sexta-feira,22 novembro, 2024

Tecnologia 3D é usada para recuperar peças indígenas

A digitalização de peças arqueológicas vem permitindo que ceramistas do Pará produzam trabalhos em sintonia com a arte de antigas comunidades indígenas brasileiras. Um acervo em 3D – produzido por um estúdio belga – está disponível para consulta no Museu  Emílio Goeldi, em Belém. Ao mesmo tempo, um projeto busca reproduzir, através de uma impressora 3D, peças ancestrais.

O acervo está reunido na plataforma Atlas of Lost Finds, do estúdio belga de design Unfold, especializado na criação digital e impressão de peças em cerâmica. Inicialmente, estava voltado para a reunião de objetos do Museu Nacional e tinham sido escaneados ao longo de 20 anos antes do incêndio de 2018. Posteriormente, passaram a incluir no acervo imagens 3D de peças cerâmicas ancestrais da cultura marajoara que estão dispersas pelo mundo.

Colaboradora do trabalho, a artista visual Anita Ekman considera que a digitalização 3D possibilita um repatriamento simbólico. Segundo ela, há parcerias com diferentes museus onde se encontram as coleções, tais como o Peabody Museum de Harvard, o Museu do Quai Branly, da França, e o Museu Etnológico de Berlim, além de oito museus brasileiros, como o Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (USP).

Patrimônio material

“O repatriamento deste patrimônio de povos indígenas, que está disperso pelo mundo, ainda não se transformou em uma pauta. Ainda não foi feito nenhum pedido oficial. A ideia do projeto é saber onde estão e como ele está sendo tratado e exibido. Mais do que recuperar o patrimônio material, precisamos compreender e ressignificar o sentido desse patrimônio arqueológico a partir da visão e da salvaguarda do patrimônio imaterial das comunidades, dos povos da floresta”, explicou Anita.

Para ela, as peças poderão ser recriadas através do projeto Replicando o Passado, desenvolvido pelo Museu Emílio Goeldi, considerado o maior museu amazônico com coleções arqueológicas.

A iniciativa é desenvolvida em parceria com o Atelier Mangue Marajó. “Os ceramistas da região vão ao museu visualizar e estudar essas digitalizações em 3D e replicar as peças. Estamos chamando de rematriamento, ou seja, voltar para a mãe terra, voltar à origem” explicou.

Um exemplo desse trabalho é a Urna de Berlim, uma urna marajoara em formato de mulher grávida, que se encontra no Museu Etnológico de Berlim, e foi reproduzida por ceramistas do projeto.

A tecnologia também pode ser usada na reprodução de peças. No último fim de semana, Anita Ekman foi uma das curadoras da mostra Ore ypy rã-Tempo de Origem, realizada no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM).

Na ocasião, usou-se uma impressora 3D criada para trabalhar com argila. Desenvolvida pelo artista Chico Simões, o equipamento utiliza tecnologia brasileira de software livre. “Para esse projeto adaptei uma impressora de sete anos para uma impressora 3D que pudesse trabalhar com argila”, explicou.

Museu Nacional

Aos olhos do público, foi replicada uma urna marajoara perdida no incêndio do Museu Nacional. A recriação ocorreu em uma escala menor, 50% do original. A peça é uma urna funerária encontrada na Ilha do Marajó, no Pará, e data de 1.400 a 400 AC (antes de Cristo). Chico permaneceu ao lado de seu invento durante todo o processo. “É um trabalho demorado. Acreditávamos que conseguiríamos fazer tudo em um dia. Mas, para que saísse da maneira que pretendíamos, fizemos a primeira parte na sexta-feira e o restante no sábado”, explicou.

A mostra Ore ypy rã-Tempo de Origem é um desdobramento do mapeamento de artefatos arqueológicos de indígenas do Brasil espalhados em museus dos Estados Unidos e da Europa. É um trabalho desenvolvido desde 2021 por Sandra Benites (Guarani Nhadeva), que assinou a curadoria do evento ao lado de Anita Ekman.

Sua pesquisa resultou no mapeamento, com o auxílio da arqueóloga Cristiana Barreto, especialista em coleções marajoaras, de urnas funerárias da Ilha de Marajó e de zoólitos sambaquis (artefatos esculpidos em pedra) provenientes de Santa Catarina, espalhadas em mais de 20 instituições pelo mundo.

Por: Francisco Eduardo Ferreira – estagiário da Agência Brasil * – Rio de Janeiro

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