclamou a Amazônia “uma terra sem homens para homens sem terra”.

Alfredo Homma, doutor em economia rural e pesquisador da Embrapa há 49 anos, história que um dos mais importantes legados da atuação do IAN e de suas sucessoras, foi e continua sendo, a ampliação do conhecimento científico acerca dos recursos naturais da região, destacando-se pesquisas sobre solos, clima, vegetação e criações, e mais recentemente, das inter-relações climáticas vinculadas ao aquecimento global e seus impactos em sistemas agropecuários, assim como de inteligência e ordenamento territorial. “Um testemunho físico dessas entregas relevantes do IAN pode ser constatado na coleção de 192 mil exsicatas da flora amazônica acumuladas no seu Herbário, que não por acaso, tem como nome IAN, iniciado em 1943, e é um dos mais importantes do país”, destaca o pesquisador.

Homma enfatiza que o centro de pesquisa contribuiu sobremaneira para o processo de domesticação de diversas espécies extrativas, como seringueira, guaranazeiro, castanheira-do-pará, cupuaçuzeiro, pupunheira, pimenta longa, açaizeiro, malva, jambu, melíponas e peixes. Outras espécies extrativas de importância econômica, como bacurizeiro, uxizeiro, ipecacuanha e curauá, tiveram sua domesticação iniciada, assim como práticas agropecuárias, tais como manejo de mínimo impacto de açaizais nativos e o manejo de bacurizais nativos, consolidadas. “Essa oferta tecnológica amplia as possibilidades para além do extrativismo, com destaque para o açaizeiro e a madeira, a partir de produtos de melhor qualidade e criação de novas alternativas de renda e emprego, atualmente tão valorizados nas discussões sobre bioeconomia amazônica”, sintetiza o pesquisador.

A pesquisa de décadas é o alicerce para soluções tecnológicas sustentáveis 

Bioeconomia e sustentabilidade são conceitos imperativos ao pensar a pesquisa agropecuária da atualidade, mas as bases para sua efetivação no atual ecossistema de inovação, advém no conhecimento construído ao longo dos anos, conforme explica  Walkymário Lemos.

O gestor define que essa sustentabilidade deve ter como prioridade também as pessoas e essa importância direciona os desafios de presente e futuro da pesquisa na região. “A missão mais urgente é seguir fornecendo ferramentas e estratégias para transformar toda essa riqueza biológica em riqueza econômica e com inclusão social”, enfatiza. 

O gestor comenta que em resposta às demandas de domesticação, no caso das frutas amazônicas, a ciência entregou à sociedade, as cultivares de açaí BRS Pará (2004) e BRS Pai D’Égua (2019), garantindo produção para o ano inteiro. O manejo de mínimo impacto para os açaizais nativos, por outro lado, equaciona a necessidade de preservação das florestas de várzeas, segurança alimentar das populações ribeirinhas e renda, com o aumento da produtividade e ofertas de outras espécies de valor econômico.

A banana, embora não seja nativa da região, tem forte impacto na economia e produção local, e para essa cultura há entregas importantes como a cultivar BRS Pacouá, com boa resistência ao despencamento dos frutos, doenças e pragas e a tecnologia social Bingo Banana, sendo um incentivo ao cultivo de bananeira no Pará.

A pesquisa traçou um raio-x da Amazônia paraense, por baixo e por cima, no qual se conhece a riqueza e peculiaridades do solo, a exemplo do Mapa de Solos do Pará, e a complexidade de sua ocupação, com os estudos de sensoriamento remoto, por meio dos Zoneamentos Ecológico-Econômicos (ZEE), Terra Class, entre outros, que demonstram a expansão histórica, as práticas nas propriedades agrícolas e transições de uso da terra. Mas em se tratando da Amazônia, os povos que ocupam o território e o respeito à sua cultura e vocações, não podem ficar de fora dessa equação, na oferta de tecnologias sustentáveis.

Um exemplo síntese de tecnologia sustentável, preconizada como o modelo mais adequado à agricultura familiar na região e que traz consigo, o respeito e aprendizado com os povos locais, e toda a linha do tempo da pesquisa e resultados, são os Sistemas Agroflorestais (SAFs), defende o chefe-geral Walkymário Lemos.

Ele exemplifica que o SAF nasce no Pará, da observação da riqueza e diversidade de árvores de potencial econômico nos quintais dos ribeirinhos, inicialmente, feita pelos imigrantes japoneses, a qual se uniu à pesquisa para gerar sistemas integrados que garantem ao produtor familiar renda e segurança alimentar. Por imitar a floresta, o SAF reduz o uso de insumos, resultando em menos custos ao produtor e prestação de serviços ambientais. “Os SAFs de Tomé-Açu (PA) são reconhecidos internacionalmente e o cacau desse modelo de produção conquistou o selo de indicação geográfica, único no Pará para esse fruto”, comemora o chefe-geral. 

Um estudo pioneiro, inédito, entregue em 2021, demonstra como resultado de 12 anos de pesquisa, que o SAF, quando aliado a outra cultura de muitas entregas no Pará, o dendê, é capaz de proporcionar alta produtividade para essa espécie até então destinada quase que exclusivamente ao monocultivo. “Dendê em sistemas agroflorestais é produtivo, lucrativo e gera serviços ambientais”, afirma Lemos. O gestor enfatiza que a pesquisa comprova que essa modelagem neutraliza emissões de gases de efeito estufa e há fortes indícios de que ainda capturam carbono, uma prática lucrativa e amigável quanto à mudanças climáticas e serviços ambientais. 

Desafios de um centro de pesquisa ecorregional

Por ser um centro ecorregional em um estado de dimensões e complexidades continentais, a Embrapa Amazônia Oriental desenvolve tecnologias sustentáveis para as mais diversas cadeias produtivas.

A domesticação das espécies se dá também com abelhas nativas. Estudos com meliponicultura oferecem sistemas de criação e manejo, caixas de criação mais eficientes, assim como a interação desses insetos para aumento de produtividade de açaizais e SAFs. Chips implantados nas abelhas as monitoram e criamos a plataforma InfobeeBR, um espaço que reúne serviços e informações tecnológicas, econômicas e de mercado.

A pecuária bovina está cada vez mais sustentável e profissional. O Pará possui o segundo maior rebanho do país e a Embrapa fornece tecnologias em sanidade, sistemas de criação, além alimentação, com adaptação e lançamento de forrageiras mais eficientes, assim como, é referência em pastagem, com estudos de recuperação e manejo de pastos, um dos grandes gargalos do setor. 

Na pecuária bubalina, a qual o Pará é o maior produtor nacional, estudos e práticas atuam no melhoramento genético dos animais e boas práticas nutricionais e reprodutivas.

Ainda na área animal, a piscicultura urge com a demanda crescente de pescados e a ciência oferta à sociedade desde os sistemas de criação, manuais para alimentação e produtividade, até produtos de agroindústria, como a conserva de filé de pirarucu, o peixe gigante da Amazônia.

E por falar com agroindústria, esse setor gera produtos-chave na transformação de bioprodutos e bioinsumos como ativos da bioeconomia, renda e desenvolvimento. Entre os produtos destacam-se o guaraná e o tucupi em pó, blends, lácteos, doces, farinhas e barrinhas de cerais, com frutos e tubérculos amazônicos e o cupulate, similar ao chocolate, mas feito com cupuaçu.

Modelos de Agricultura Sem Queima, outra mazela que ainda assusta a região, são pioneiros, assim como a transição ecológica paras as diversas cadeias produtivas, seja para agricultura familiar ou empresariais.

O Sistema Bragantino e o Trio da Produtividade fornecem a produção familiar, ferramentas para maior produtividade e recuperação de solo, com técnicas de cultivo, em rotação e consórcio, das culturas de milho ou arroz, de mandioca e feijão-caupi, no Sistema Plantio Direto.

Sistemas Integrados tendo os grãos como componentes, estimulam a cadeia de geradores de commodities e o desenvolvimento regional, e o centro de pesquisa atua com a adaptação de práticas sustentáveis, tais como Sistema Plantio Direto e Integração Lavoura-Pecuária-Floresta ILPF). 

O setor florestal também acumula tecnologias e apoio à formulação de políticas públicas, com destaque para boas práticas em manejo florestal comunitário, e os softwares BOManejo – Planejamento da Colheita e Controle da Produção Florestal, MFT – Monitoramento de Florestas Tropicais, MEOF – Monitoramento Econômico de Operações Florestais e MOP – Monitoramento da Perfomance das Operações Florestais. Para silvicultura, setor com enorme potencial, ofertam-se estudos de espécies para cultivo e enriquecimento de clareiras com tachi e paricá, entre outros.

Outra cultura importante e para a qual a Embrapa do Pará é referência é a pipericultura. Além de soluções para controle de doenças e pragas, melhoramento genético da pimenteira-do-reino desde os estudos pioneiros advindos do Instituto Agronômico do Norte (IAN). Duas cultivares foram desenvolvidas a partir das pesquisas com melhoramento genético no Brasil: a Bragantina BR-01 e a Guajarina BR-02, que são amplamente cultivadas no país e apresentam boa resposta quanto a crescimento e produção, além de apresentarem diferentes níveis de tolerância à fusariose.

A preocupação com práticas sustentáveis, levou ao desenvolvimento do um novo sistema de cultivo que usa a árvore leguminosa gliricídia como tutor vivo para substituir as estacas de madeira como suporte para o crescimento da pimenteira-do-reino. 

Fonte: Embrapa Amazônia Oriental

Redação
Redaçãohttp://www.360news.com.br
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